Ataque à democracia: hackers de Israel manipularam 33 eleições no mundo

A unidade é dirigida por Tal Hanan, um ex-agente das forças especiais israelenses de 50 anos que agora trabalha para o setor privado.

Uma equipe de hackers israelenses que afirmam ter manipulado 33 eleições presidenciais em todo o mundo usando perfis falsos e desinformação automatizada nas mídias sociais foi exposta em uma nova investigação. Uma ação conduzida pelo jornal isralense Haaretz em parceria com o britânico Guardian mostra como foi a atuação da chamada unidade “Team Jorge”.

A unidade é dirigida por Tal Hanan, um ex-agente das forças especiais israelenses de 50 anos que agora trabalha para o setor privado usando o pseudônimo “Jorge”, e parece ter manipulado eleições em vários países por mais de duas décadas. Ele está sendo desmascarado por um consórcio internacional de jornalistas.

Três jornalistas (da Radio France, do Haaretz and do TheMarker) de um consórcio que inclui repórteres de 30 veículos – como Le Monde, Der Spiegel e El País – fingiram ser possíveis clientes para coletar informações durante vários meses sobre o “Team Jorge”. O projeto foi coordenado pelo grupo Forbidden Stories (“Histórias Proibidas”, em tradução literal), uma organização sem fins lucrativos francesa cuja missão é prosseguir com o trabalho de repórteres assassinados, ameaçados ou presos.

Hanan disse aos repórteres disfarçados que seus serviços estavam disponíveis para agências de inteligência, campanhas políticas e empresas privadas que queriam manipular secretamente a opinião pública. Ele disse que eles foram usados em toda a África, América do Sul e Central, EUA e Europa.

Os encontros com Hanan ocorreram por meio de videochamadas e uma reunião presencial na sede do “Team Jorge”, um escritório não identificado em um parque industrial em Modi’in, a 32 quilômetros de Tel-Aviv.

De acordo com o Guardian, na primeira conversa com os jornalistas disfarçados, Hanan disse que o grupo estava envolvido em uma eleição na África. “Temos uma equipe na Grécia e uma equipe nos Emirados. Concluímos 33 campanhas presidenciais, 27 foram bem-sucedidas”, completou.

Perfis falsos

Nas 33 eleições em que atuou, a maioria na África, a empresa usou uma plataforma digital, a AIMS, desenvolvida ao longo de seis anos, que lhe permitia criar inúmeras contas falsas nas redes sociais e, sobretudo, ativá-las e alimentá-las, explica o grupo de jornalistas Forbidden Stories. O pacote de software sofisticado, controla os perfis falsos no Twitter, LinkedIn, Facebook, Telegram, Gmail, Instagram e YouTube. Alguns avatares ainda têm contas da Amazon com cartões de crédito, carteiras de bitcoin e contas do Airbnb.

Desde janeiro de 2023, o sistema explorou 39.213 perfis falsos, “que poderiam ser consultados em uma espécie de catálogo”. Nele, há “avatares de todas as etnias, nacionalidades, gêneros, solteiros, ou casados… Seus rostos são retratos de pessoas reais tirados da Internet, e seus patronímicos, a combinação de milhares de nomes e sobrenomes próprios armazenados em um banco de dados”, explicou a Radio France.

“Para demonstrar a eficácia de uma de suas ferramentas, Jorge assumiu o controle dos sistemas de mensagens de várias autoridades africanas de alto escalão. ‘Estamos dentro’, disse aos jornalistas que viram duas contas do Gmail, um Google Drive e um diretório, assim como uma série de contas do Telegram”, relata o Forbidden Stories.

Uma vez infiltrado nos sistemas, Jorge conseguia “se fazer passar pelo dono e trocar com seus contatos”, acrescenta o coletivo. A empresa também pode lançar operações para pressionar pessoas importantes em processos decisórios, ou jornalistas, em nome de seus clientes.

Grande parte de sua estratégia parecia ser sabotar campanhas rivais. Segundo o Guardian, a equipe até alegou ter enviado um brinquedo sexual entregue pela Amazon para a casa de um político, com o objetivo de dar à mulher dele a falsa impressão de que ele estava tendo um caso.

Os métodos e técnicas descritos pelo “Team Jorge” levam a novos desafios para as grandes plataformas de tecnologia, que há anos lutam contra a disseminação de fake news em suas plataformas.

Fonte: O Sul
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