Sepultado em pé: homem que construiu o próprio túmulo com churrasqueira morre em Caçapava do Sul

O pedreiro de Caçapava do Sul ficou famoso por construir, com as próprias mãos, o seu próprio túmulo — um mausoléu de três andares com uma churrasqueira no terraço

Faleceu aos 85 anos, em Caçapava do Sul, na Região Central do Rio Grande do Sul, Osório Oliveira da Rosa, mais conhecido como “Osorinho”. O pedreiro ficou famoso nacionalmente por construir, com as próprias mãos, o seu próprio túmulo.

O “mausoléu” inclui capela, três andares e até uma churrasqueira no terraço — bem diferente dos túmulos tradicionais. Mais do que a estrutura curiosa, Osorinho também chamou atenção por um pedido inusitado: queria ser sepultado em pé. Segundo ele, estar deitado seria símbolo de preguiça. O desejo, respeitado pela família, foi cumprido durante o velório realizado na sexta-feira (25), em um dos cemitérios mais tradicionais da cidade.

 

 

Túmulo construído com carrinho de mão e dedicação diária

O jazigo onde Osorinho foi enterrado não é comum. Muito pelo contrário. Ele próprio ergueu cada parede, tijolo por tijolo, durante quatro anos, carregando o material de construção num carrinho de mão até o Cemitério das Catacumbas. A construção se tornou uma espécie de atração local, com visitantes curiosos e homenagens constantes ao estilo irreverente do pedreiro. O local reflete elementos da identidade do gaúcho: o amor pelo churrasco, o orgulho de suas raízes e o espírito ativo. No topo do jazigo, uma churrasqueira foi instalada por ele mesmo, com a intenção de que familiares e amigos celebrassem a vida com um assado durante o seu velório.

 

Cortejo em carro de boi e churrasco no cemitério

Mantendo viva a tradição da campanha gaúcha, o corpo de Osorinho foi conduzido até o cemitério em um carro de boi, símbolo de sua ligação com o campo. A homenagem emocionou amigos e moradores, que participaram do trajeto com palmas, flores e, mais tarde, um churrasco servido no terraço do túmulo — conforme ele havia pedido. A cerimônia foi marcada por um clima de despedida alegre, respeitando os valores do pedreiro que dizia sempre viver com entusiasmo. Segundo relatos de familiares, até os últimos dias ele se manteve espirituoso e fiel à ideia de que a vida deve ser celebrada até o fim.

 

Repercussão nacional: de Caçapava para o Faustão 

A história de Osorinho ganhou o Brasil em 2013, quando foi destaque em uma reportagem do programa Domingão do Faustão, da TV Globo. A equipe de jornalismo foi até Caçapava do Sul mostrar sua excentricidade: um homem que construía seu próprio caixão, guardado na sala de casa, e decorado com carinho e capricho. Na ocasião, a repórter Carol Nakamura participou de uma gravação especial com ele, que terminou com desfile em carro de boi e churrasco no cemitério. O episódio virou referência para outros programas curiosos e eternizou Osorinho como uma figura folclórica da cultura popular brasileira.

 

Amor pelo Internacional e pelas tradições gaúchas

Além de pedreiro, Osorinho era torcedor fervoroso do Sport Club Internacional, o Colorado, e costumava pintar seu túmulo com as cores do time e da bandeira do Rio Grande do Sul. Sua paixão pelo futebol e pelas tradições locais era conhecida em toda a cidade, assim como seu hábito de distribuir flores para as mulheres — conhecidas ou não. Amigos lembram que ele fazia questão de demonstrar carinho e educação com todos. Era visto como um cavalheiro à moda antiga, que valorizava a gentileza e o bom humor. A médica que o acompanhou nos últimos dias emocionou-se ao saber que ele não resistiria às complicações de saúde.

 

Uma lição de autenticidade e legado cultural

A história de Osorinho é, acima de tudo, um lembrete da importância de viver com autenticidade. Ao planejar e construir o próprio funeral, ele não apenas desafiou normas sociais, mas também deixou um legado cultural para sua cidade e para o Brasil. Sua filha, Vera da Rosa, reconhece que nem sempre compreendia os desejos exóticos do pai, mas garante que tudo foi cumprido como ele queria. “Ele sempre dizia: ‘faça bem feito, até o fim’. E foi o que fizemos”, contou emocionada.

 

Caçapava do Sul se despede de um personagem único

A morte de Osorinho encerra um ciclo marcado por dedicação, irreverência e amor pelas raízes. Em Caçapava do Sul, o sentimento que fica é de gratidão por ter convivido com alguém tão autêntico. A cidade perde uma figura icônica, mas ganha uma memória eterna no túmulo que agora se torna parte da paisagem cultural do município. Osorinho deixa dois filhos, três netos e incontáveis histórias para quem o conheceu — e para quem apenas ouviu falar de um homem que escolheu ficar de pé, até depois da morte.

 

Texto e foto em Clic Camaquã » Sepultado em pé: homem que construiu o próprio túmulo com churrasqueira morre em Caçapava do Sul.

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