A transição do ensino fundamental para o médio é justamente o momento de maior índice de evasão escolar, devido à falta de interesse dos jovens em continuar os estudos. Alguns, por já estarem pensando no mercado de trabalho, outros por falta de dinheiro ou oportunidades igualitárias, resultando no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) baixíssimo. Estes foram os principais fatores que motivaram a nova proposta a nível nacional de educação para o ensino médio das escolas públicas e privadas. E para elucidar melhor a temática, foram entrevistadas três profissionais da área da educação da 15ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE). A mesma abrange 91 escolas – destas, 53 ofertam o ensino médio e estão localizadas em 41 municípios da região do Alto Uruguai, contando com aproximadamente 23 mil estudantes matriculados entre ensino fundamental e médio – o que a transforma na maior coordenadoria do Rio Grande do Sul.
A adjunta pedagógica da 15ª CRE, Taciana Vendrusculo, explicou que desde 2011 o ensino médio tem sido discutido em todos os estados brasileiros e em 2013, teve a publicação do plano nacional de educação com todas as diretrizes para a construção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e esta, trouxe a reforma do ensino médio. “Desde então cada Estado tinha que se organizar de acordo com as propostas deliberadas pelo Ministério da Educação. O Rio Grande do Sul fez a seleção de 10 escolas piloto de cada coordenadoria para que ofertassem esse Novo Ensino Médio, de acordo com algumas características e critérios. Em 2019, foram feitas as escolhas das 296 escolas e em 2020, foi dado o pontapé inicial para os estudantes do primeiro ano, dando sequência em 2021 e 2022 com os estudantes do terceiro ano”.
Durante a entrevista, Taciana disse que se observou a nível de Estado que a proposta das escolas piloto não deu certo, pois os itinerários e as trilhas de aprofundamento começaram no primeiro ano do ensino médio, e “o que se percebe é que o estudante chega no primeiro ano e não está preparado, falta maturidade para fazer as escolhas das disciplinas. Então, essas 10 escolas de cada CRE ganharam o nome de Novo Ensino Médio e para não confundir com a nova proposta deste ano, passou a se chamar Ensino Médio Gaúcho”.
A coordenadora da 15ª CRE, Juliane Bonez, destacou que “somos conhecedores que o ensino médio tem o maior número de evasão. Precisamos constantemente trabalhar para ter estes estudantes aptos na escola e seguindo na escola, não apenas para garantir um atestado e entregar no trabalho, pois algumas empresas exigem”.
Juliane também informou que na fala da secretária estadual de Educação, Raquel Teixeira, a proposta do Ensino Médio Gaúcho não está concluída e sim, em construção, “seguimos as orientações da mantenedora que é a secretaria estadual de Educação, e as escolas dentro das suas realidades têm autonomia para organização, todo o Estado tem andado nos mesmos passos, pois há legislações que as escolas precisam cumprir”.
Hoje, segundo a assessora do ensino médio do departamento pedagógico da CRE Erechim, Nádia Federle, todas as escolas do RS estão desenvolvendo no itinerário formativo três componentes. Neste ano os estudantes não tiveram opção de escolha, pois já veio definido o que seria trabalhado e ano que vem, será estudado um novo formato. Os componentes de 2022 são: “Projeto de Vida para que o estudante se desenvolva enquanto sujeito, Mundo do Trabalho que está voltado a Filosofia e Sociologia para compreender a relação do indivíduo com a sociedade, não só a questão do trabalho laboral. Também, Cultura Digital, para saber como se proteger, entender como funciona o mundo digital, ética, a legislação que o envolve, o que é crime, o que é permitido ou não fazer, como identifico e bloqueio Fake News, por exemplo. No próximo ano permanece o Projeto de Vida, e haverá Iniciação Científica no segundo e terceiro ano”.
A carga horária está dividida em formação geral básica de acordo com a BNCC. “Língua portuguesa, matemática, história, geografia, biologia e demais disciplinas e, a outra parte voltada para a orientação, a busca, a iniciação científica, ou seja, algo voltado ao interesse dos estudantes, por isso terão os itinerários que serão direcionados, por exemplo, o itinerário de sustentabilidade que a área focal é a natureza, mas pode ter como área complementar as linguagens, a matemática, então ele fica mais direcionado”, comenta a adjunta pedagógica Taciana.
E para esclarecer sobre a carga horária que gerou certa polêmica, Taciana afirma que desde 2017 as escolas estaduais do RS oferecem obrigatoriamente 1000 horas anuais na carga horária dos estudantes, sendo no primeiro ano 800 horas de formação geral básica e 200 horas que envolvem os itinerários formativos e projeto de vida. No segundo ano passa para 600 horas da formação geral básica e 400 da parte diversificada dos itinerários e as duas disciplinas obrigatórias: Projeto de vida e Iniciação Científica. E no terceiro ano, diminui a geral para 400 horas e aumenta para 600 horas da parte diversificada, porém com os itinerários, as trilhas de acompanhamento e as disciplinas obrigatórias. “Todas as áreas do conhecimento estarão interligadas e sendo exploradas nestes componentes, por isso que não houve redução de carga horária para os professores, aqueles que quisessem atuar nessas disciplinas precisaram realizar as formações online obrigatórias desses componentes”, relata.
Sendo assim, a proposta de 2022 é uma organização voltada a estar formando e dando possibilidades aos estudantes de uma integralidade de formação. “O Ensino Médio Gaúcho vem para desenvolver essas habilidades de forma conjunta, os itinerários também foram construídos pelas áreas de conhecimento propostas pela BNCC e agora, já estamos em organização para o ano que vem, segundo ano dos nossos estudantes. Já ocorreu a consulta popular que ficou aberta em torno de 40 dias no início do ano letivo. Ao todo são 30 coordenadorias no Estado, estamos divididos em polos, discutindo com os departamentos pedagógicos e posteriormente, também será debatido com as escolas, estudantes e famílias”, finaliza a coordenadora.
Por Aline Koproski