Educação de Jovens e Adultos (EJA) é mais uma das modalidades educacionais que está sendo afetada pelos desdobramentos do novo coronavírus. Uma pesquisa feita em Santa Catarina indica que aspectos profissionais e o desemprego estão impactando negativamente os estudantes e os profissionais da área, uma vez que os alunos de EJA são, muitas vezes, os principais responsáveis pelo seu sustento e de suas famílias.
O estudo, feito pelo Fórum de Educação de Jovens e Adultos de Santa Catarina (FEJA-SC), foi desenvolvido pela professora Adriana Sanceverino, da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim, juntamente a pesquisadores de outras instituições (todos membros do Fórum), como os professores Daniel Berger, Maria Hermínia Laffin, Rita de Cássia Gonçalves e Maria Cristina Athayde.
De acordo com a professora Adriana, líder do Grupo de Pesquisa em Educação de Pessoas Jovens, Adultas e Idosas (GEPEJAI), o desemprego afetou diretamente os estudantes da EJA – não com exclusividade, mas com muita força.
– Eles já fazem parte da população mais vulnerável e, nessa situação, foram os primeiros a serem afetados: são trabalhadores informais, autônomos e também desempregados, que vão às ruas buscar auxílio, pequenos trabalhos informais (bicos) etc. – comenta Adriana.
Essa situação afeta na qualidade do aprendizado que os estudantes necessitam: com a busca incessante por mais trabalho, os alunos da EJA acabam tendo que se desdobrar em jornadas que impactam negativamente na realização das atividades educacionais remotas. O trabalho doméstico, o cuidado com filhos e com pessoas idosas da família, além do acesso limitado aos recursos tecnológicos, são outros fatores que prejudicam o esforço de quem busca concluir os estudos.
Para Adriana, isto resulta na necessidade de uma atenção maior por parte do estado.
– Para além do acesso às atividades remotas, o estado precisa incluir esses estudantes na política de segurança alimentar e de saúde, para que eles não rompam o isolamento. Trata-se de uma população em vulnerabilidade social. Os alunos da EJA não dispõem de tempo para ficar em casa, têm que sair para trabalhar porque não dispõem de condições para sobreviver.
Outra questão apontada pelo estudo refere-se às atividades remotas: dependendo de como são orientadas, elas podem se tornar incoerentes, dadas as condições reais desses estudantes, que precisam romper o isolamento para trabalhar.
– Outra questão é a impossibilidade de realizarem os estudos sozinhos, sem a mediação permanente e presencial dos professores. Estudantes de EJA têm menor domínio da linguagem tipicamente escolar. Como as atividades apresentadas remotamente não foram preparadas para eles considerando suas características, é iminente o risco de não terem atendidas suas necessidades de aprendizagem – detalha a professora da UFFS.
Questionada se os resultados da pesquisa podem ser levados em consideração para o caso do Rio Grande do Sul, Adriana explica:
– Em diálogos nos grupos de estudos, em que temos a participação de docentes da rede pública de ensino do Alto Uruguai gaúcho, essa situação, no Rio Grande do Sul, parece apresentar semelhanças com Santa Catarina. Porém, precisaríamos desenvolver essa pesquisa também na EJA do Rio Grande do Sul para uma análise mais precisa.
No total, 369 pessoas responderam a pesquisa, que pode ser acessada no link https://www.uffs.edu.br/campi/erechim/noticias/arquivos-das-noticias/eja-no-contexto-da-pandemia-em-santa-catarina-estudo-do-feja/@@download/file.
No dia 11 de agosto, às 19h, haverá um evento virtual para apresentação do estudo. A live pode ser acompanhada no Facebook (www.facebook.com/forumejasc) e no YouTube (www.encurtador.com.br/fhoHZ).