Sobrevivente que perdeu irmão na Kiss afirma haver outros responsáveis pelas causas do incêndio, que não apenas os 4 réus

Jéssica Montardo Rosado foi a segunda vítima a depor nesta quinta-feira, no julgamento dos réus pelo incêndio na boate Kiss em Santa Maria. Ela e o irmão, Vinícius, estavam entre amigos na boate. Ao contrário dela, o jovem não conseguiu se salvar. Seu depoimento durou quase 4 horas e meia.

A jovem contou que foi para a frente do palco assistir o show da Gurizada Fandangueira. Ela disse que viu a hora em que o artefato foi acionado e o fogo começou. Houve uma faísca, os músicos pegaram os extintores, tentaram apagar o fogo com garrafas de água, mas sem sucesso. Até que Marcelo colocou o microfone no chão e disse: “sai”.

Ela não lembra detalhes do percurso. Quando saiu, olhou para trás: “Me apavorei! Era muita gente saindo”, disse Jéssica, que ligou para a família, preocupada com o irmão. Lembrou que, no desespero, tentou retornar à Kiss várias vezes para tentar encontrá-lo. “Acho que é o instinto de irmão, de amor, de empatia. Eu queria ter feito mais, mas eu não tive força”, lamentou Jéssica, bastante emocionada.

Vinícius, que tinha 26 anos, não resistiu e faleceu no hospital. O jovem ajudou a salvar outras vítimas (cerca de 15 pessoas, estima a irmã). “O meu irmão era a melhor coisa que eu tinha na minha vida”. Ela descreveu a personalidade do irmão: “Vinícius sempre foi solidário. A gente já tinha ajudado a apagar um incêndio na cidade em que morávamos”, conta. “Meu irmão era um gigante solidário. Ele jamais seria o mesmo se tivesse voltado para a casa e não tivesse ajudado ninguém, vendo a magnitude que foi”. Segundo ela, os bombeiros chegaram a pedir que ele não entrasse na boate.

Mais cinco amigos de Jéssica morreram, além de alguns conhecidos. “Conhecia uma grande parte”. Hoje, ela considera que consegue falar bem sobre o que ocorreu, embora evite lugares fechados e passou a observar as regras de segurança e prevenção.

Ela disse à defesa de Mauro que não tem conhecimento técnico, mas que acredita haver outros responsáveis pelas causas do incêndio na Kiss, que não apenas os 4 réus.

Falou para a defesa de Marcelo que, quando começou o fogo, a situação não parecia tão crítica como realmente acabou sendo. “Não sei explicar como saí, a gente carrega uma culpa por isso. Tudo se encaminhava para a saída. Eu só senti o terror na hora em que apagou as luzes”. Também esclareceu que não lembra se apenas viu o movimento labial de Marcelo dizendo “sai” ou se ouviu isso.

A jovem falou que o pai dela, certa vez, encontrou Luciano e que os dois se abraçaram. Questionada pelo Advogado sobre o que os réus são para ela, respondeu: “Seres humanos”.

Jéssica chegou a passar mal durante o depoimento e foi medicada.

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