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Jovem e família, fala aí? Como está a experiência com o Novo Ensino Médio?

Nesta última reportagem da série sobre as mudanças no Novo Ensino Médio, o Jornal Boa Vista ouviu o relato de estudantes e familiares a respeito de como está sendo a vivência com esta nova modalidade de ensino.

Ao longo dos anos, ouviu-se muito falar que os jovens deveriam se preparar para serem mais assertivos em suas escolhas e ganharem voz ativa, principalmente no dinamismo que a sociedade impõe nesses tempos modernos, pela necessidade de estarmos “conectados” a tudo e a todos ao mesmo tempo para dar conta das exigências que nos são impostas.

E essa ideia de instigar o jovem a ser protagonista e ao mesmo tempo ser compreendido em sua pluralidade, aparentemente é o que norteia a proposta do Novo Ensino Médio, através dos Itinerários Formativos e Projeto de Vida. Pois nem todos os jovens são do mesmo contexto social ou tiveram as mesmas experiências educacionais. E essas pequenas individualidades, que são tão ignoradas pela sociedade, só serão entendidas quando tivermos a oportunidade de poder compreender a pluralidade dessa juventude.

Mas e nisso tudo, como está a relação dos jovens com essas mudanças e propostas do Novo Ensino Médio? E suas famílias? Confira sobre como está sendo desenvolvido o Novo Ensino Médio na escola pública e privada, através do relato de dois estudantes, ambos têm 15 anos e estão no primeiro ano, bem como, de duas mães que acompanharam esse processo com suas filhas.

Ao entrevistar a estudante da escola estadual, percebe-se que o intuito da escola é fazer com que os alunos aprendam mais, e isso é um fator positivo, mas muitas escolas públicas, assim como a dela e a de outros jovens, ainda não estão preparadas para colocar em funcionamento o Novo Ensino Médio. “Por mais que se tenha estabelecido essa nova proposta, eu acho que eu ainda não consegui ver muita mudança, diferença. E acabaram retirando algumas matérias importantes da grade que tinham antigamente que seriam importantes, para colocar outras que, talvez para alguns, não irão acrescentar em nada. Alguns dos fatores positivos são as matérias que fazem com que os alunos interajam mais entre si e com os professores, porém são matérias que talvez não acrescentariam tanto quanto outras, por exemplo, sociologia que tiraram da grade do 1º ano do ensino médio que eu acho que seria superimportante. Outro ponto relevante foi a inclusão das tecnologias digitais que vem ao encontro daquilo que nós vivemos diariamente. Tem algumas matérias que eu realmente estou gostando, porém percebe-se que talvez nem todos os professores estejam preparados para dar tais disciplinas”, explica a jovem.

E segundo ela, os estudantes e as famílias não foram orientados e ainda não sabem como irá funcionar esta etapa do ensino, “pelo menos na minha escola, as turmas não tiveram um auxílio, uma palestra ou uma conversa sobre como seriam as mudanças e como a gente teria que lidar com o Novo Ensino Médio, e nem os nossos pais”, complementa a estudante.

Para o estudante da escola particular a realidade também é desafiadora e com aspectos positivos e negativos. “Eu acho a ideia por trás boa, pelo fato de ter uma carga horária maior e permitir atividades mais práticas, não só dentro dos conteúdos. A parte dos optativos é boa, mas acho que está sendo executada do jeito errado, porque uma sequência de várias atividades é muito maçante para os estudantes, claro que com organização e como são atividades simples é possível dar conta, mesmo assim, nessas últimas semanas tem sido muito maçante”, relata o estudante.

Ao perguntar sobre qual foi o suporte que os estudantes e seus responsáveis receberam no início da proposta, ele complementa que “no início do ano foi dado um enfoque bem grande, foi falado muitas vezes, embora tenha ficado muito confuso, mas conforme o ano foi progredindo as coisas foram se encaixando e deu para entender aquilo que nos foi passado no primeiro momento”.

E se esse momento ainda gera dúvidas e angústias para os estudantes, a situação não é diferente para os pais e/ou responsáveis que estão se adaptando e buscando ajudar seus filhos da melhor forma possível. A mãe de uma estudante do primeiro ano e professora pública, Fernanda Soligo, afirma que em relação as orientações que as famílias receberam da escola pública, “infelizmente eu não recebi nenhuma como mãe, nenhuma reunião específica, não veio nenhum informativo para casa que explicasse bem, o que facilitou um pouquinho foi pelo fato de eu ser professora e que algumas informações eu tinha em função do meu trabalho e que eu fui buscar também. Eu vi uma entrevista da coordenadora de como iria funcionar, mas se eu fosse uma mãe leiga que, no caso, não estivesse nesse ambiente escolar eu não teria tido informação nenhuma. Eu não culpo a escola porque a gente sabe que foi feita toda uma reestruturação para fazer a redistribuição da carga horária, de professores que nem sempre estavam disponíveis para as disciplinas e teve que enquadrar toda a questão dos horários. Então eu acho que não teve muita prioridade essa questão de informação aos pais e estudantes”.

