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Elisa, Olga e Catharina: memórias e saberes das parteiras de Erechim

Uma homenagem às mulheres erechinenses

Toda mulher merece ter sua história contatada por alguém. Afinal, como diz uma frase proferida por Rose, no filme Titanic: “O coração de uma mulher tem segredos profundos como um oceano”. Segredos e histórias que marcaram e marcam a trajetória de milhares de pessoas. Em Erechim não é diferente, e nesta semana tão especial, em que se comemora o Dia da Mulher, o Jornal Boa Vista quer homenagear as primeiras parteiras do município.

Elisa Vacchi, parteira pioneira

Elisa Dal Vesco Vacchi nasceu dia 26 de maio de 1867, na Itália, e veio para Erechim no ano de 1912, quando nesta região ainda havia somente mato. Aqui exerceu a função de doceira e parteira, atendendo também uma pensão familiar. No atualmente, bairro Aldo Arioli, residiu por um período, em uma época em que a mata era tão densa na área que poucos se atreviam entrar. Montou uma tenda de doceira quase no centro da quadra em frente à estação da viação férrea e logo depois mudou-se para onde hoje está à empresa Sponchiado.

Vendia doce no balcão e aos passageiros da estação na chegada do trem. Conhecidos e familiares contam que Elisa era muito bonita, por isso seu marido, Paulo, que era ciumento, mandou fazer buracos atrás do balcão a fim de espiá-la. Todavia, Elisa sempre foi conhecida pela sua pureza, piedade e caridade.

Foi a primeira e única parteira da cidade por um longo tempo. Era a parteira do “povoadinho”, como era chamado o local e as redondezas de onde residia. Atendia dia e noite, chovesse ou não. Elisa aparecia em todas as obras desenvolvidas na cidade, para juntar donativos e organizar festas para igreja, hospital ou qualquer outra entidade que necessitasse de benefícios, todos a convidavam para trabalhar.

Oito filhos, 69 netos e 140 bisnetos

Elisa também foi uma pioneira da religião católica em Erechim. Logo após sua chegada, foi rezada a primeira missa na região, pelo padre Humberto, na casa de Carlos Dalla Costa, onde Elisa residia. Ela então ajudou a construir as duas primeiras capelinhas da cidade, uma delas na Rua Torres Gonçalves e tendo por padroeiro Santo Antônio de Pádua. Auxiliou na campanha para construir a igreja matriz São José e o Hospital de Caridade.

Viveu cercada por seus oito filhos, 69 netos e 140 bisnetos. De coração bondoso, em sua profissão atendia a todos, não visando lucros, pois só pagava-lhe quem podia. Elisa faleceu aos 86 anos e em sua homenagem foi denominada pelo decreto 358/70, na gestão do prefeito Irany Jaime Farina, a Rua Elisa Vacchi, no bairro Santa Catarina. A igreja Asssembleia de Deus Russa e a casa da Delegada de Educação na época, Neide Piran, estão situadas nesta rua.

 

50 anos de profissão e mais de 6000 partos

Olga Sperger nasceu na Áustria, em 1900, e veio ao Brasil em 1913. Após o casamento, foi morar em Quatro Irmãos, onde teve três filhos. Retornou a Alemanha em 1925, onde em Hamburgo, realizou o curso de parteira. Voltando ao Brasil, começou a exercer a profissão e a conduziu com dedicação por mais de 50 anos. Realizou aproximadamente 6000 partos em Erechim.Trouxe ao mundo muitas crianças que se tornaram homens e mulheres, constituíram famílias e contribuíram com seu trabalho para o desenvolvimento da comunidade. Teve uma vida simples, mas cheia de entusiasmo e amor ao seu trabalho. Faleceu em setembro de 1983.

Pedra dentro da meia e café preto para recém nascido

 Catharina Loss Basso, mais conhecida como Cathina, conforme relatos, tinha pais italianos que imigraram para o Brasil e passaram a residir em Alfredo Chaves, atual Veranópolis, onde seu pai atuava como engenheiro. Já casada mudou-se com a família para Erechim com o propósito de montar uma fábrica de salames no bairro Três Vendas. Tempo depois, passou a trabalhar no hospital, localizado onde hoje se encontra o Clube Atlântico. A casa de saúde era grandiosa e em madeira. Cathina chegou a ser proprietária do hospital, adquirindo-o por meio de financiamento. Com o passar dos anos, assumiu o compromisso de cuidar de um neto e se aposentou.Enquanto parteira, seguidamente era avisada sobre mulheres que estavam prestes a dar a luz. Como muitos destes chamados aconteciam à noite, Cathina se armava com uma pedra dentro de uma meia e sempre garantia querosene para a lamparina. Por vezes, caminhava horas até chegar ao local do parto, por isso, andava sempre pelo meio da rua e com a meia em mãos, em caso de perigo, bateria com a meia na cabeça do agressor. Também era dona de um costume um tanto peculiar, assim que o bebê nascia, dava uma colher de café preto para a mãe e para a criança, dizia que era para limpar e purificar. Trabalhou por longa data no Hospital de Caridade e faleceu com 90 anos.

Por Carla Emanuele 

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