Está ficando chata e perigosa a convivência – on e off-line

Vou falar a partir do que vejo e sinto na aldeia Erechim – mas, poderia citar qualquer outra cidade brasileira ou, quiçá, de boa parte deste mundo globalizado para construir o texto que segue.

Vivemos, novamente, tempos delicados – fazendo pairar no horizonte nuvens carrancudas, que insinuam tragédias.

Cada vez mais, os indivíduos, empoderados pela comunicação fácil permitida pelas redes sociais, saem de seus respectivos armários (alguns vindos da Idade Média) para mostrar o que de fato são e como pensam.

E o que somos e pensamos, sinceramente, tem tornado a convivência chata, perigosa e, muitas vezes, triste.

Cada postagem no Facebook, Twitter ou em outros meios, por mais banal que seja (ou aparente ser) é motivo de discórdia e discussão, criando, invariavelmente, um cenário de ‘nós’ contra ‘eles’ – ambiente detonador, em regra, dos principais massacres registrados na história.

Não sabemos, nem queremos ou sequer ‘precisamos’ tolerar quem pensa diferente de nós. Está liberado apontar o dedo e deixar claro aquilo que nos separa, esquecendo que é justamente o que nos une que fará com que o planeta, o país ou a própria aldeia deem a guinada de desenvolvimento necessária.

Umberto Eco, filósofo e pensador italiano morto recentemente, certa vez disse que a internet deu voz aos imbecis. Termo forte, sem dúvida, mas que, no entanto, revela que pensamentos reacionários, até então restritos aos pequenos círculos de convivência dos idiotas, agora ganharam o mundo (virtual e real). Com isso, máscaras caíram.

Num Brasil marcado pela falta de segurança e pela corrupção, discursos fáceis surgem arrebanhando multidões, o que torna o momento excepcionalmente perigoso. Palco semelhante marcou a ascensão do nazismo na Alemanha pós I Guerra Mundial e que conduziu à II Guerra e ao Holocausto. Destroçada economicamente e penalizada pelo Tratado de Versalhes (1919), o povo alemão tinha fome – de alimento e liderança.

Habilmente, um baixote de trejeitos estranhos e grande poder de oratória falou o que o povo, naquele momento de dificuldades, queria ouvir. Com o apoio de pares que pensavam como ele (até por que quem pensava diferente era fuzilado), Hitler chegou ao poder e durante 12 anos de governo jogou o mundo numa guerra fratricida – onde as minorias e os ‘diferentes’ não tinham mais espaço, e precisavam, em nome da raça pura, ser eliminados.

Faltou lá, e falta cá, amor. Compaixão. Tolerância. A história se repete.

É isto o que preocupa. E, veja bem, nas décadas de 1930-40 não havia internet ou whatsapp. O processo de convencimento em torno da necessária ‘eugenia social’ demandava outros meios, em tese, mais arrastados.

Será que somos os mesmos, só que mais acelerados? Creio que sim; se é que não pioramos.

É urgente que falemos mais do que nos une, reforçando a formação de valores morais e a educação (com ênfase ao respeito e à empatia). É urgente que falemos de amor.

Afinal, os idiotas radicais e extremistas – de todas as vertentes – seguirão online, indicando que a teoria do filósofo inglês Thomas Hobbes de que o ‘homem é mal por natureza’ (concebida no século 17) seria, com ou sem conexão Wi-fi, verdadeira.

É hora de ativar o botão da paz; antes que seja tarde – novamente.

Por Salus Loch

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