‘Enquanto o capital socializa perdas, o cooperativismo socializa resultados’
Em entrevista exclusiva, o presidente da OCERGS-SESCOOP/RS, Vergílio Perius, destaca a parceria do Sistema cooperativista gaúcho e a Fundação CEAS para o desenvolvimento do Projeto DIS – que visa estimular o Desenvolvimento, a Inclusão e a Sustentabilidade a partir do processo de cooperação. A seguir, os principais trechos do bate-papo.
Jornal Boa Vista – O que representa para a OCERGS-SESCOOP celebrar esta parceria com a Fundação CEAS (referente ao Projeto DIS) a fim de levar mais informações a respeito dos princípios e da atuação cooperativista aos municípios do Norte do RS?
A OCERGS-SESCOOP celebra muitas parcerias com cooperativas e instituições de comunicação. Nessa perspectiva, queremos endossar o projeto DIS, da Fundação CEAS, que para nós representa divulgarmos o sistema em suas atuações para aqueles municípios da região de Erechim e Norte do RS. Acredito que a boa comunicação faz parte do itinerário do bom cooperativismo, pois representa transparência – e isso queremos aprimorar cada vez mais.
Jornal Boa Vista – De que forma o cooperativismo impulsiona o desenvolvimento, a inclusão e a sustentabilidade, pilares do Projeto DIS?
O cooperativismo faz 24 horas por dia, durante 365 dias por ano, a inclusão de seus sócios e das cooperativas, pois todo o valor agregado à atividade coletiva, sobretudo da empresa cooperativa, volta para o associado em forma de prestação de serviços, preços ou sobras. Nada se extrai de uma atividade cooperativa, nem da região onde ela está inserida. Isso equivale a dizer que a cooperativa socializa realmente os resultados na proporção de trabalho de cada um, diferente do que o sistema de capital faz, que socializa as perdas; nós socializamos o resultado. A sustentabilidade é decorrência disso. Do mesmo modo, temos grandes inovações tecnológicas no meio cooperativo – pelo menos umas 20 nos últimos anos, beneficiando a agricultura, a informática, a medicina, a eletrificação rural – que hoje leva a internet para o campo, por exemplo.
Jornal Boa Vista – Em recente artigo, o Sr. afirmou que a população cooperativada gaúcha aumentará. O que lhe faz crer nesta premissa, considerando, que o cooperativismo já é responsável por gerar 10% do PIB estadual. O que fazer para crescer mais?
Pode se afirmar tranquilamente: o estado do Rio Grande do Sul é um estado cooperativista. Cerca de 50% da população gaúcha é integrada ou linkada a uma cooperativa. Com 2,8 milhões de sócios, se multiplicarmos a dois, teremos este número – e vamos crescendo cada vez mais, por que no agro a juventude está se reciclando para ficar mais no campo, haja visto a ampliação de sócios jovens nas cooperativas rurais. As mulheres rurais também estão se decidindo e se associando ao processo cooperativo.. No campo da saúde, da infraestrutura e especialmente do crédito, há um crescimento fantástico. O crédito, setor que mais cresce no Brasil inteiro, desde 2009 (ano da grande crise financeira mundial) tem ampliado seus resultados em razão de que a instituição pertence, de fato, a quem é dono – que é o sócio da cooperativa. Vejo, desta forma, que há espaço para crescermos ainda mais, inclusive no sentido horizontal, com o acréscimo de novos sócios.
Jornal Boa Vista – De que forma o Sr. encara o avanço das atuais e futuras tecnologias no horizonte das cooperativas? Como as modalidades de EAD podem ser utilizadas para a formação cooperativista?
