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Saúde orienta sobre riscos e cuidados com crianças e adolescentes na Era Digital

O uso excessivo da internet por crianças e adolescentes e os riscos a ela associados preocupam pais, educadores e profissionais da saúde. Se por um lado o mundo virtual é uma ferramenta de aprendizagem e socialização para os jovens, de outro, é espaço que os deixa mais vulneráveis a conteúdos inapropriados ou, ainda, reféns da criminalidade on-line. Redes de pedofilia, ciberbullying, assédio e violência sexual, jogos e desafios que induzem à autoagressão e ao óbito por suicídio estão entre os perigos da Era Digital. Com o intuito de alertar a sociedade para esses riscos, neste mês, o Comitê Estadual de Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio divulgou nota de esclarecimento sobre jogos virtuais para os meios de comunicação, familiares e população em geral.

A psicóloga do Núcleo de Vigilância de Doenças e Agravos Não transmissíveis do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, Nathalia Fattah, explica que o suicídio é um fenômeno complexo e multifacetado, que nunca resulta de um único evento, como a reprovação em um exame ou o término de um relacionamento. Ocorre pela interação de diversos fatores, como discriminação, violência, conflitos familiares, transtornos mentais e comportamentais, uso prejudicial de álcool e outras drogas, traços significativos de impulsividade e agressividade. Uma tentativa prévia é o principal fator de risco isolado para uma morte por suicídio. Pais, responsáveis e profissionais envolvidos devem ficar ainda mais atentos quando um jovem apresenta tentativa de suicídio.

Familiares e educadores precisam estar atentos a mudanças no comportamento do jovem, como aumento da ansiedade, isolamento, afastamento da família e de amigos, adesão ao cyberbullying, agressividade, baixo rendimento escolar e transtornos de sono e de alimentação. Esses sinais não devem ser considerados isoladamente, mas chamar a atenção, sobretudo, se muitos desses aspectos se manifestam ao mesmo tempo. Esse comportamento pode esconder uma ideação suicida. Lesões autoprovocadas também apontam para esse risco.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a segunda principal causa de morte em todo mundo para pessoas de 15 a 29 anos de idade e mata mais jovens do que o HIV. No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam que a morte por lesão autoprovocada aumentou em 30% nos últimos anos, na faixa etária de 15 a 19 anos.

Desde junho de 2011, as tentativas de suicídio se tornaram agravos de notificação compulsória e, desde 2014, de notificação imediata nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional. O que indica a necessidade de acionamento imediato da rede de atenção e proteção para a adoção de medidas adequadas a cada caso.

A sensibilização dos profissionais de saúde que atuam na rede de assistência é importante para ampliar e qualificar as notificações. “Assim podemos atuar a partir da realidade do Estado e dos territórios, desenvolver estratégias de prevenção e organizar os fluxos assistenciais”, avalia a psicóloga. Neste ano, o Programa Estadual de Vigilância da Violência Interpessoal e Autoprovocada completa 10 anos. Nesse período, foram realizadas capacitações permanentes em todas as regiões do Estado para trabalhadores e gestores das redes de saúde e intersetorial. Os profissionais de saúde também precisam estar preparados para atuar no acolhimento e na escuta qualificada de usuários com risco de morte por suicídio.

Prevenção

A psiquiatra do Hospital Psiquiátrico São Pedro, Roberta Rossi Grudtner, destaca que o suicídio pode ser evitado em 90% dos casos e, por isso, é altamente prevenível. “As pessoas não querem acabar com a vida, ao contrário, querem alívio do sofrimento. O conteúdo recorrente do pensamento sobre morte, morrer, querer se matar é um sintoma, ou seja, é sinal de grave adoecimento que se reflete em comportamento(s) de risco” afirma Roberta.

Segundo ela, o enfrentamento ao suicídio passa também por uma mudança cultural, pois a morte por lesão autoprovocada ainda é encarada como um tema tabu. “Precisamos avançar ao falar e orientar a população sobre o assunto”, avalia Roberta. Familiares e amigos devem estar atentos ao que escutam, enxergam e sentem e perguntar diretamente ao identificar que alguém está estranho, diferente, inquieto ou assustado. “Pergunte, influencie, aja: isto salva vidas”, esclarece. Se a pessoa está em sofrimento e, nestes casos, correndo risco, sentirá alívio ao saber que pode contar com alguém para buscar ajuda nos serviços de saúde ou atendimento de profissional da área de saúde mental.

“No caso dos jovens, os pais e responsáveis devem controlar a qualidade, intensidade e o tempo de uso da internet. Devem observar se esta criança ou adolescente está exilado no mundo virtual”, alerta a psiquiatra. De acordo com ela, estudos indicam que mais de uma hora por dia de exposição a telas de TV, computador, celular ou outros dispositivos, especialmente depois da 19h, começa a atrapalhar o sono, o desenvolvimento e a memória.

“Antes, os pais tinham a preocupação de orientar os filhos a não conversarem ou brincarem na rua com desconhecidos. A tendência hoje é achar que os filhos estão protegidos em casa. Só que um jovem passar uma tarde sozinho navegando na internet e nas redes sociais e se comunicando com uma pessoa que conhece pelo mundo virtual, mais instantâneo que o real, traz os mesmos riscos. Na verdade, com o fenômeno da internet os perigos da rua também estão presentes no ambiente doméstico, pois a rede é um espaço público e aberto”, avalia. Ressalta que é preciso equilibrar as horas de jogos on-line com o convívio em família e amigos, atividades esportivas, brincadeiras, exercícios ao ar livre ou em contato direto com a natureza.

Ela explica que o computador não pode ser de uso individual para uma criança ou adolescente. Os pais ou responsáveis devem ter a senha de acesso a esses dispositivos. Esclarece que, nesse processo, é fundamental a família manter diálogo com os jovens, orientando e informando sobre os riscos do ambiente virtual. “Só o fato de os pais saberem a senha de acesso dos jovens já os protege e desperta para um uso mais consciente e responsável destas mídias, pois isso pressupõe um diálogo anterior sobre o tema e passa a mensagem: estou aqui para te defender e proteger.”

A especialista afirma que o preconceito e o tabu são barreiras inclusive para o tratamento adequado e também para a solução do problema. “Ao longo da vida, teremos fragilidades específicas e dificuldades importantes, mas temos ferramentas para superarmos esses momentos. É possível unirmos esforços – poder público e sociedade – para assegurarmos uma vida e um desenvolvimento mais protegidos, tranquilos e funcionais nesse processo de transformação de jovens em cidadãos”, conclui a psiquiatra.

Onde buscar ajuda para prevenir o suicídio?

Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde).

UPA 24H, Samu 192, Pronto Socorro, Hospitais.

Centros de Apoio Psicossocial (Caps), uma iniciativa do SUS. De acordo com dados do Ministério da Saúde, onde existe esse serviço o risco de suicídio reduz em até 14%.

Centro de Valorização da Vida – 188 (ligação gratuita).

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