Passei a infância e a juventude na Linha 5, Gaurama. Desde os primeiros anos, meus ouvidos foram acostumados com o despertar da passarada, o apito da Serraria do Barbieri, o mugido das vacas, o barulho do trem, o toque do sino da Igreja Nossa Senhora de Baliza, o motor incansável da trilhadeira, a cascata borbulhante do Gazoni, o crepitar do fogo na roça nova…
Centenas de ruídos que faziam parte de nossas vidas, até a já esquecida reguada que levei merecidamente, isso sem contar os ruídos que levei no lombo, quando meu pai corria bem mais que eu. E quando chovia: descascar milho no paiol no ritmo da chuva, ouvindo o sabiá cantando anunciando a primavera.
Cada local do Universo produz seus ruídos. Sinto falta dos ruídos da infância (nem todos). Ritos e temperos essenciais de nossa sobrevivência. Eles não existem mais. Estou em outra realidade.
Aqui ouço freadas bruscas, buzinas nervosas, altos xingamentos nas ruas, um bêbado gritando angustiado no meio da madrugada (lembrei do cantar do galo…) e assim vamos sobrevivendo nesse frenesi em tom de normalidade. Ainda bem, que ouço de vez em quando (da minha janela), o som de uma banda feliz, tocando no Piscina Clube. Esse ruído aquieta minha alma…
Por Enori Chiaparini