Memórias da Aldeia – Um pândego de fundamento
Em cada vila, povoado, distrito ou cidade, existem personalidades marcantes que se eternizam na memória de seus habitantes. Na cidade dos Bota Amarela, tivemos muitas pessoas brincalhonas, diferentes, exóticas, ousadas, dignas de terem suas memórias resgatadas, porque aos poucos esses personagens começam se perder na noite dos tempos.
Você já imaginou um camarada repartir uma melancia, transformá-la numa espécie de quepe, subir e descer a avenida principal, entrar e sair na Prefeitura, sem falar uma única palavra?
No Km 1o. da Vila Willi morava um sujeito bonachão, alegre, inteligente, ‘solto das patas’, que vivia aprontando brincadeiras que contrastavam com o duro trabalho cotidiano de nossos colonizadores.
Ele tinha uma carretinha e ia vender salames no centro da cidade. No retorno, na Av. Coronel Pedro Pinto, ele forçava o cavalo a entrar num boteco. De imediato, solicitava ao bodegueiro uma gasosa para o espanto dos frequentadores.
Ato contínuo aplicava a gasosa goela a baixo, no seu cavalo… Era para ouvir o arroto do cavalo… Ele desafiou as normas legais, na pacata Boa Vista do Erechim… Foi conduzido de trem para Porto Alegre (na época da Segunda Guerra Mundial-1939-1945). Lá lhe arrancaram seu vasto bigode, fio por fio… com alicate….Não era um ser pernicioso, um pouco desabusado e inconsequente.
A comunidade tinha por ele um olhar de tolerância e admiração… Memórias que o tempo não apaga.
Por Enori Chiaparini