O MERCADO POPULAR DE ERECHIM: A “OUTRA” ECONOMIA DA CIDADE
“Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão, o que vende balõezinhos de cor, e as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa alguma”, poetiza Manuel Bandeira[1], da mais simples linguagem entre os homens e as mulheres, expressa a mais humilde cotidianidade brasileira, por meio da imagem do trabalhador do mercado popular, que consegue “[…] despertar no homem a lembrança das coisas boas da vida, dos tempos de meninice, humanizando-os”[2].
O Mercado Popular de Erechim, inaugurado em 18 de abril de 2005, vende diversos produtos de camelôs. Ao entrar, você já se depara com vendedores em diversas bancas, com certeza vai achar o que quer, visto que são 52 bancas que vendem produtos dos mais variados, por preços bem em conta e acessíveis.
Importante ocupação do nosso espaço público, se diz um local turístico[3] de nossa cidade. Porém, em que medida o nosso Mercado Popular está preparado para receber e atender os turistas, bem como os moradores da cidade?
De 2005 (na inauguração) para cá, em 2024, quem anda na frente do edifício do Mercado Popular percebe a deterioração de seu espaço físico externo e interno, a degradação e desgaste da pintura e do piso, resultante de diversos fatores como tempo, falta de manutenção e falta de apoio de qualquer órgão.
Pudemos escutar alguns trabalhadores e trabalhadoras do Mercado Popular de Erechim, segundo eles/as a desesperança é grande e, inclusive, muitos, incapazes de continuar por inseguranças financeiras (principalmente por não conseguirem mais pagar o ‘aluguel’ da banca e diversas outras contas do espaço), vagam os boxes. A passagem de pessoas é pouca, quase nula. “Nós não temos nada”, explicita um dos vendedores. De “popular”, ou seja, “pertencente ao povo”, não é nada.
E assim, um dos nossos espaços turísticos que encontra-se no centro da cidade (JB Cabral, 268), está degradado, abandonado e visto como “sujeira”.
Um Mercado Popular não deveria valorizar, visibilizar e acessibilizar os produtos, artes e tradições da nossa cidade? Por que em sã consciência esse espaço está sendo marginalizado, em vez de ser reformado, esteticamente reformulado e apoiado pela coletividade erechinense? Não deveria este ser um Mercado Modelo na nossa região, divulgado, publicizado e desejado por visitantes e por nossa comunidade? “que do jeito que tá, não dá pra continuar, o nosso Mercado tá abandonado e a nossa intenção é levantar esse Mercado”[4].
Melhorar os serviços da limpeza, pintar o edifício em várias mãos, reformar a infraestrutura interna e externa, reformular uma obra de arte mais condizente ao espaço, publicizar e divulgar em todas as redes oficiais e não oficiais, apoiar os pequenos trabalhadores e trabalhadoras que nos representarão no comércio da região, capacitar mais ainda estes vendedores e vendedoras, mestres da venda improvisada que com gestos e sorrisos dançam a negociação, nesta cidade de ritmo pulsante, que não para, e nem deve parar, por fim, saber que esse lugar não é a escória, mas uma outra economia, uma outra cultura, a nossa cultura, a de Erechim, nós podemos fazer isso.
Entre aspas
Te convido a fazer uma visita ao Mercado Popular de Erechim, que embora tão degradado em sua infraestrutura, ainda se mantém íntegro por dentro: as pessoas ainda em um ambiente tão precário, estarão dispostas e com sorrisos nos rostos para atender-lhe. Eu mesma fui. Fiquei me perguntando depois o porquê de nunca ter ido, perdi muito tempo. Lá, você encontrará de tudo: roupas, brinquedos, eletrônicos e boas companhias de pessoas que valem a pena serem contadas as histórias: Rua Joaquim Brasil Cabral, 286 – Centro, Erechim – RS, 99700-000.
Kaylani Dal Medico.
Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFFS Erechim.
Bolsista do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação
kaylanidalmedico@hotmail.com
[1] Poema: Camelôs, de Manuel Bandeira.
[2] CANELLAS, Lidia et al. Camelô no camelódromo não fica na pista: uma etnografia acerca da construção e desconstrução de regras no Mercado Popular da Uruguaiana-RJ. 2010, p. 25.
[3] https://www.pmerechim.rs.gov.br/pagina/350/pontos-turisticos
[4] CANELLAS, Lidia et al. Camelô no camelódromo não fica na pista: uma etnografia acerca da construção e desconstrução de regras no Mercado Popular da Uruguaiana-RJ. 2010, p. 62-63.