PELO DIREITO DE RESPIRAR

Ah, eu acordo pra trabalhar
Eu durmo pra trabalhar
Eu corro pra trabalhar
Eu não tenho tempo de ter
O tempo livre de ser
De nada ter que fazer

Eu não vejo além da fumaça que passa e polui o ar
Eu nada sei
Eu não vejo além disso tudo
O amor e as coisas livres, coloridas
Nada poluídas

Paralamas do Sucesso

É na falta que percebemos, muitas vezes, a importância das coisas. No ritmo do cotidiano, não percebemos o espetáculo da natureza que se renova a cada dia. Somos absorvidos(as) pelo “ganhar a vida” e vivemos, como cantaram Belchior, Vinicius de Moraes e Toquinho, em Pequeno perfil de um cidadão comum, que ele “Vivia o dia e não o sol, a noite e não a lua”. Na correria, não nos importamos com coisas tão fundamentais como, por exemplo, o ar que respiramos.

Viver em Erechim é respirar com menos poluição, se comparado ao ar das grandes metrópoles. Contudo, neste mês de setembro estamos respirando a “fumaça que passa a polui o ar”, não apenas da indústria, mas das queimadas que estão devastando parte do nosso país. Por não estarmos diretamente próximo às áreas que estão pegando fogo, não temos a dimensão do desastre ambiental que estamos presenciando.

Florestas, matas nativas, pantanal, tudo se consome pelo fogo. Uma queimada que não tem nada de natural, pois é fruto da ação humana. E não podemos ter dúvidas: trata-se de uma ação criminosa, levada a cabo por bandidos ligados aos interesses privados do agronegócio. De todo o agronegócio? Certamente não. Mas, sem dúvida alguma, de alguns setores ligados ao processo de mercadorização da natureza, de busca de alargamento dos lucros e de um desprezo pela sua principal fonte de renda, a natureza.

Cá estamos nós, aqui em Erechim, respirando um ar de péssima qualidade. Insalubre[1], segundo os Institutos de Pesquisa da área. Céu cinza, ar pesado, um eterno nublado. Bem diferente do nosso céu azul e da nossa temperatura amena que nos faz tanto bem e, quase sempre, nem percebemos. Depois de uma melhora por causa da chuva e da direção dos ventos, temos a previsão de voltar a respirar esse ar sujo da ação criminosa.

Não podemos achar natural assistir ao país pegando fogo. Isso não tem absolutamente nada ver com alguma questão divina, já que é ação direta de seres humanos com falta de consciência ecológica. De certa forma, pessoas que estão desumanizadas, pois produzem o ar poluído que as adoece. A pergunta é: onde gastar o dinheiro que a expansão agrícola com as queimadas pode propiciar? Em qual mundo?

O Físico Stephen Hawking argumenta:

a Terra sofre em tantas frentes que é difícil permanecer otimista. Os perigos são grandes e numerosos demais. Primeiro, o planeta está ficando pequeno para nós. Nossos recursos físicos estão se esgotando a uma velocidade alarmante. A mudança climática foi uma trágica dádiva humana ao planeta. Temperaturas cada vez mais elevadas, redução da calota polar, desmatamento, superpopulação, doenças, guerras, fome, escassez de água e extermínio de espécies; todos esses problemas poderiam ser resolvidos, mas até hoje não foram. O aquecimento global está sendo causado por todos nós. Queremos andar de carro, viajar e desfrutar um padrão de vida melhor. Mas quando as pessoas se derem conta do que está acontecendo, pode ser tarde demais. Estamos no limiar de uma Segunda Era Nuclear e de um período de mudança climática sem precedentes.[2]

Assim, valorizar o nosso ar puro é não ter dúvidas em condenar a ação criminosa contra a natureza que, em última instância, é contra nós mesmos. Não temos outro planeta. Precisamos nos dar conta antes que seja tarde demais.

Entre aspas

Em 19 de setembro de 1921, há 103 anos, nascia no Recife, capital de Pernambuco, Paulo Freire, patrono da educação brasileira. Freire é o autor brasileiro com maior reconhecimento de sua obra no meio acadêmico mundial, recebendo mais de 40 títulos de Doutor Honoris Causa, a maior distinção que uma universidade confere em reconhecimento à contribuição científica de uma pessoa.

Freire também recebeu em 1986 o prêmio “Educação para a paz” da UNESCO, órgão das Nações Unidas para a educação e cultura. O livro “Pedagogia do Oprimido” foi traduzido para mais de 20 idiomas e há diversos institutos de estudo de sua obra em todo o mundo. Celebrar a memória deste grande educador brasileiro, base teórica do nosso projeto de extensão da UFFS com o Jornal Boa Vista e a Rádio Cultura, é seguir acreditando no poder transformador da educação na busca uma sociedade com justiça social e promotora do bem comum.

Thiago Ingrassia Pereira

Professor da UFFS Erechim

Coordenador do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação

thiago.ingrassia@uffs.edu.br

[1] Vide :  https://jornalboavista.com.br/crise-ambiental-erechim-sob-alerta-com-qualidade-do-ar-insalubre/

[2] HAWKING, Stephen. Breves respostas para grandes questões. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2018, p. 173.

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