Um sonho estranho aflorou-me à mente durante uma noite
Quem, durante sua vida, não teve um sonho qualquer. Pessoalmente, vários sonhos surgiram ao longo de minha vida. Uns trazendo à baila fatos que realmente aconteceram. Outros nem imagináveis, porque nunca vi ou presenciei algum acontecimento marcante, mas apenas apareceram, porque foram lidos e no recôndito do subconsciente surgiram na memória de um sono profundo que desenterrou esse fato histórico ajuntado ao longo da vida acadêmica ou social. Mas uma dessas noites do ano findo e do início do presente ano, forjado, quiçá, pela propaganda política que já está alimentando o vaivém do dia a dia de muita gente, sonhei que apareceu no céu de Erexim, uma nuvem de corvos, sobrevoando a cidade num verdadeiro balé (do francês ballet), que encantava e era bonito de se ver. Acordado desse deslumbrante espetáculo, notei que era apenas um sonho, porque nunca teria me imaginado tantos abutres sobrevoando uma cidade limpa como é Erexim, do Paiol Grande, do Boa Vista, do Boa Vista de Erexim, do José Bonifácio, quando nasci, do Boa Vista de Erexim e, finalmente, do “Campo Pequeno”. Porém, no dia seguinte, uma manhã de sol radiante, olhando para o céu, não vi esses pássaros pretos sobrevoando nossa cidade, mas presenciei, sim, paraquedas com candidatos de todos os partidos e, um a um, desciam no aeroporto Comandante Kraemer, onde eram recebidos, respectivamente, pelos seus correligionários de Erexim e, em caravana, levados para seus diferentes diretórios, para uma entrevista com a imprensa escrita, falada e televisionada local. Nessas entrevistas cada um desses prováveis candidatos à reeleição discursaram prometendo: um destinando uma importância “x” para tal prefeitura; outro dizendo que vai reativar a ferrovia entre Erexim e Marcelino Ramos; outro que irá asfaltar a tão famosa e propalada BR-153, trecho entre Erexim e Passo Fundo; mais um dizendo que fará de tudo para ligar por asfalto todos os municípios do Alto Uruguai que ainda não o possuem; outro ainda que destinará, de sua verba parlamentar, quinhentos mil para o Aeroporto Comandante Kraemer e, finalmente, um último prometendo que não faltará dinheiro no Hospital Santa Teresinha, caso ele for eleito. É importante frisar que esses mesmos candidatos, quatro anos atrás, fizeram as mesmas promessas e ficaram só na promessa e nenhuma foi concretizada. Primeiro, não é papel do Deputado e nem do Senador executar obras, porque quem executa é o Poder Executivo.
O Deputado fiscaliza, elabora leis e poderá intermediar junto ao Poder Executivo algo, assim como o Senador que representa o respectivo Estado. Então, é de se perguntar: Será que nós todos do Alto Uruguai somos tão babacas assim de acreditar de novo nesses paraquedistas ou vamos refletir e pensar em eleger alguém da terra para nos representar na Câmara Federal em Brasília e na Assembleia Legislativa em Porto Alegre? Pessoalmente, em princípio, não votarei em ninguém para a reeleição e convido todos a fazerem a mesma coisa. Vamos eleger alguém daqui, porque os eleitos de fora deixam cair aqui migalhas de auxílios da verba parlamentar apenas no ano de eleição, o grosso eles levam para o lugar onde têm seu potencial eleitoral. Por isso, deixo um alerta a todos os prefeitos da AMAU, não se deixem levar pelo canto da sereia por causa de um auxiliozinho, vindo, não resta dúvida, em boa hora, mas que contém um ingrediente de cooptar seu voto e os de seus eleitores, nada mais. Porque depois de eleitos, somem por mais quatro anos.
Porém os possíveis pré-candidatos daqui, que até agora puseram seus nomes à disposição do eleitor, merecem também reparos, porque, pelo que se ouve por aí, tem um que aparece muito na mídia, que faz das tripas o coração, como se diz popularmente, que deseja se eleger, sim, não para defender os “interésses”, como dizia Brizola, do Alto Uruguai, mas para buscar refúgio no foro privilegiado, porque aí, sim, seria, apenas, trocar meia dúzia por seis. Aliás, para mim, esse tão nefasto foro privilegiado, deveria sê-lo somente para o que o eleito dissesse ou fizesse na tribuna e não na vida privada. Essa deveria correr na Justiça comum, como para qualquer outro mortal e não sob o manto desse funesto foro privilegiado.
NOTA: Erexim escrito pelo autor com “x”, baseado no Decreto-Lei Federal nº 5.186, de 13/1/1943, e na recente decisão da Academia Brasileira de Letras, órgão oficial que determina, em última instância, a correta escrita das palavras e dos topônimos
Guilherme Barp – Professor e advogado