UFFS diploma o primeiro indígena no Mestrado Profissional em Educação
Fábio Junior Vaz Paliano, da etnia Kaingang, ingressou no curso por meio do sistema de cotas. Pesquisa investigou a legislação específica para a educação indígena, observando também quais artigos da Constituição e da LDB tratam da Educação do Campo
A Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) acaba de diplomar o primeiro acadêmico indígena do Mestrado Profissional em Educação, no Campus Erechim. Fábio Junior Vaz Paliano, da etnia Kaingang, defendeu sua dissertação em fevereiro deste ano. Ele também é egresso do curso de licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo: Ciências da Natureza.
A pesquisa desenvolvida por Fábio, sob orientação do professor Emerson Neves da Silva, buscou investigar a legislação educacional específica para a educação indígena, observando também quais artigos da Constituição Federal e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) tratam da Educação do Campo. O acadêmico realizou um diagnóstico da experiência pedagógica da Escola Estadual Indígena de Ensino Médio Fág Kavá, localizada no município de Ronda Alta (RS).
– O tema da pesquisa surgiu pela observação do modo de vida da comunidade indígena a qual eu também pertencia – conta o agora Mestre em Educação.
– Em períodos específicos do ano, uma parcela considerável de famílias Kaingang tem a necessidade de comercializar seus artesanatos. Todos os integrantes das famílias acompanham nas vendas. Em muitos casos, essas famílias migram de cidade em cidade, próximo aos litorais gaúcho e catarinense, se ausentando de suas comunidades de origem por meses. Por consequência, as crianças Kaingang faltam em muitos dias de aula. Foi então que surgiu meu interesse de pesquisar sobre as leis da educação indígena, procurando saber se há leis específicas para uma educação diferenciada para os povos indígenas. E encontrei bem mais que imaginava. A Constituição e a LDB deixam claro como deve ser a educação indígena. Essas leis se estendem também para as demais comunidades campesinas – explica Fábio.
– Me sinto orgulhoso e muito grato em poder contribuir com a educação indígena, e poder afirmar que temos amparo constitucional para resgatar e desenvolver nossa cultura dentro das escolas indígenas, de forma diferenciada e específica, conforme a necessidade de cada etnia.
No processo seletivo para o mestrado, Fábio ingressou por meio da reserva de cotas para candidatos indígenas. Ao longo do curso, também recebeu bolsa para auxiliar seu processo formativo. Hoje ele é professor em uma escola localizada em Trindade do Sul (RS).
– Os recursos viabilizados pela Universidade foram fundamentais para concretização deste objetivo tão esperado e inédito, assim como foi para os meus familiares. Espero incentivar mais alunos indígenas da minha comunidade a chegar e passar pelo nível de escolaridade ao qual cheguei – conta Fábio.
Coordenador do mestrado, o professor Thiago Ingrassia Pereira destaca que a diplomação do acadêmico é um marco para o programa de pós-graduação:
– A diversidade cultural é um desafio e um compromisso político da UFFS e do nosso Mestrado Profissional em Educação. Pelo perfil de área, temos uma preponderância de mulheres no mestrado, mas temos que avançar na diversidade de gêneros, étnico-racial e entre pessoas com deficiência. Nesse sentido, adotamos a Política de Ações Afirmativas (cotas) em todos nossos processos seletivos. A conclusão do curso do professor Fábio é a materialização de nossas concepções político-pedagógicas – avalia o docente.
Além do Mestrado Profissional em Educação, a UFFS – Campus Erechim oferta também o Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental, Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas e Mestrado em Geografia (este último em parceria com o Campus Chapecó). Todos os cursos são gratuitos. Saiba mais no site https://www.uffs.edu.br/campi/erechim/cursos/mestrado