Por mera coincidência, o grupo italiano do “Gillè”, foi fundado no ano de 1928, março ou abril, enquanto eu nasci no dia 8 de julho do mesmo ano. Poucos meses nos distanciam na idade, mas somos ambos da mesma origem italiana. É provável que a Província de Belluno seja a terra que deu origem aos imigrantes que, premidos pela necessidade da sobrevivência, com dor no peito, mas cheios de esperança, lançaram-se no desconhecido das terras da América, especificamente no Brasil, no Rio Grande do Sul, na região de Caxias, procurando a cucagna, na esperança de um dia voltar para sua Itália querida. Porém, com o passar do tempo, enraizaram-se tão bem que decidiram aqui permanecer, criando povoados e cidades que enalteceram o trabalho desses “bandeirantes”, baseados nos pilares da fé, vontade e trabalho (fede, voia e lavoro). Mas não ficaram só nas ditas “terras velhas”, hoje região de pujante desenvolvimento educacional, de saúde, econômico e de infraestrutura, mas se espraiaram pelo Rio Grande a fora e alcançaram o Brasil inteiro. E, nessa diáspora voluntária, arribaram também em Boa Vista, trazendo em sua mente a nostalgia de seus antepassados, alimentada pelo seu sangue ítalo-brasileiro e trataram de mantê-la viva através das belas canções trazidas da inesquecível Itália pelos seus antepassados. Por isso, os que aqui se estabeleceram trataram logo de fundar um grupo de descendentes itálicos, amantes das líricas e alegres canções de seus antepassados, e criaram a “Sociedade Cultural e Artística Ítalo-Brasileira” que, a partir de 1969, passou a chamar-se de “Grupo do Gillè”,que perdura até hoje. Mas no dia 6 de julho de 2008, esse autêntico representante da cultura italiana local, além de outros, como é óbvio, comemorou seus 80 anos com um concerto no Centro Cultural 25 de Julho, com a participação da Orquestra de Concertos de Erexim, dirigida, então, pelo Maestro Aldo Ademar Hasse. Registrei esse evento sob o título “Concerto Italiano dos 80 Anos do “Grupo do Gillè”. Este ano, coincidentemente, também comemorou seus noventa anos no mesmo dia em que completei os meus, dia 8/7/2018, um domingo, só que foi lá em sua sede, e eu no Restaurante Trentin, somente com minha família. Esses dirigentes, ao longo dessas nove décadas, ultrapassaram anos difíceis, porque no período da segunda guerra mundial, tiveram que se manter mais ou menos quietos devido a que a Itália pertenceu ao Eixo da Alemanha, Itália e Japão, e o Brasil ao lado oposto da ditadura desse Eixo e não era permitida qualquer manifestação em língua italiana. Mas seus dirigentes souberam esconder o amor à Pátria de seus antepassados, como brasas sob a cinza do tempo. Sabiam que um dia tudo isso passaria e voltaria ao normal, porque, após a tempestade, sempre surge a bonança e as brasas da nostalgia da cultura itálica reacenderiam como chama da liberdade democrática que veio para ficar e se constituir no alicerce do desenvolvimento de nosso país, conspurcado pelos larápios do dinheiro público, sendo desenterrado, pouco a pouco, pelo trabalho eficiente dos agentes da Polícia Federal e, seus autores, um a um, trancafiados na cadeia. Mas o que importa é que isso não afetou as atividades dos dirigentes do Coral do Gillè e, pelo contrário, os incentivou para, com maior amor e disposição, reunir mais ânimo e força para comemorar suas nove décadas de existência, justamente no ano do centenário do Município de Erexim, cantando o hino oficial da imigração italiana Dal’Italia noi siamo partiti … Merica, Merica, Merica, cossa sarala sta Merica… e viva a Itália com o sangue dos ítalo-brasileiros que ajudam no desenvolvimento do país, carregando na alma a lembrança da Itália eterna de seus antepassados.
Parabéns a seus dirigentes e a todos aqueles que ajudam para manter viva a chama da nostalgia de sua antiga pátria, através das canções conservadas no coral do “Grupo do Gillè”.