Especiais: como todas as crianças
Há cerca de dez anos, eu esperava na recepção de uma clínica de fisioterapia o paciente sobre o qual eu escreveria um relatório para faculdade. Logo chegou um menino, de uns 7 anos, em sua cadeira de rodas, acompanhado pela mãe. Nossa, como ele se mexia! Não parava quieto: balançava para um lado, balançava para o outro, torcia o pescoço, apertava os dedos, se jogava para trás, não tinha controle quase nenhum sobre os movimentos. Lembro de ter ficado surpresa com todo aquele movimento, enquanto entrava com a criança e sua mãe na sala da fisioterapeuta. A colega, bastante habilidosa, me disse que ele tinha paralisia cerebral enquanto o tirava da cadeira de rodas e foi logo posicionando o menino em um rolo e de repente, diante dos meus olhos quase incrédulos, fez-se a mágica: os movimentos involuntários iam diminuindo progressivamente e com o auxílio da terapeuta pegava peças no chão e as encaixava numa casinha de brinquedo. Cada peça que ele acertava sorria muito para mãe como se quisesse dizer “Olha aqui mãe que legal, eu acertei!”. Durante a sessão era perceptível a melhora na postura e como a organização corporal do pequeno foi melhorando e principalmente a alegria e felicidade em conseguir brincar. Foi uma manhã que mudou minha vida e naquele dia decidi que seria fisioterapeuta neurofuncional infantil e ia ajudar crianças especiais a serem CRIANÇAS.
Esse mês é muito especial para nós que trabalhamos na reabilitação infantil pois temos muitas datas importantes. Além do dia das crianças e do fisioterapeuta, 12 e 13 respectivamente, no dia 7 de outubro é comemorado o dia mundial de conscientização sobre a paralisia cerebral (PC). Esta data foi criada para alertar a população sobre as causas, fatores de risco, tratamentos disponíveis e para debater sobre como melhorar a qualidade de vida dos portadores.
Entre todas as desordens neurológicas que podem vir a acometer crianças, a paralisia cerebral é com certeza a mais frequente: a Cerebral Palsy Foundation (CPF) estima que a cada hora nasce uma criança com paralisia cerebral no mundo. Diferente do que o nome sugere o cérebro da criança com PC não está parado; já foi sugerido inclusive a mudança do termo para “Encefalopatia Crônica não progressiva da Infância” para reduzir o estigma e preconceito com a má interpretação do nome. A paralisia cerebral é, a verdade, um conjunto de desordens no desenvolvimento, movimento e postura causada por danos no cérebro que ocorrem antes, durante ou pouco depois do nascimento. Entre os principais fatores de risco estão a prematuridade, infecções congênitas e traumas na hora do parto e apesar de não ter cura, o tratamento adequado pode permitir a criança uma boa qualidade de vida. Dentre as modalidades de fisioterapia, algumas tem se destacado pelos bons resultados como a terapia pelo metodo Bobath, Equoterapia, Hidroterapia e Pediasuit. Todas estas, visam melhorar o controle postural, inibir padrões primitivos de movimento e favorecer o desenvolvimento motor.
Se grandes são as dificuldades motoras que as crianças portadoras da paralisia cerebral e suas famílias enfrentam, maior ainda é o preconceito a que são submetidas, causado principalmente pela desinformação sobre o tema.
“Mas ele entende mesmo o que a gente fala?”
“Tadinho é deficiente mental”
Estatísticas apontam que a maioria das crianças com paralisia cerebral não apresentam déficit cognitivo, e que as diferenças na performance escolar (geralmente reduzida) acontecem mais pela falta de experiência/acesso à escola e contextos sociais infantis do que por questões fisiológicas da doença. É preciso entender que é uma doença do movimento, e que falar, escrever e brincar são atividades que exigem grande controle motor. Ter uma doença do movimento não significa não ser inteligente ou incapaz de aprender.
“Tadinha da mãe, tem que carregar esse fardo para o resto da vida”
A criança com paralisia cerebral e sua família não precisam de compaixão, mas sim de inclusão e acolhimento social. Nos serviços de reabilitação, nas escolas, creches, praças, transporte público! É a oportunidade de acesso que vai possibilitar um desenvolvimento motor, psíquico e social adequados, melhorando a qualidade de vida e garantindo o direito dessas crianças poderem ser quem são: crianças que precisam brincar, aprender e ser felizes como todas as demais.
A clínica escola de fisioterapia da URI Erechim oferece atendimento fisioterapêutico gratuito de qualidade para crianças com paralisia cerebral.
Prof. Dra. Louisiana Meireles – Fisioterapeuta Neurofuncional Infantil
Prof. Dra. Márcia Bairros – Fisioterapeuta Neurofuncional