Apendicite
Os antigos hospitais de Erechim eram todos de madeira, oferecendo riscos de incêndio. O chão continha inúmeras frinchas entre as tábuas, prejudicando a assepsia e a desinfecção. Eram organizações pequenas, com 15 a 20 quartos, quando muito, em que os doentes eram recolhidos para serem melhor atendidos num contato contínuo médico-doente.
Chegava o pessoal do interior, raramente de automóveis, quase sempre a cavalo, ou de Aranha (Charrete), a procura do médico. Chegavam e diziam:
– Olha doutor, o Sr. precisa ir a tal lugar atender a um doente…
Ficavam na roça a trabalhando até o anoitecer e quando chegavam em casa encontravam a pessoa doente…
Daí, preocupados pela noite, sem recursos, pressionados, às vezes, pela vizinhança, que vinham visitar o doente… Diziam:
– Fulano não pode esperar, até amanhã… O doente pode piorar, pode morrer… Então, vinham chamar o médico.
Além das doenças, uma das principais ‘pedidas’ era para que os médicos fossem fazer partos. Existia nas décadas de 1930-40, uma verdadeira mania com as mocinhas que iam casar… Elas iam ao médico, com os pais e insistiam para serem operadas da apendicite. O médico, consultava e dizia, dá para esperar, vamos observar.
Acontece que a moça era pressionada pelo noivo para ‘operar’, a fim de que ele se livrasse dessa eventual despesa.
Então, operava-se muito, revelou o médico Angelo Luiz Caleffi, numa entrevista por mim realizada em março de 1985. Memórias que o tempo não apaga.
Por Enori Chiaparini