Em termos de inovação, já citei alguns avanços e faço questão de citar outros. No campo agrícola, por exemplo, o condomínio de animais, onde as vacas podem ser tratadas de forma robotizada. Há o projeto Aquarius, do qual nasceu a Expodireto, com a proposta de agricultura de precisão, com inovações enormes no plantio e na colheita. Destaco ainda projetos das cooperativas vitivinícolas, com a utilização de robôs para manipulação da uva; ou ações no próprio Porto de Rio Grande, possibilitando que os navios sejam carregados em 3 dias, e não mais em 10. A modalidade EAD também está no horizonte da OCB. A ideia é criar tal ferramenta linkada à nossa escola, à nossa faculdade (curso de Gestão Cooperativa), que é a primeira do país em relação ao Sistema S. Com isto vamos investindo e avançando na formação e capacitação das pessoas. Na média, 6 pessoas (por cooperativa) foram beneficiadas por cursos de todas as 427 cooperativas do RS, da secretária ao presidente. Esta gestão melhorada, a partir de recursos e investimentos do SESCOOP na qualificação, nos garante mais transparência e resultados.
Jornal Boa Vista – Como atrair o jovem para o modelo cooperativista de ‘visão do mundo e dos negócios’?
O jovem no mundo de hoje precisa ficar no campo, e para isso deve entender que a atividade agropecuária melhorou profundamente. Ele precisa se profissionalizar – sendo que temos cursos profissionalizantes neste sentido, via Aprendiz Cooperativo no Campo. Desembaraçar a questão da sucessão familiar no meio rural também é vital, e o SESCOOP atua com este olhar. Por tudo isso, estamos otimistas em relação ao futuro do cooperativismo. Verificamos que o trabalho da juventude é extremamente importante e nos garantirá a atividade futura do sistema, com absoluta certeza.
Jornal Boa Vista – O Norte do RS e Oeste de SC são berços de grandes cooperativas. Nasceu em Erechim, por exemplo, a 1ª Unimed do RS, sendo que, além dela, hoje temos a Sicredi com destaque na área de crédito, a Creral no setor de eletrificação e outras tantas, além de Aurora e Alfa, vindas de SC – e que já se incorporaram ao cotidiano de Erechim e região. O que explica a vocação cooperativista deste canto do país?
O Norte do RS e Oeste de SC têm uma aculturação semelhante. Lembro que o padre Amstad (fundador das cooperativas de crédito em 1902) percorreu entre 1907 e 1914, a região de Erechim, Passo Fundo e Oeste de SC fundando cooperativas também por lá. Isso fez nascer o embrião de grandes cooperativas – como a Sicredi, que de Erechim já se expandiu para SC; a Unimed, com seu sistema moderno e hospital de primeira linha, ao qual parabenizo o presidente Stumpf; a Creral que vem inovando, como o exemplo da utilização da casca de arroz para energização; além da própria solução encontrada para a Cotrel via Aurora – mantendo as indústrias e a produção no campo com a proposta cooperativa. Cito ainda a Alfa, que incorporou uma empresa privada para recepção de grãos. Soma-se a isso parcerias que temos feito com instituições de ensino locais – URI – para formação e qualificação. Integrados neste processo vamos avançar ainda mais em termos de desenvolvimento na grande região Norte e Nordeste.
Jornal Boa Vista – O Sr. está satisfeito com os resultados alcançados por sua gestão à frente da OCERGS-SESCOOP? Quais foram as principais conquistas neste período? Há mudanças ou novos investimentos pensados para o Sistema gaúcho? Quais?
Estou satisfeitíssimo com nosso trabalho de 12 anos à frente da organização do sistema OCERGS-SESCOOP. Tivemos grandes avanços. Primeiro afastamos as inconveniências que os órgãos de fiscalização levantaram ao longo do tempo, com a devida regularização dos processos. Segundo lugar, a excelente performance da receita que o SESCOOP tem tido e também o desempenho das cooperativas quanto a contribuição cooperativista. No último ano, mesmo com a crise, tivemos uma inadimplência de 0,3%, enquanto a média no RS passa dos 10%. Paralelo, registramos crescimento vegetativo de 8% nos recursos do sistema, o que significa dizer que as cooperativas também cresceram. Creio que isso se dá devido ao fortalecimento da gestão, a maior força de integração, às muitas inovações tecnológicas e à vontade que o gaúcho/gaúcha tem de gerir de modo eficiente sua organização cooperativada, com excelente participação dos sócios nos níveis de nuclearização e de co-gestão participativa, o fazendo sentir-se protagonista da história e do crescimento das cooperativas, permitindo que a riqueza fique na região onde é produzida. Só o cooperativismo oferece isso no mundo inteiro.
Por Salus Loch