Erechim corre o risco de perder sua primeira escola

Erechim caminha para seu centenário, em 2018, sem ter clara a noção de quão importante é a valorização de sua memória e patrimônio, seja por parte dos entes públicos e, até mesmo, da iniciativa privada, em alguns casos.

Nada surpreendente para uma cidade que viu calada e complacente, em nome da ‘modernidade’ e de alguns interesses menos nobres, a derrubada de uma das mais belas igrejas em estilo barroco do Brasil à época – a Matriz São José, demolida entre os fins de 1960 e início de 1970.

Não bastassem os ‘erros’ do passado, o município, no presente, sofre com a deterioração de alguns de seus símbolos, como a prefeitura, o Castelinho e o prédio dos antigos Correios (de propriedade federal).

Nesta lista, porém, devem-se acrescentar, além das edificações em art-decô, aquela que foi a primeira escola do município, construída em 1920 pelo professor Carlos Mantovani. A construção, hoje mantida pela família Rigoni – é preservada a duras penas pelo advogado aposentado Amaury Rigoni, de 73 anos (que é sobrinho em 2º grau do professor Mantovani) e um dos proprietários da área onde o educandário está localizado.

Localizada na Avenida Presidente Vargas, número 112, a ‘escolinha’ encontra-se encravada em terreno de 5 mil m2 de propriedade dos Rigoni, e, assim como toda a área, está sob arrastado processo de inventário.

Conforme Amaury, que alega estar fazendo o possível para preservar a antiga escola em pé, o objetivo é a defesa do prédio que, ao lado da antiga casa do professor Mantovani (construída em 1927, no mesmo terreno), representa a memória de uma cidade que não existe mais.

Amaury Rigoni – que tem três irmãos residindo fora de Erechim, explica que apenas ao final da divisão dos bens inventariados será possível determinar qual o destino da escola do professor Mantovani.

O problema, no entanto, é que, pelo atual estado de conservação, o fim da própria escola pode chegar antes do término do imbróglio judicial.

Alternativa

Entre as saídas possíveis, Rigoni – ao passo em que sustenta o interesse em defender a propriedade – lembra de um acordo celebrado entre 2004 e 2005 entre a família herdeira e a direção do Colégio Estadual Professor Mantovani.

A negociação, que à época teve como intermediário a prefeitura de Erechim, fez nascer uma ata prevendo que os Rigoni doariam (sem ônus) o prédio da antiga escola ao ‘novo’ Mantovani. Pelo acordado, no entanto, caberia ao poder público municipal arcar com os custos da remoção.

Apesar da aparente boa vontade inicial, a efetivação do negócio jamais se concretizou. Amaury Rigoni diz não saber o motivo.

Diretor vê possibilidade com simpatia

Em entrevista à coluna, o atual diretor do Colégio Mantovani, Roberto Henrique Bagatini (que não fez parte daquelas tratativas) acenou com simpatia para a possibilidade de receber o histórico prédio. Todavia, explicou que a decisão não competiria apenas a ele. ‘Vamos buscar resgatar esta ata e encaminhá-la para análise técnica e jurídica da 15ª Coordenadoria Regional de Educação’, assegurou Bagatini. O diretor, contudo, pontua que o educandário, num cenário de greve dos professores e outras necessidades essenciais, não teria recursos para arcar com as despesas da eventual mudança.

Resgate oportuno

Diante dos fatos postos, ressurge a possibilidade de que a centenária Erechim, seja via órgãos públicos e/ou iniciativa privada, resgate parte de sua história – antes que seja tarde, mais uma vez.

Avante, professor Mantovani!

Por Salus Loch

 

 

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