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A palavra do presidente: José Gelso Miola

A história do Rio Grande do Sul, especialmente àquela compreendida entre o início do século XVIII até a metade do século XX, é repleta de personagens marcantes, por protagonizaram ações, cada qual em seu tempo, e de extrema importância, pois elas mudaram senão o curso da história, pelo menos a forma de vida e de comportamento de toda uma sociedade, que sempre lutou por aquilo que julgava ser seu de direito, e de forma alguma negociaria este direito, mesmo que para isso tivesse que pagar o preço, com a própria vida.

Mergulhando nesta rica história, lembramos do líder indígena Sepé Tiaraju, que ousou enfrentar os ataques militares espanhóis e portugueses no período colonial, para defender as comunidades indígenas guaranis pertencentes aos sete povos das missões, travando batalhas ferrenhas e sangrentas contra o tratado de Madri. O líder missioneiro Sepé tombou, em 7 de fevereiro de 1756 na cabeceira da sanga da bica, pequeno afluente do rio Vacacai no interior do atual município de São Gabriel RS. Este episódio, mostraria para as gerações futuras, que devemos lutar pelo que acreditamos, pelos direitos que são legal, e constitucionalmente nossos, e que hoje se mostram caros à nossa sociedade, já que por um determinado período de tempo, chegamos à acreditar que eles realmente existiam, porém, neste momento, à mim pelo menos, parece que não é bem assim.

Mais adiante tivemos o episódio da chamada revolução farroupilha que considero não uma revolução, mas sim uma guerra pois foi travada entre dois países, pois mesmo não reconhecida pelo império, a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, tinha uma capital, incialmente Piratini, depois vieram outras, tínhamos uma bandeira própria, uma constituição, um território, e acima de tudo um profundo sentimento de pertencimento, à um território que tinha forjado o nosso modo de vida, o nosso jeito de ser e de viver, e também o nosso caráter. Novamente entram em ação personagens que marcaram seus tempos, como Bento Gonçalves da Silva, David José Martins conhecido David Canabarro, Giuseppe Garibaldi entre tantos outros. Homens de valor, e aqui não quero afirmar que foram perfeitos pois perfeição entre nós humanos não existe, porém mais uma vez travavam luta, agora contra um império, o império brasileiro, de dimensões continentais, novamente por direitos que acreditavam ser seus.

Durante o século passado, continuamos à ter personagens gaúchos rio-grandenses que por ações e atitudes corajosas e altamente patriotas, e aqui cito apenas três, mas poderia citar outros, porém destaco, Artur da Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Beckmann Geisel, com formação militar, todos dotados de enorme e irretocável espírito público, amor à pátria e profundo e inabalável respeito por nossas riquezas naturais, integridade de nosso território, e liberdade à todo e qualquer cidadão, dona de casa ou empresário que queria trabalhar e auxiliar na construção de uma grande nação, levaram o Brasil de quadragésima nona, para a oitava economia do mundo. Jamais se ouviu falar em desvio ou superfaturamento em qualquer obra pública, onde os custos para realizá-las eram absurdamente inferiores aos de nossos dias, até mesmo o termo corrupção era para muitos, desconhecido. Aliás, nenhum deles ao término de seus respectivos mandatos, passou pela cozinha para se apropriar dos talheres, pela despensa se apropriar das panelas ou mesmo pela sala de jantar do palácio, retirar os quadros da parede e levar para casa como se lhes pertencessem. Viveram e morreram de forma humilde, sem ostentação, seus patrimônios pessoais vieram exclusivamente de seus soldos (salários), não dilapidaram o patrimônio da nação que pertence à todos os brasileiros. Neste período, conhecemos o doce sabor do verdadeiro amor ao nosso país, respeitávamos a família, os professores, acreditávamos nas instituições, qualquer estudante de segundo ou terceiro ano do ensino primário sabia cantar o Hino Nacional, alguns inclusive citando os autores. Hoje, me entristeço profundamente, ao passar defronte à

instituições inclusive Educacionais, onde sequer as bandeiras estão hasteadas, e quando estão, não raras vezes estão dispostas de forma errada. O orgulho que sentíamos de nosso querido Brasil, era diretamente proporcional ao seu gigantesco, rico e cobiçado território. Infelizmente, em relação à esse período, nos resta administrar em nossos corações…a dor da saudade.

Entretanto, o tempo que é implacável passou, e uma pergunta se faz necessária: O que houve com nossas lideranças? Onde elas estão? Não se renovaram? Uma coisa a mim parece certa, pelo menos com os mesmos ideais, a mesma bravura, o mesmo espírito público, o mesmo civismo, não tenho identificado LIDERES na sociedade contemporânea. Talvez essa lacuna, uma vez não preenchida, possa explicar a atual situação caótica do estado do Rio grande do Sul, que vive um martírio praticamente em todas as áreas, pois são raras as exceções.

Nas últimas seis décadas, praticamente todas as linhas de pensamentos e ideologias partidárias se revezaram no poder, governaram nosso estado, inclusive em mais de um mandato, e os resultados estão ai para todos analisarem. Éramos referência em educação no país. Hoje estamos próximos à vigésima posição, a qualidade de vida de nossa população caiu muito, nossa economia encolheu, entretanto a carga tributária praticada no Rio grande do Sul está entre as maiores do país o que inviabiliza, restringe e afugenta empreendedores e investimentos, que declinam em apostar aqui.

Na contramão em relação à outros estados, insistimos nos mesmos erros, década após década, não conseguimos evoluir, criamos um estado pesado, oneroso ao cidadão e ao empresário e que não consegue devolver à sociedade sequer os serviços básicos, tornando-se praticamente insolvente. Não precisamos ir longe, vemos Santa Catarina e o Paraná se distanciarem à galope à nossa frente, reduzindo impostos, criando ambiente favorável ao empreendedor, desburocratizando, atraindo investimentos, inclusive negócios que estavam aqui e outros que poderiam estar, foram para lá e lá, hoje geram impostos e riquezas nos causando um profundo sentimento de impotência e incompetência.

A região norte do nosso estado, vivenciou à aproximadamente duas décadas, um movimento criado especialmente por municípios que margeiam os rios Pelotas e Uruguai, para se separar do Rio Grande do Sul, tal era, por parte do governo do estado, o esquecimento, o descaso e o desrespeito para com a região e as pessoas que aqui habitam, trabalham e pagam impostos, numa rica região, altamente produtora de grãos, carnes e energia, porém tristemente conhecida como “a volta da fome”. Não tínhamos estradas de qualidade, aliás ainda não às temos, pois se quisermos ir de Erechim à Machadinho por exemplo via asfalto, e não percorrer o dobro do caminho, nos resta utilizar a BR 153, estrada federal portanto, entrar no estado de Santa Catarina e lá utilizar uma estrada estadual catarinense para somente após, retornar ao Rio Grande do Sul. Algo vergonhoso, inconcebível e inaceitável, porém fiel e trágico retrato da falência de um dos estados mais ricos da Federação, que no passado já foi destaque entre os demais, e orgulho para todos nós.

Não tenho a pretensão de dar conselhos, nem tampouco de ensinar governança à quem quer que seja. Deixo esta tarefa para pessoas mais capacitadas, embora não saiba onde elas se encontram, entretanto não posso abdicar do direito enquanto cidadão, que ama e respeita este solo sagrado, de deixar apenas uma sugestão: Que estas últimas “façanhas”, não sirvam de modelo para outras terras.

 

José Gelso Miola,

Presidente do Sindilojas Alto Uruguai Gaúcho

e Diretor da Fecomércio – RS

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