Entre fatos e opiniões: o papel da imprensa livre

Thiago – Foto Carla Emanuele

Já tive a oportunidade de escrever em espaços aqui no Jornal Boa Vista. Diante de um simpático convite, me vejo envolvido com um novo projeto de associar novas, ainda que conhecidas, vozes (letras) a este tradicional veículo de comunicação de Erechim. De certa forma, pelo jornal impresso e site, nossos(as) leitores(as) irão confirmar aquilo que já sabem: o Jornal Boa Vista é um espaço plural do debate de ideias. Nada mal para uma imprensa que se compromete com a democracia do país.

II
Não é possível a neutralidade nas relações humanas. Todos e todas têm as suas posições, suas visões de mundo e se orientam por juízos de valor que são construídos em nossa socialização. Assumindo que não posso ser neutro, reconheço minha responsabilidade com aquilo que escrevo. Vivemos a interessante tensão entre os fatos e acontecimentos e a nossa interpretação sobre eles. Em certo sentido, todo fato narrado é uma reconstituição possível pelo sujeito que narra. Todo texto tem o seu contexto.

III
Escrever é algo incrível, tanto que a imprensa e a publicação de textos em jornais e livros modificaram grandemente a história da humanidade. Ainda é comum termos a escrita como marco divisório entre a história e a pré-história. Escrever, para Stephen King, autor de mais de cinquenta livros best-sellers de suspense e mistério no mundo inteiro, é um exercício de “telepatia”: uma pessoa numa situação de tempo e espaço A escreve algo que será lido por outra pessoa numa situação de tempo e espaço B. Então, daquilo que originou a escrita para o que o(a) leitor(a) captou, temos a “telepatia”, ainda que nesse caminho as ideias possam ser interpretadas de modo diferente. Por isso, quando publicamos algo, tornando público o que brotou de nossa cabeça, não temos mais a “propriedade” sobre o que escrevemos, pelo menos do seu sentido original. E isso é maravilhoso!

IV
Vou procurar escrever sobre temas que envolvem o cotidiano de todos e todas nós. Não tenho a pretensão de fazer um texto acadêmico, ainda que os vícios de meu lugar de escrita não possam ser apagados. Entendo uma coluna de opinião em um jornal como um convite ao debate. Então, se levarmos seriamente essa ideia adiante, temos que combinar uma coisa de saída: não temos a obrigação de ver o mundo com os mesmos olhos, certo?

V
Aliás, saibam que há uma diferença entre olhar e ver o mundo. Todos e todas têm em condições normais a capacidade de olhar, pois é uma dádiva da natureza. Por outro lado, não são todos e todas que desenvolvem a capacidade de ver, pois isso exige uma construção cultural. Por isso a educação, que passa, mas vai além da escola, é tão fundamental para nossas vidas. Um resultado possível disso é que podemos olhar a mesma coisa e não ver as mesmas coisas. E isso acontece no mundo físico e biológico e, sobretudo, no mundo social.

VI
Então, vamos exercitar o diálogo que não é a mesma coisa que “bate boca”. Dialogar exige o confronto de ideias, estar aberto(a) ao outro e não estar demasiadamente certo(a) das nossas certezas. Nós, que vivemos em sociedade, sempre formamos nossa opinião a partir da relação que estabelecemos com as opiniões dos(as) outros(as). A família, a igreja, a escola, a mídia, o clube, o partido, nossos(as) amigos(as), vizinhos(as), enfim, vários espaços têm a capacidade de nos seduzir a ver o mundo de uma determinada forma.

VII
Nada mais democrático do que aprender a perceber que várias ideias disputam aquilo que podemos chamar de “verdade”. Aprender isso não é tarefa simples, mas é necessário para que, de fato, possamos viver num mundo melhor. Por acreditar nisso, é que sou contra projetos como o “Escola sem Partido”. Vou retomar isso nas próximas colunas. Por hora, agradeço este primeiro encontro desta nova fase. Se você leu até aqui, bem, aumenta a chance de nossa “telepatia” que só a imprensa livre pode assegurar.

 

Por Thiago Ingrassia Pereira

 

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