Bombom para abelhas? “Doce” ajudou milhares a sobreviverem após ciclone no RS

Feitos de pólen, mel e cera de abelha, alimento foi distribuído pelo projeto Polinizando o Pampa a produtores no município de Rio Grande

Tipo um “Sonho de Valsa”, foram bombons que ajudaram a evitar a morte de milhares de abelhas nativas jataí depois dos últimos ciclones extratropicais que passaram pelo Rio Grande do Sul. Só que, claro, esses não são de chocolate, mas de pólen, mel e cera de abelha.

A ideia de distribuir “doces” dentro das colmeias partiu do projeto Polinizando o Pampa, no município de Rio Grande, e surgiu para mais do que apenas oferecer um agrado aos insetos. Foi uma questão de sobrevivência, explica Rosana Halinski, bióloga e dona da empresa Halinski Soluções Ambientais e Estatísticas, contratada para essa iniciativa:

Rosana Halinski / Arquivo Pessoal
Bombom de pólen partido ao meio e xarope de água com açúcar são colocados em caixas de abelhasRosana Halinski / Arquivo Pessoal

— Quando chega o inverno, nem sempre há flores suficientes para darem pólen para as abelhas. Ainda mais no Pampa, que está muito degradado. Por isso mesmo, já tínhamos previsto esse suplemento.

A questão, continua Rosana, é que a demanda foi maior do que a que estava prevista. Um bombom que era para durar um mês em uma colmeia rendeu apenas uma semana. “Elas estavam famintas”, detalha a bióloga:

— Com o ciclone, que atingiu fortemente a região de Rio Grande, as abelhas tiveram de gastar muita energia para regular a temperatura, tirar a umidade de dentro das colmeias.

E, com todo esse cuidado, um pouco menos de 10% das 170 caixas distribuídas no projeto foram perdidas. Cada uma com até 5 mil abelhas.

— O bombom não ia evitar perdas do ciclone, é algo muito mais forte para se ter controle. Mas ele evitou perdas posteriores que poderiam ter ocorrido por falta de comida ou mesmo energia para se recuperar — reforça Rosana.

Foi o que percebeu uma das 15 famílias que participam do projeto, a Silva, que cultiva morangos em uma propriedade a três quilômetros da Praia do Cassino. Algumas das suas estufas com morangos foram destruídas pelo ciclone, com ventos que chegaram a 146 km/h no local. Mas as abelhas ficaram ilesas, pois estavam protegidas.

— As plantas também sofreram muito estresse e a maior parte do alimento das abelhas no inverno vem delas. Por isso, os bombons e os xaropes foram fundamentais para a sobrevivência delas — reconhece o produtor Gilvane Araujo da Silva.

Além do bombom, o projeto também incentivou o uso de xarope (uma mistura de água e açúcar) para alimentar as abelhas. Enquanto o bombom é fonte de proteínas para os insetos, o xarope é rico em carboidratos.

Gilvane Araujo da Silva / Arquivo Pessoal
Filhos do produtor Gilvane, Lucas e Mateus, ambos de 9 anos, fornecendo alimento para as abelhas após cicloneGilvane Araujo da Silva / Arquivo Pessoal

Polinizando o Pampa é um projeto da prefeitura de Rio Grande que busca recuperar áreas degradadas do bioma a partir do incentivo da criação de abelhas.

 

Afinal, como se faz um bombom para abelhas?

O primeiro passo, explica Rosana, é similar ao de fazer brigadeiro. Pega o pólen de abelhas com ferrão — porque são as que mais produzem —, tritura no liquidificador, acrescenta o mel e enrola.

Já o segundo é como fazer uma cobertura. Derrete a cera da abelha em banho maria e o mergulha na cera líquida.

— Como se fosse um Sonho de Valsa — compara a bióloga.

 

A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular do espaço do GZH

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