Pelo menos 1,5 mil profissionais de saúde estão afastados no RS em razão do coronavírus

Levantamento de GaúchaZH mostra impacto da pandemia nos 18 maiores municípios

O avanço do coronavírus pelo território gaúcho está atingindo também os profissionais que estão na linha de frente do combate a doença. São 1.537 trabalhadores da área da saúde afastados por consequências da pandemia nas 18 maiores cidades do Rio Grande do Sul. Os servidores são ligados a prefeituras e duas das principais instituições de saúde pública da Capital: Complexo Hospital Conceição (GHC) e Hospital de Clínicas. Deste total, 40 já testaram positivo para covid-19 e 669 apresentam sintomas de gripe ou pneumonia.

O levantamento foi feito por GaúchaZH na quarta (1º) e quinta-feira (2) e o resultado está no quadro abaixo. Foi enviado um questionário com oito perguntas idênticas para as 18 prefeituras e os dois hospitais solicitando o número de profissionais afastados por envolvimento com as consequências ligadas ao coronavírus, como grupos de risco, sintomas de gripe, suspeita e confirmação da doença. Todos responderam, mas nem todos apresentaram o mesmo grau de detalhamento, alegando restrições de tempo devido ao grande fluxo de trabalho exigido pela pandemia.

Situação nos maiores municípios do RS:

Município Profissionais afastados Percentual da equipe O que está fazendo
Alvorada 34 (16 médicos, 4 enfermeiros, 9 técnicos de enfermagem) Não informou Prefeitura solicitou contratação emergencial de 20 profissionais de cada nível
Bagé 59 Não informou Não informou
Bento Gonçalves 34 (incluindo 4 médicos, 10 técnicos de enfermagem e 3 enfermeiros) 4,25% Contratação emergencial
Cachoeirinha 22 (6 médicos, 4 enfermeiros e 12 técnicos de enfermagem) Não informou Contratação emergencial em andamento
Canoas 120 Não informou Não informou
Caxias do Sul 99 5,7% Nomeou concursados e deve fazer contratos emergenciais, além de remanejo de profisionais
Gravataí 18 1,45% Hhoras extras, chamamento de concursados e e remanejo de especialistas
Novo Hamburgo 220 (15 médicos, 21 enfermeiros, 96 técnicos de enfermagem, 88 de outras áreas) 11% Remanejo entre setores, alteração de escalas e suspensão de férias
Passo Fundo 101 (Incluindo 21 médicos, 11 enfermeiros e 16 técnicos de enfermagem) 17% Processo emergencial com chamada até sexta-feira (3) e dois processos seletivos com classificação final para 17 de abril
Pelotas 23 (3 médicos, 7 enfermeiros, 13 técnicos de enfermagem) 6% Prefeitura chamou profissionais aprovados em concurso
Porto Alegre 419 (64 na rede municipal, 279 no Grupo Hospitalar Conceição e 76 no Clínicas No Clínicas, representam 0,84% dos 9 mil profissionais. Prefeitura e GHC não informaram Prefeitura está contratando profissionais de forma emergencial. Hospitais estão suspendendo férias e alterando escalas
Rio Grande 12 (3 médicos, 6 enfermeiros, 1 técnico de enfermagem, 1 motorista e 1 copeira de hospital) 1% Contratação emergencial
Santa Cruz do Sul 104 Não informou Contratação emergencial de 55 profissionais e abertura de cadastro para voluntários (401 inscritos até quinta-feira, 3)
Santa Maria 30 Não informou Contratos emergenciais para 31 profissionais. Médicos, agentes de saúde e vigilância ambiental e profissionais de outras áreas aprovados em concurso serão chamados
São Leopoldo 74 (rede municipal e Hospital Centenário, com 7 médicos, 3 enfermeiros, 20 técnicos de enfermagem e 44 de outras áreas) 5% Prefeitura contratará profissionais por tempo determinado e hospital está readequando escalas
Sapucaia do Sul 102 (incluindo 75 profissionais do Hospital Municipal Getúlio Vargas e UPA 24h) Não informou Realocação de servidores
Uruguaiana 48 (incluindo 18 médicos, 3 enfermeiras e 8 técnicos de enfermagem) 6,74% Contratação em regime de urgência de 10 médicos, 14 enfermeiros e 40 técnicos de enfermagem
Viamão 18 (1 médico, 1 enfermeira, 3 auxiliares de farmácia, 4 técnicos de enfermagem, 7 agentes comunitários, 1 agente de endemia e 1 auxiliar administrativo) Não informou Avalia contratações
Total 1.537

 

Na Capital, são 419 profissionais em quarentena somando a rede municipal, GHC e Hospital de Clínicas. Apenas no Clínicas, são 27 funcionários com coronavírus e 49 aguardando o resultado do exame. O teste é feito na instituição e o resultado sai em 24 horas, o que oferece agilidade ao diagnóstico. No GHC, são 279 afastados. Na Região Metropolitana, Canoas precisou afastar 120 funcionários com sintomas de gripe. Em Bagé, cidade onde a transmissão começou pela comunidade médica, são nove profissionais com covid-19 e 50 afastados com suspeita da doença.

Em Passo Fundo, no norte do RS, os 101 profissionais afastados representam 17% do total de trabalhadores: 98 estão no grupo de risco e três estão com sintomas de gripe. É o maior impacto entre as cidades consultadas.

— Ficamos de mãos amarradas. Não temos como questionar um atestado. Trabalhamos no escuro, além de não ter dados reais do número de pacientes positivos, estamos perdendo profissionais. Se tivéssemos mais testes e o processo de testagem fosse mais rápido, poderíamos identificar realmente os que são positivos e os negativos, após melhorarem dos sintomas, poderiam retornar ao trabalho — afirma a secretária de Saúde de Passo Fundo, Carla Beatrice Gonçalves.

Com 104 profissionais da área da saúde afastados, Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, abriu dois cadastro de voluntários, um para profissionais da área da saúde e outro para demais áreas, que poderão ser chamados para atividades que não dependam de conhecimento técnico. Até a tarde de quinta-feira (2) eram 401 inscritos.

Graduada desde fevereiro e mestranda em Promoção de Saúde pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), a enfermeira Bruna Rezende Martins é voluntária há duas semanas do ambulatório de campanha montado pela prefeitura no Ginásio Poliesportivo, onde ocorre a Oktoberfest e o Enart. Com experiência de voluntariado desde a adolescência, Bruna, que atualmente está sem emprego, não via sentido em ficar em casa no momento em que o mundo tenta se defender de uma pandemia:

— Não tem porque não usar meu conhecimento para ajudar as pessoas. Não faço parte do grupo de risco e tenho a oportunidade de fazer a diferença. É o momento de pensar no coletivo e ajudar a comunidade onde moro.

Pela primeira vez cumprindo seu papel de enfermeira, Bruna cumpre escalas de seis horas duas vezes por semana, mas pode ser chamada a colaborar mais caso a situação se agrave — por enquanto, Santa Cruz não tem nenhum caso confirmado da doença. No ambulatório de campanha, a enfermeira ajuda no acolhimento, faz triagem, organiza materiais e auxilia na produção de planilhas com o perfil dos pacientes.

Fonte: GaúchaZH

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