Cheguei a Erechim no começo de 2010. Estava ansioso com a aprovação em concurso público para o cargo de Professor da área de Fundamentos da Educação. Estava vindo trabalhar em uma nova universidade e passaria a morar em uma nova cidade. A primeira impressão de Erechim foi excelente: cidade organizada, limpa, com muitos prédios novos, enfim, um lugar bonito que passava a ser a minha casa.
Em Erechim, passei a ser professor universitário de carreira e me engajei na construção da nossa Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Lembro da chegada dos(as) colegas, das primeiras aulas e dos atos de celebração da instalação do Campus na cidade. Passava a fazer parte de um projeto importante, que foi sonhado e batalhado por muitos movimentos sociais e cidadãos e cidadãs da região do Alto Uruguai, contando com a decisão governamental de expandir as universidades públicas pelo interior do país.
Em meio à alegria e à responsabilidade de construir uma universidade pública federal, notei que a UFFS não era consenso em nossa comunidade. Confesso que isso me causou um grande estranhamento, pois uma universidade pública e gratuita é uma conquista e tanto para uma cidade. Logo percebi que a nossa universidade passou a ser identificada como uma “intrusa” por alguns e algumas. Igualmente, algumas pessoas associavam a universidade ao partido político que estava à frente dos governos de todas as esferas à época. Em outras palavras: a UFFS era a “universidade do PT” e isso, sabemos, oportuniza adesões e oposições.
Mesmo sentindo algumas objeções curiosas à UFFS e a nós servidores(as) de carreira da instituição, investi seriamente no trabalho cotidiano de desenvolvimento da universidade. Construímos cursos de graduação e pós-graduação, projetos de extensão e pesquisa, passamos a ocupar espaços públicos de debate na imprensa local, em conselhos e comitês públicos e, aos poucos, nos integramos à vida da cidade e da região.
Logo passamos a ter as primeiras formaturas e ver nossos(as) ex-alunos(as) indo para a pós-graduação, prestando concursos públicos e se inserindo em empresas. Em 2015, nos mudamos do Seminário Fátima para o Campus na ERS 135. De início, convivemos com um acidente terrível que abalou nossa comunidade universitária e fez as autoridades repensarem o acesso à UFFS pela rodovia. Batalhamos para ter o direito de ter ônibus urbano atendendo ao Campus e fomos dotando o nosso espaço daquilo que se espera de uma universidade: laboratórios, prédios para aulas, auditórios, Restaurante Universitário, áreas experimentais e espaços administrativos.
Além da estrutura física, a UFFS é um lugar de relações humanas e, como tal, sujeita a harmonias e conflitos. Temos pessoas de diversas partes do Brasil, que vieram estudar, trabalhar e viver em Erechim. Isso contribui decisivamente para o desenvolvimento cultural e econômico da nossa cidade. Somos uma comunidade de cerca de 2 mil pessoas. Entre professores(as) e técnicos(as)-administrativos(as), somos cerca de 200 pessoas que consomem no comércio local, compram ou alugam moradias e pagam seus impostos.
A UFFS contribui para a demanda de expansão de nossa rede hoteleira, de restaurantes, cafeterias, bares, livrarias e demais espaços comerciais, de lazer e entretenimento. Nós, servidores(as), pagamos planos de saúde, nos associamos a clubes, enfim, compartilhamos nossos salários e giramos a economia local. Portanto, ao demandarmos serviços públicos de qualquer ordem e termos presença em espaços da cidade, nossa comunidade universitária está apenas ressarcindo parte de seu investimento.
Além da dimensão econômica, outro aspecto tão relevante é a dimensão cultural. Faz muito bem a uma cidade de médio porte como Erechim ter mais diversidade. Novas vozes, outras visões de mundo, novas cores e tons de pele, tipos de cabelo, outras opções sexuais, enfim, uma pluralidade que só enriquece nossa cidade. Os preconceitos e opressões que ainda sofremos e, principalmente alguns e algumas estudantes sofrem, é fruto de uma visão estreita e culturalmente rasa que, pouco a pouco, vai mudar. É inaceitável a violência de qualquer natureza e, diante dela, vamos denunciar, até mesmo para cumprir a função educativa de nossa instituição.
Certamente, não estamos isentos(as) de falhas e podemos ser criticados(as). Temos muito ainda a crescer, mas somos dependentes das políticas de investimento do governo federal. Mesmo em cenário adverso, a UFFS/Erechim oferta nove cursos de graduação, três cursos de mestrado e desenvolve inúmeros projetos de pesquisa, ensino e extensão articulados às demandas regionais. Sediamos eventos científicos de abrangência nacional e internacional, atuamos na formação profissional com seminários e fóruns, trazemos cientistas com produção reconhecida para atividades na cidade, marcamos presença em feiras regionais, feira do livro e somos co-promotores(as) de inúmeras iniciativas culturais.
Pela UFFS Campus Erechim passam os grandes debates contemporâneos. Não temos clientes, mas parceiros(as) para o desenvolvimento humano com ciência e arte. Observo que a relação de cidade com a universidade federal vai se ampliando, ainda que não isenta de tensões. Temos que trabalhar para que essa onda de ataques à liberdade de ensinar e aprender não nos afete tanto, assim como a visão estreita de que uma universidade pública é um problema. Problema é a desigualdade social, a criminalização dos movimentos sociais populares e a indignidade em que vivem mais de 20 milhões de brasileiros(as). Problema é não saber conviver com o diferente.
Por isso, quem ainda não conhece, de fato, a UFFS Campus Erechim, procure mais informações. Não reproduza um preconceito leviano e não faça coro à via contramão da história. Uma universidade federal pública e gratuita é um patrimônio de nossa cidade. Não pertence a um grupo ou a um partido político. Dentro da nossa universidade há muitas tendências políticas. Tem petismo e anti-petismo, tem anarquismo e tem quem nem goste de política. Não é todo mundo que estuda ciências humanas que é de esquerda, assim como tem muita gente nas ciências agrárias que não é conservadora. Tem de tudo! Inclusive, tem um trabalho sério e dedicado que em menos de uma década já coloca a UFFS no cenário científico brasileiro e internacional.
Venha ver o nosso pôr do sol no Campus e participe das atividades – todas gratuitas – promovidas pela instituição. A UFFS é brasileira, é gaúcha, é de Erechim e da região do Alto Uruguai. Portanto, é sua! Para que dividir se a gente pode somar?
Sobre a UFFS Campus Erechim, acesse:
https://www.uffs.edu.br/campi/erechim
https://jornalboavista.com.br/27062018egressos-da-uffs-se-destacam-em-mestrados-e-doutorados
https://jornalboavista.com.br/19102018academicos-da-uffs-sao-premiados-no-parana
https://jornalboavista.com.br/28092018academica-da-uffs-e-premiada-em-conferencia-internacional
https://jornalboavista.com.br/22062018uffs-de-erechim-maioria-do-corpo-docente-com-doutorado
https://jornalboavista.com.br/18062018uffs-promove-debates-sobre-movimento-escola-sem-partido
https://jornalboavista.com.br/20112017palestra-na-uffs-debate-genero-educacao-e-democracia
https://jornalboavista.com.br/30102017pesquisador-boliviano-palestra-na-uffs-nesta-quarta-feira