Após perdas com a estiagem, produtores rurais tem mais prejuízos com o preço da soja
Quebra da cultura na região deve ser de 33%
A colheita da soja da safra 2024/2025 está chegando ao fim, na região Alto Uruguai, e, novamente, o produtor está diante de um cenário desafiador. Segundo dados da Emater/RS-Ascar, dos 252.829 hectares plantados na região, cerca de 90% desta área já foi colhida. A produtividade está estimada em 2.453 quilos por hectare (40 sacos), o que representa perda média de 33%, com relação à safra passada.
Produtores
O produtor de soja, Rafael Fontana, da Linha Caçador em Sertão, planta 190 hectares e a colheita na sua propriedade está quase finalizada, com 95% efetivada. Ele lembra que a estiagem prejudicou muito o desenvolvimento da lavoura, porque foram 46 dias sem chuva, na localidade deles. “Com isso a soja perdeu bastante potencial e ficamos com uma média de 43 sacas por hectare”, afirma.
“O preço da soja não acompanha a alta dos insumos. Por exemplo, o fertilizante da safra passada está, hoje, 30% mais caro e o preço da soja está no mesmo patamar. Estamos na expectativa de que haja momentos de melhora, vendo o cenário. Pela quantidade de soja colhida ficamos com a margem quase nula, mas vamos conseguir pagar os custos na nossa propriedade”, observa Rafael.
Segundo o produtor, Delcio Cecconelo, localizado na Capela São Pedro, em Sertão, “as perdas na lavoura de soja da safra 2024/2025 foram muito grandes, porque em algumas regiões choveu, um pouco mais, mas, de modo geral, houve falta de chuva desde o Natal de 2024 até dias atrás”.
“Com isso, algumas áreas produziram 10 sacos por hectare, 12, 15, nestas localidades mais afetadas pela escassez de chuva. Nossa média ficou em 20 sacos por hectare. Então, é uma situação bem complicada para quem vem há 3 anos, com o mesmo problema na lavoura”, explica Delcio.
Para piorar a situação, ressalta Delcio, uns 15 dias antes, choveu granizo na lavoura que estava pronta para colher e já havia perdido muita produtividade, em função da seca. “Deu mais problemas, porque debulhou muitas vages”, disse o produtor.
Com relação aos preços da saca de soja, enfatiza Delcio, a situação está muito complicada. “E se continuar desse jeito que estamos não compensa mais a agricultura, o custo é elevado e na hora de vender o produto está muito baixo. A soja no valor de R$130 não está cobrindo os custos e, ainda mais, tirando 20, 30 sacos por hectare, em geral. Então, se não tiver alguma solução, definição por parte do governo, a agricultura está se encaminhando para não ter mais produção, como estava tendo, por não ter como investir. A agricultura está ficando bem complicada”, afirma Delcio.
Alto Uruguai
O assistente técnico regional em Culturas da Emater/RS-Ascar de Erechim, engenheiro agrônomo, Luiz Ângelo Poletto, afirma que há, na mesma região, lavouras que colhem 60 a 70 sacos por hectare e, logo ao lado, uma propriedade colhendo 20 a 30 sacos por hectare.
Segundo ele, outro problema da safra atual é o preço da saca de soja que baixou de R$ 133, na semana passada, para R$ 125 nesta semana. “Isso aí se deve ao fenômeno dos Estados Unidos de taxação da importação, mais um problema para os nossos agricultores. Infelizmente, agora, é a queda dos preços que está prejudicando o produtor”, ressalta Poletto.
Quebra de produtividade
Segundo Poletto, a produtividade média regional é estimada em 3600 quilos por hectare, isto é, 60 sacas por hectares. A quebra na produtividade, na safra 2024/2025, ficará em torno de 33% o que representa redução de R$ 800 milhões na economia regional. As projeções mostram que a safra de soja do Estado vai ter em torno de 17% de perdas.
Municípios
Os maiores municípios produtores de soja do Alto Uruguai são Sertão, com 31 mil hectares de lavoura, seguido por Quatro Irmãos (17.400 hectares) e, em terceiro lugar, Campinas do Sul (16.100 hectares). “A produtividade de Campinas do Sul será uma das menores da região, com média de 1400 quilos por hectare, isto é, 23 sacos por hectare. Depois temos Floriano Peixoto com 1.650 quilos por hectare (27,5 sacos), Benjamin Constant do Sul e Erval Grande com 1.800 quilos por hectare (30 sacos)”, comenta Poletto.
Ele acrescenta que Ipiranga do Sul, Getúlio Vargas, Paulo Bento, Erebango, Charrua, Entre Rios do Sul, grandes produtores de soja, a produtividade média vai ficar em 2.100 quilos por hectare (35 sacos).
Cultura de inverno
O engenheiro agrônomo da Emater acrescenta que está muito baixa a procura dos produtores para o plantio do inverno, safra de trigo e cevada, principalmente, pelos juros altos do Proagro. “Em anos normais, a região plantava 70 mil hectares de trigo e 11 mil hectares de cevada, mas pelo que estamos vendo não vai dar esta área, neste ano”, observa ele.
Situação de emergência
Em 2025, 27 municípios da região Alto Uruguai, dos 32 que compõem a associação, decretaram situação de emergência em função da seca, eventos climáticos extremos, que trouxe inúmeros problemas para as famílias do campo e atingiu, praticamente, todas as culturas, gerando perdas significativas na produtividade de grãos, soja, milho e feijão, hortifrútis e produção de carne e leite. As receitas dos municípios dependem da produção agrícola.
Eventos climáticos
Os eventos climáticos extremos, secas e inundações, estão cada vez mais recorrentes no Brasil e no Rio Grande do Sul, causando destruição ao meio ambiente e prejuízos aos municípios.
Por Emater-RS-Ascar