Naquele tempo, estando em Curitiba, informado num anfiteatro da FAFIFE o Prof. Maurício Tragtemberg, da FGV/SP, nascido em Quatro Irmãos/RS, PROFERIRIA Palestra sobre Max Weber, lá arribei. Recostado na cátedra, exalando tabaco, profundo conhecimento e chispando alusões à conjuntura nacional dos anos 70, Tragtemberg dardejou: “ A pior ideologia é a dos dizem não ter ideologia.”
A proposta da Escola sem partido emerge do mega projeto do Capital global para sua manutenção imperialista frente à profunda crise (ciclo) inerente ao Sistema, isto é, em graus, épocas e duração variáveis, a crise ocorre e recorre ceifando as massas proletárias e mesmo a pequena e média burguesia.
Todos tem opinião, partido, ideologia que se expressa por palavra, atos, omissões. Por que os van Hattem querem impor uma camisa de força a uma categoria, o professorado? O sistema do capitalismo neoliberal, mormente em estágio imperialista e em situação de crise, tende a impor sua “solução”, isto é, não quer ser questionado, diagnosticado.
A queima de livros na Alemanha nazista é emblemática. O fascismo erigirá seu estandarte, seus símbolos, hinos: Crer, Obedecer, Trabalhar. O chefe será mitificado. Imporá vassalagem. Obterá até juramento. Anestesiada pela tríplice vassalagem, a camada subalterna fornecerá mais-valia, pensamento (?), emoções. Todos somos políticos principalmente quando os Doria, Macrons dizem o contrario. Convém recordar B. Brecht referente ao “idiota político”. Criam-se instituições, normas, paradigmas que implicam sanções terrenas e divinas, póstumas, penhor de salvação ou danação eternas. Multidões acríticas, atemorizadas e dopadas por misticismos, crenças mágicas se deixam embair e embrutecer submetem-se a rituais, catarses patológicas, cristalizam-se em fatalidades como se fora Predestinação de excelsa divindade à qual se imolam. O deus Mercado se traveste em cambiantes camaleões a gestar implacáveis Leviatãs.
Quem sabe também proporemos TV sem partido? Rádio sem Partido? Jornal sem partido? Judiciário sem partido? Partidos sem partido? Igrejas sem partidos? O padre, o rabino, o pastor, o aiatolá sem partido, o fabricante de ilusão, da emoção, da opinião, sem partido? Quem vigiará para que a Escola não tenha partido? Sob quais critérios? Quem chegou ao poder pretende manietar os não chegados para nele se perpetuar imune á qualquer análise, crítica, alternativa, engessando a dialética, em missão impossível e frontalmente anti-constitucional, imoral e hediondamente inestética. “Na eventualidade de envolvimento, questionamentos ou acusações políticas sobre sua atuação pedagógica, os Professores devem invocar a liberdade de Cátedra assegurada pela Constituição Federal ( Artigo 206 – II e III ) e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN ( Artigos 2° e 3° – III e IV )”, adverte Gilson Camargo ( Fonte: EXTRA CLASSE, nº 229, Nov/2018, p.18 ). Que a Dialética areje a Escola, a Ciência, a Arte. O magistério diferente dos soberanos monocráticos da magistratura e/ou do Mercado, sofre (usufruem) da legítima lei maior, das normas escolares, dos colegiados, das Direções (agora não impostas), dos pais, dos alunos, da corporação, da imprensa, da opinião pública. Que outra categoria se queda exposta a tão ampla, variada (e desejada) peneira dialética?
Ao adentrar a Escola o professorado não despe seu modo de ser e de pensar. Óbvio, não deve abusar de sua função (veja acima mecanismos e critérios para definir e coibir eventuais abusos). Não deve esconder seu pensamento, antes estimulá-lo sob o cadinho da contradição e da práxis. Imaginou assim fosse com todos! Escolas, Igrejas, Sindicatos, Jornais, TVs, Redes Sociais….
“Já o projeto de Lei da Escola sem partido cria uma nuvem de fumaça sobre o que importa e foge do xis da questão!”, afirma o jornalista Daniel Barros (Fonte: FSP, 22/11/18, A 3).
“Apenas para ilustrar essa preocupação com a qualidade do novo Congresso, basta dizer que a maioria absoluta dos novos foi eleita por ser liderança evangélica, policial linha-dura, celebridade ou parente de políticos tradicionais . Ademais, foram eleitos alguns expoentes da “nova direita”, cujo único cabedal é terem liderado movimentos antipolítica, negando a validade do próprio sistema político-eleitoral. ”( Fonte: QUEIROZ, Antonio Augusto de O CONGRESSO MAIS CONSERVADOR DOS ÚLTIMOS QUARENTA ANOS. Le Monde Diplomatique Brasil, Nov/2018.p. 12 ).