Fernanda Soligo

“Eu acho que esse processo de alteração tem uma intenção bem positiva que é a questão do estudante focar mais no seu projeto de vida, na questão do trabalho. Sabemos que os estudantes estão meio desfocados pela questão do celular, deixando um pouco de lado a seriedade nos estudos e no trabalho. A intenção é muito boa, mas é preciso estar mapeada por algo que na prática também funcione. Não basta dizer que vai ter duas disciplinas diferentes ou elitistas em que o estudante de repente vai poder escolher a partir do segundo ano, e talvez colocando um professor que não esteja preparado, que não esteja conectado realmente com essa disciplina. Vai ser algo bem complicado, apenas para preencher o tempo de aula. O que também me preocupa bastante é em relação a qualidade, o que será passado e discutido em sala de aula nas disciplinas novas. Eu penso que não adianta tirar umas e colocar outras e dizer que se fez uma inovação,” avalia Fernanda.

Na visão da gerente administrativa que também é mãe de uma estudante do primeiro ano, Andreia Oleksisnki Mach, o Novo Ensino Médio é uma nova opção desses jovens terem uma experiência do que eles irão encontrar no mundo profissional, “na verdade, eles deixam de sair de uma sala de aula totalmente direcionada para as disciplinas básicas e passam a ter uma nova noção da parte profissional que eles possam vir a optar. Nós como família achamos muito interessante”, destaca a mãe.

Andreia Mach

 Ao entrevistá-la sobre como foi a condução e a preparação da escola para colocar em prática a proposta, Andreia fala que a escola particular que a filha estuda há aproximadamente uns dois anos foi avisando que haveria mudanças no ensino médio, informado as famílias através de reuniões, cartas, e-mails e relatórios, “mas não tínhamos conhecimento de como seriam as disciplinas do itinerário e então fomos acompanhando através das reuniões, das informações que a minha filha ia nos repassando porque a gente prima muito pelo acompanhamento na escola. Então, eu e meu marido acompanhamos toda essa evolução. Esse ano com a aplicação sentimos uma carga grande de responsabilidade que ela trouxe para casa. Ela viu que tudo ia aumentar, que teria mais opções, mas ao mesmo tempo mais responsabilidades e como iria abraçar tudo isso. Nos primeiros dias, foi bem complicado, pois ela vinha para casa assustada. Teve momentos que ela chegou emocionalmente abalada, sentamos e conversamos com ela e pedimos onde estaria a dificuldade de entendimento e ela disse pra nós que não ia vencer. Aí esse foi o maior medo, de que veio essa grande novidade para eles e que ela não iria vencer. Explicamos para ela que no decorrer do ano isso seria desenvolvido porque é uma novidade para todos e na medida do possível tudo que a gente conseguisse ajudar, iríamos ajudar. Então reorganizamos as aulas no contraturno, reorganizamos a rotina e os horários da semana”, explica Andreia.

A mãe ainda salienta que “eu, particularmente, também fui em busca de conhecimento. Fiz um curso sobre o Novo Ensino Médio para poder entender e ajudar a minha filha. E nós, como família, temos certeza de que é uma grande oportunidade para eles aumentarem a capacidade de realizar projetos novos relacionados a uma área do conhecimento que eles desejam, uma formação técnica ou profissional. Então tudo isso vai levar ao encontro de algo que eles idealizem, pois eu acredito que o segundo grau não seja apenas para fazer o vestibular, pois sempre orientamos a nossa filha a estudar e desenvolver a parte que ela mais tem habilidade e no que ela gostar de fazer. A gente acredita muito que trabalho com desejo de satisfação é o melhor rendimento.”

“Além de tudo isso, a gente também acredita como família, que nada na vida é fácil. Então tudo o que a gente ganhar em preparação para a vida e para o futuro é ganho, é óbvio que está difícil e complicado. Que as vezes não se entende, que as vezes a carga é grande e pesada. Mas tudo o que esses jovens agora com seus 14 ou 15 anos estão encontrando de dificuldade nessa organização da rotina nova de estudo e conhecimento, é o que eles vão encontrar no mercado de trabalho quando eles forem depois da formação. A própria colocação no mercado é difícil e eles irão encontrar muitos desafios, e tudo isso, não é fácil! Então eu acredito que sempre quando temos um desenvolvimento emocional junto com o conhecimento a gente só tem ganhos lá na frente. Estamos preparando pessoas fortes, com coragem e que aceitem se desafiar. Porque tudo na vida é um desafio. E o Novo Ensino Médio será uma novidade para esses jovens. Algo parecido com o que a gente já passou com o ensino médio técnico, que foi um conhecimento técnico e fez com que a gente tivesse a oportunidade de ter um olhar mais abrangente para aquilo que queríamos lá na frente. Então nós, como família, achamos que este ensino médio veio para ser mais uma nova oportunidade. Agora cabe a cada um se organizar para ter esse conhecimento,” finaliza Andreia.

Por Aline Koproski

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