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Pequenos Prazeres

Enquanto me distraía lavando louça ao meia dia, a televisão estava ligada e as notícias chegavam sem muita atenção. Mas uma, em especial, me chamou atenção. Uma reportagem realizada com pacientes que estão em fase terminal da vida. A ideia era muito simples a de permitir aos pacientes a realização de seus desejos. Me comoveu a simplicidade dos desejos. Talvez quando estamos diante da morte, poucas coisas realmente importam, talvez apenas o que gostamos e temos afeto permanece conosco.

Um rapaz muito jovem com câncer desejou um hambúrguer com batatas fritas.

Uma mulher com deficiência visual, causada pela diabete, devorou sua sobremesa favorita.

Um idoso recebeu a visita de seu cachorro que abanava o rabo ao dono acamado.

Uma avó é envolvida em um abraço por seus netos ainda crianças.

Mas o que me comoveu mesmo foi um senhor que com mãos magrinhas saboreava uma taça de vinho tinto. Imaginei como foi delicioso sorver este líquido depois de tantas proibições.

Após a reportagem fiquei pensando na quantidade de vezes que realizamos determinadas ações no piloto automático sem nos darmos conta que são únicos e sem repetições.

Estes pacientes têm desejos simples e corriqueiros. Ver seu cachorro, estar com os netos, comer sobremesa ou lanche favorito e beber uma taça de vinho. Quanta simplicidade nestes desejos e quantas alegrias produziram.

Sabemos que todas esses desejos não irão modificar o curso natural e evolutivo de suas doenças, mas as aproxima da morte com um tom de último desejo realizado, de sabor do gosto da vida e a importância das pequenas coisas.

Na corrida do movimento da vida nem sempre é possível pensarmos sobre nossa finitude que lentamente se aproxima, mas seria interessante de vez em quando refletir sobre esse tempo que chegará para nós também. Parece mórbido. Não percebi tal morbidez na reportagem, assim como não percebo ao pensar sobre isso.

Sei que não queremos morrer, mas já que isso nos ocorre, que o que gostamos de comer e beber (quando possível) não esteja afastado de nós. Portanto, é importante aproveitarmos o sentido dos alimentos e das bebidas que gostamos, pois doenças nos chegam sem que a desejamos.

Esses dias comentei com meu marido que eu desejaria comer strogonoff, arroz, batata palha e meu refrigerante favorito guaraná antártica, não poderia ser outro. E uma sobremesa que tenha morango. Minha refeição favorita seria esta. E gostaria de estar com pessoas que acrescentaram minha vida de sentido que são alguns poucos amigos e familiares, ninguém mais.

Aproveitar enquanto estamos por aqui as pequenas e grandes alegrias é o que observei nestas pessoas que ainda estão vivas e lhes foi permitido seus pequenos prazeres. Talvez devêssemos olhar mais para isso e menos para outras coisas que distraem o olhar empobrecendo o sentido do viver.

 

Por Maria Emília Bottini

 

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