Como age quadrilha investigada pela PF que anuncia drogas em cardápio, faz telentrega e atua em cinco Estados

Segundo investigação da Polícia Federal, a mercadoria é comprada no Uruguai e contrabandeada via fronteira gaúcha

O esquema de tráfico e lavagem de dinheiro desbaratado na Operação Maturin —desencadeada pela Polícia Federal e Receita Federal na quinta-feira (3) — inova não pelo fato de trabalhar com telentrega da mercadoria, que se popularizou durante a pandemia, mas por oferecer via telefone um cardápio completo de drogas aos usuários.

Em mensagens interceptadas pelos policiais, os vendedores anunciam seus produtos pelo WhatsApp: “Tabela Pennywise, aproveite o melhor preço!”

A seguir, o anúncio apresenta os custos dos entorpecentes: tem promoção fumo lenha (até um quilo, com brinde a quem comprar mais), flor uruguaia (flor de cannabis, com alto teor da substância entorpecente, o THC), cocaína peruana (máximo de 100 gramas), MD Netherlands (princípio ativo do ecstasy, de origem holandês) e LSD White Flower (máximo de 50 unidades).

A tabela é encabeçada pela figura do personagem Pennywise, o palhaço do filme It — A Coisa. É também o codinome daquele que os federais consideram o maior responsável pelo esquema de telentrega no Rio Grande do Sul, um jovem de 24 anos.

O rapaz, que segundo a polícia tem passagens por tráfico, é proprietário de quatro lojas de bebidas em Santa Maria e uma familiar dele administra um supermercado que, conforme a investigação, é dele.

Um outro parente do jovem tem um Porsche, veículo incompatível com seus vencimentos, conforme a investigação. Os mesmos familiares mantinham imóvel rural em Santa Maria. Tudo isso será objeto de inquérito sobre lavagem de dinheiro. Foram apreendidos com os suspeitos bens móveis e imóveis avaliados em R$ 2,5 milhões.

O tráfico ocorria em vários níveis, explica o delegado Leonei Moura de Almeida, responsável pela investigação, que resultou na prisão de 15 pessoas.

 

Como funcionava o esquema

No atacado

  • Segundo a investigação, a maconha vinha do Uruguai. Tudo era introduzido no RS por meio da fronteira, via comparsas. Já a cocaína e o fumo lenha seriam adquiridas de Santa Catarina, onde também foram presos envolvidos.
  • A comercialização de drogas no atacado ocorria com a utilização de “mulas”, responsáveis pelo transporte e estoque das substâncias em diferentes cidades, segundo apuração.
  • O grupo recorria também a aplicativos de caronas pagas em veículos e aluguéis de imóveis por temporada para operacionalizar a logística do tráfico.

No varejo

  • A venda de entorpecentes no varejo ocorria através de aplicativos de mensagens. A entrega era operacionalizada por mototaxistas. Os usuários pagavam com Pix.
  • Todos os envolvidos se utilizavam de codinomes e diversos meios para ocultar suas identidades e dos usuários. A preferência era dada a clientes antigos, sendo evitados desconhecidos (a menos que tivessem indicação dos fregueses habituais).

Esquema nacional

A descoberta foi feita durante outra investigação, que apurava uso de moeda falsa.

A PF descobriu que o empresário santa-mariense, principal alvo da operação, mantinha contatos com rede nacional de distribuição de drogas via telentrega que passava, além do Rio Grande do Sul, por Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo e Rio de Janeiro. A investigação é federal, entre outras razões, porque a droga vem do Exterior.

O nome da operação — Maturin — é relacionado ao personagem Pennywise, o palhaço do filme It — A Coisa, em referência ao codinome do líder da organização criminosa. No filme, Maturin é uma tartaruga colossal que é inimiga do palhaço.

Por GZH

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