Terra aos camponeses!
Paz os Povos!
Pão aos famintos!
[…]
Vamos ensinar até mesmo a toda
Cozinheira
A administrar o Estado!
(Maiakowski, 2012)
No dia 17 de janeiro (sexta-feira), a Cooperativa de Produção e Consumo Familiar Nossa Terra, antes localizada na Rua João Pessoa, nº 174, no Centro do Município de Erechim foi surpreendida com um despacho do Poder Judiciário do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (2ª Vara Cível da Comarca de Erechim) de desocupação do espaço. Segundo documento, “Juíza de Direito MANDA ao(à) Oficial de Justiça, que em cumprimento ao presente mandado, proceda à DESOCUPAÇÃO imediata da fração do imóvel ocupada […]”[1], em detrimento de uma empresa privada.
Em nota pública publicada em redes sociais da Cooperativa Nossa Terra, comunicam sua indignação e luta para que essa situação se revertesse, dito que “Estamos sendo desalojados de um espaço ocupado legalmente por mais de 25 anos. Durante esse período, a Cooperativa construiu um trabalho sólido e essencial para a valorização da agricultura familiar e da economia solidária, beneficiando dezenas de famílias e a comunidade em geral. É lamentável que estejamos enfrentando forças e poderes que, em tese, deveriam defender e valorizar os pequenos produtores e iniciativas como esta, que tanto contribuem para a sociedade e para a economia local e regional”[2].
Enquanto sujeitos viventes no período histórico da (pós)modernidade, viemos enfrentando uma crise humanitária de tamanho planetário que se fundamenta numa perspectiva de mundo mecanicista, reducionista[3], individualista e liberal. Traduzindo, a luta coletiva e a noção do que é coletivo (que deve ser defendido) sofre hoje, uma visão distorcida dos fatos influenciada pelo capital, pela quantidade de dinheiro que temos, pelas áreas em metros quadrados que adquirimos, mas, em contraponto, presenciamos em nosso tempo também, a emergência e necessidade do poder local, isso contra o poder econômico refém do nosso sistema.
Quando analisamos o impacto do poder local e regional na economia de uma cidade, torna-se difícil aceitar a ordem de desocupação de uma cooperativa tão relevante para o município quanto a Cooperativa Nossa Terra, em Erechim. Esta cooperativa desempenha um papel crucial na construção da identidade municipal com 25 anos de história, além da sustentação econômica da cidade, fornecendo alimentos saudáveis e consumos para a comunidade.
As lutas em defesa da terra estão sempre em disputa, afinal, “A grande expansão capitalista no campo nos últimos 20 anos foi, também, a expansão da contradição. Semeou a empresa, a fazenda, a grilagem, a injustiça, a brutalidade”[4], o agricultor e a agricultora familiar foram colocados ao teste de suas próprias dignidades humanas: expurgados do seu espaço afetivo e histórico, ocupado por duas décadas e meia, para vender em meio às ruas. É essa dignidade humana que defendem os eleitos e eleitas para representarem o povo de Erechim? Não sei vocês, mas eu… Estou esperando pronunciamentos e respostas.
Kaylani Dal Medico.
Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFFS Erechim.
Bolsista do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação
kaylanidalmedico@hotmail.com
[1] IMISSÃO NA POSSE
Reivindicação, Propriedade, Coisas, DIREITO CIVIL
Número CNJ:5021989-39.2024.8.21.0013 (PROCESSO ELETRÔNICO – EPROC) Comarca: ERECHIM Data da Propositura: 30/10/2024 15:14:04 Situação do Processo: MOVIMENTO Segredo de Justiça: Não
[2] https://www.instagram.com/p/DE8LMr6pWZp/?utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA==
[3] Jesus, C. P. de. (2012). EDUCAÇÃO POPULAR E AGRICULTURA FAMILIAR: perspectivas de mudança no campo, na crise da modernidade. Sociedade Em Debate, 4(3), 65-86. Recuperado de https://revistas.ucpel.edu.br/rsd/article/view/640
[4] Idem
