Voz da Diocese – “Avançar para águas mais profundas” (Lc 5,10)

Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. A liturgia da Palavra deste domingo, no contexto do Jubileu, nos faz ver que o chamado de Deus “é o princípio da vida cristã”. Isaías, na 1ª leitura, contempla Deus “sentado num trono” (Is 6,1). Ele é três vezes santo: “Santo, santo, santo é o Senhor. Toda terra está cheia de sua glória” (Is 6,3). Trata-se de um Deus sumamente santo. Ele “mostra sua santidade pela justiça” (Is 5,16) e é uma presença libertadora junto ao povo. Diante de Deus, Isaías sente-se pequeno, “Ai de mim, estou perdido” (Is 6,5)! Então ouviu sua voz: “Ouvi a voz do Senhor que dizia: Quem enviarei? Quem irá por nós? Eu respondi: Aqui estou! Envia-me” (Is 6,8). Ao compreender que era Deus que o chamava, colocou-se inteiramente a sua disposição para realizar a sua vontade.

Caríssimos irmãos e irmãs. Nesta mesma direção, o Apóstolo Paulo, na 2ª leitura, diz: “É pela graça de Deus que eu sou o que sou. Sua graça para comigo não foi estéril e a prova é que tenho trabalhado mais do que os outros” (1Cor 15,10). Isso mostra que dar atenção e acolher o chamado de Deus nos torna pessoas novas, voltadas para o plano de Deus.

Ouvimos no Evangelho que ao chegar junto ao Mar da Galileia, diferentemente de Nazaré, de onde fora expulso (Lc 4,28-29), Jesus encontrou-se com uma grande multidão acolhedora. “A multidão apertava-se ao seu redor para ouvir a Palavra de Deus” (Lc 5,1). Para eles, a palavra de Jesus era a “Palavra de Deus”. Por isso, queriam ouvi-la, acolhê-la, pois Jesus era portador de esperança, o que não viam na pregação dos escribas e doutores da Lei. “Eles ficavam maravilhados com seu ensinamento, porque falava com autoridade” (Lc 4,32). Agrupavam-se para ouvi-lo, pois necessitavam da Palavra viva de Deus que fosse portadora de vida e de esperança.

Os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes. Haviam trabalhado a noite inteira, sem nada pescar. Jesus subiu na barca de Pedro e pediu que se afastassem um pouco da margem (Lc 5,3). “Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões” (Lc 5,3). As redes estavam vazias. Muito trabalho sem fruto. O contexto era de carências. Ao sentar-se, Jesus assumiu a atitude de Mestre, que ensina a todos com autoridade.

Prezados irmãos e irmãs. Importante percebermos que o encontro de Jesus com essa multidão não ocorreu numa sinagoga, local de culto, mas junto ao local de trabalho dos pescadores, o Mar da Galileia. Jesus ensina sentado em um barco, instrumento de trabalho. Jesus se insere, portanto, na vida dos trabalhadores e ensina a partir dessa realidade. Em seu ensinamento, Jesus dirigiu-se diretamente a Simão: “Avança para águas mais profundas e lançai vossas redes para a pesca” (Lc 5,4). Pedro respondeu dizendo terem trabalhado a noite inteira, mas decidiu acolher a Palavra de Jesus (Lc 5,5). Pedro e seus companheiros necessitavam qualificar seu trabalho e voltar a ele. Mas Jesus é enfático e determinante. Indica clareza de projeto. Pedro e os demais devem acolher sua Palavra.

Lançar as redes em águas mais profundas e durante o dia, não à noite, indica um empenho mais qualificado na ação e um acreditar na Palavra de Jesus. A acolhida e a confiança na palavra de Jesus resultaram na grande pesca: “apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam” (Lc 5,6) e “encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem” (Lc 5,7). O fato se torna expressão do Reino de Deus: abundância de vida e dignidade a todas as pessoas.

Caríssimos! Diante do Senhor, como Isaías, Pedro se reconhece pecador e o medo tomou conta de todos. Diante da bondade de Deus, o homem se sente pequeno. Jesus dirige-se a Pedro: “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens” (Lc 5,10). “Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus” (Lc 5,11). A presença e o ensinamento de Jesus fizeram de Pedro e seus companheiros discípulos. Eles “deixaram tudo e seguiram a Jesus”. A adesão à palavra de Jesus se traduz agora em seguimento e missão, em dar a vida pela causa do Reino de Deus, assim como a missão de Jesus.

Que também nós, tenhamos a coragem de abandonar tudo para abraçarmos o projeto de Jesus, tornando-nos seus discípulos, com a coragem de lançarmos as redes em águas mais profundas, realizando em nossas vidas a proposta feita por Jesus a Pedro: “De hoje em diante tu serás pescador de homens” (Lc 5,10).

Deus abençoe a todos e bom domingo.

Dom Adimir Antonio Mazali – Bispo Diocesano de Erechim – RS

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