Entender as dinâmicas das cidades é essencial para o bom trabalho do arquiteto e urbanista. É a partir dessa premissa que um projeto desenvolvido na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim está mexendo com a criatividade dos acadêmicos do curso de Arquitetura e Urbanismo. Os alunos foram às ruas de Erechim para identificar possíveis narrativas urbanas: atividades cotidianas ou incomuns que auxiliam na compreensão dos espaços em que os futuros profissionais irão trabalhar. E para captar melhor essas pequenas histórias que a gente “enxerga mas não vê”, os acadêmicos produziram curtas-metragens.
Os estudantes construíram os roteiros e fizeram as gravações com a participação de pessoas que circulavam pelos espaços de Erechim. Foram feitos quatro curtas. Segundo a coordenadora do projeto, Renata Franceschet Goettems, a ideia é desenvolver atividades de pesquisa e de extensão que tenham como ponto de partida a produção de conteúdos visuais e narrativos sobre a cidade.
– O projeto surgiu da intenção de discutir o espaço público, a vitalidade e a urbanidade da cidade de Erechim. Os curtas-metragens foram produzidos a partir de discussões e leituras realizadas durante o processo, e que visou proporcionar novos olhares para a cidade. Entendemos o espaço livre e público como palco de inúmeras atividades cotidianas ou incomuns, em que os atores sociais criam momentos, expressam intenções, agem modificando o meio e tornam o espaço público um grande palco, onde as manifestações sociais, políticas e culturais acontecem – explica a professora Renata.
Os 25 alunos que participam do projeto são de diferentes fases do curso de Arquitetura e Urbanismo. Além de aprender, eles também estão ensinando. É o caso do acadêmico Luiz Levandovsk, da 9ª fase, que trabalha com programas de edição e faz produções autônomas. No projeto, ele auxiliou os colegas na edição dos vídeos.
A acadêmica Eloá Ferreira do Carmo conta que o projeto é válido sob diversos pontos de vista. Enquanto futura arquitetura e urbanista, ela questiona o quanto estamos acostumados com as barreiras das nossas cidades.
– Às vezes nos acostumamos com os problemas arquitetônicos nos centros urbanos e que simplesmente passam imperceptíveis pelos nossos olhos. Fazemos sempre o mesmo caminho e não percebemos os prédios que nos cercam, as vias danificadas e os singelos detalhes das edificações – destaca Eloá.
Foram esses detalhes que chamaram a atenção da aluna no processo de construção do seu curta-metragem, que partiu do ponto de vista de quem anda a pé.
– Existe uma segregação da qualidade das vias para pedestres. Percebi que no centro as calçadas são mais organizadas, enquanto que nos bairros mais distantes as vias para quem anda a pé são totalmente destruídas ou inexistentes. Acredito que o projeto me auxiliou a ver e sentir a cidade sob um outro ponto de vista: tudo deve ser pensado na hora de se projetar, mas tudo gira em torno das pessoas e das suas diferentes percepções do espaço – pontua a acadêmica.
O projeto ainda incentivou os alunos a desenvolverem habilidades necessárias para o bom desempenho profissional, conforme destaca o estudanteLucas Vinício Alves de Mafra:
– Arquitetura e Urbanismo é um curso que envolve várias áreas do saber. Estudar fotografia, filmagem e edição de vídeo, além de abrir novas possibilidades, aumentou nosso senso criativo e a forma como olhamos para o mundo em que vivemos. É interessante que as pessoas veem os espaçamentos e vivem nele, mas não enxergam seu potencial. Seja por falta de tempo, de sensibilidade, todos estão esquecendo de parar e simplesmente contemplar e vivenciar o espaço.
A professora Renata acredita que a criação de novos olhares, voltados ao tema do projeto, pode estimular o pensamento crítico dos discentes de Arquitetura e Urbanismo e aproximar a comunidade da Universidade, através da divulgação dos curtas-metragens em eventos de Erechim.
– Em contato com os responsáveis pelo setor de Patrimônio Histórico do município, conseguimos espaço para a divulgação dos vídeos a partir de um projeto de cultura que ainda será institucionalizado.
Segunda a docente da UFFS, a ideia é apresentar os trabalhos na cidade entre os meses de outubro e novembro. Antes eles serão exibidos na UFFS – provavelmente, no final de agosto.
– Acredito que, com iniciativas como estas, é possível suscitar o debate e a discussão sobre a cidade que temos e a cidade que queremos. É possível refletir como utilizamos a cidade, como as edificações, árvores, iluminação e demais elementos interferem na nossa vida cotidiana. A partir dessas reflexões, pode-se criar um pensamento crítico para um embasamento maior em momentos de diálogos – finaliza Renata.