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Escrever é uma ousadia

A comunicação é uma atividade humana essencial à vida em sociedade. Sem ela, não nos educamos e não nos desenvolvemos plenamente como seres culturais. Por isso, há uma relação muito forte entre cultura e educação. Todas as pessoas são sujeitos culturais, não apenas quem é letrado(a) e quem tem diplomas escolares e universitários. Não é possível ser humano(a) sem se expressar culturalmente.

Assim, estamos inaugurando um novo espaço de escrita e reflexões sobre as intensas relações entre educação e cultura. Todos os textos que serão publicados neste espaço do Jornal Boa Vista são parte de um projeto de extensão universitária realizado pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) Campus Erechim. Denominado “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação”, foi aprovado na chamada do Edital nº 287/GR/UFFS/2023 e terá vigência até o mês de março de 2030.

A extensão universitária é um eixo fundamental de atuação da universidade, sendo constituída pela relação e pela troca de saberes entre o meio acadêmico e a sociedade. Uma das finalidades da universidade pública é estar enraizada nos assuntos da comunidade, contribuindo para o desenvolvimento regional. A UFFS é uma instituição presente em Erechim desde 2010, ofertando cursos de graduação e pós-graduação, projetos de pesquisa e de extensão, bem como eventos e atividades culturais diversas.

Nesse sentido, a parceria com uma rádio comunitária e com um jornal voltado aos assuntos da comunidade regional é muito importante para a UFFS, assim como, esperamos que seja positivo à nossa parceira e a quem nos ler. A extensão universitária deve ser uma via de mão dupla, na qual todos e todas crescem. Afinal, a Rádio Cultura é uma emissora comunitária – a “rádio da cidade”. E pelo portal e redes sociais do Jornal Boa Vista passam os principais assuntos de interesse de Erechim e da região do Alto Uruguai.

É nosso objetivo contribuir com conteúdos que aproximem mais a UFFS da nossa comunidade, apresentando novidades, curiosidades, informações e reflexões sobre temas que circulam em nosso cotidiano. Temos, assim, um compromisso com a comunidade, com o entorno, com a vizinhança. Mas isso não deve nos afastar dos grandes debates em esfera estadual, nacional e global. Vivemos tempos de intensas conexões e de indefinições entre os espaços públicos e privados. Um projeto de extensão universitária que se assenta nos processos educacionais e culturais não pode, por isso mesmo, ficar isento de ofertar leituras críticas, provocações e, sobretudo, desassossegos intelectuais.

Dessa forma, escrever é uma ousadia, da mesma forma que, comunicar nos tempos atuais, também é. Estamos imersos(as) na época das Fake News, da desinformação proposital e do tráfego gigantesco e permanente de informações de todos os tipos. Isso nos desafia a comunicar bem, a ser responsável pelo que escrevemos e falamos e a disputar as narrativas que formam e deformam a opinião pública.

O nosso desafio semanal será desenvolver textos que abarquem contextos plurais, dinâmicos e conectados com os interesses da nossa comunidade. Acreditamos, assim como Paulo Freire, que a extensão universitária é, sobretudo, comunicação. Ao dizer e escrever a nossa palavra, assumimos este imenso desafio de estar com as pessoas.

Entre aspas

A alegria de iniciar este projeto está um pouco contida em virtude do cenário trágico que mais de 80% dos municípios do estado do Rio Grande do Sul estão vivendo em virtude de enchentes históricas. A cidade de Erechim é um oásis em meio ao caos humano e material instalado na vida de muitos gaúchos e de muitas gaúchas.

É muito estranho seguir a vida “normal” sabendo que ali ao lado muitas pessoas estão sem nada, chorando mortos(as) e desaparecidos(as). Ainda não sabemos ao certo a dimensão das perdas e teremos um longo período de recuperação daquilo que se pode recuperar. Talvez cidades mudem de lugar, deixem de existir, contudo, o mais importante é acolher a dor alheia e ajudar de algum forma, como muitas pessoas da nossa cidade e região estão fazendo.

Mais do que ações pontuais e emergenciais, vamos precisar avançar em termos de consciência ambiental, nas políticas públicas de prevenção e redução de danos, além do rompimento com a lógica economicista e egoísta do lucro, que transforma a tudo e a todos(as) em mercadorias. Essa é a minha esperança.

 

Thiago Ingrassia Pereira

Professor da UFFS Erechim

Coordenador do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação

 

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