A castração como peça chave e o crescente número de cães comunitários
Rizoleta, Antônia Inês, Tatu, Tati, Tuti, Tetê, Edinho, Kate, Margarida, Leonardo, Charlotte, Ruga, Beta, Chico e Lord, esses são alguns dos nomes dos cães resgatados pela ONG Bicho Vadio de Erechim e, hospedados na casa de uma das voluntárias, Virginia Wagner Costa. Com estes nomes tão originais, até parece que a vida destes peludos sempre foi um “mar de rosas”, mas não é bem assim. São 24 hóspedes, alguns doentes, outros velhos, cardiopatas e ainda, em tratamento.
Dentre eles, alguns serão devolvidos para os seus donos, colocados para adoção e outros, precisarão de tratamento a vida inteira nas casas de passagem.
Cada voluntária assume um papel específico de lar temporário, lavação de roupas, vendas no brechó, resgates e tantas outras atividades que contemplam uma ONG. Por ser enfermeira, Virginia cuida dos mais doentes. “Tento resolver o problema deles e quando estão bem, castrados, devolvo para a família. É claro, alguns não tem como realizar a devolução, pois carregam histórico de maus tratos, desnutrição e então, buscamos um novo lar. Há também aqueles que não temos condições de tratar em casa e são internados nas clínicas parceiras”, contou.
As adoções são realizadas mediante termo e a ONG ainda segue monitorando se o cão ou gato, está se adaptando e sendo cuidado.
A Bicho Vadio, assim como as demais ONGs trabalham com o controle populacional de animais, pois a super população é um caso de saúde pública. “Não existe controle de cães e gatos sem a castração. Não podemos sair por aí matando como faziam antigamente, hoje ninguém mais aceita isso. A única forma de garantir o controle é castrar em princípio as fêmeas. Nesse ponto a municipalidade já está trabalhando, claro, longe do ideal. Hoje são 10 castrações dia, sendo misturados gatos, cachorros, machos e fêmeas, automaticamente demorará anos para atingirmos objetivos significativos. É claro, as ONGs continuam trabalhando e também realizando castrações”, relatou.
Hoje, qualquer erechinense pode castrar o seu animal junto a Unidade de Referência Animal (URA), mas imagina uma cidade inteira ligando para o 99155-2740 para marcar horário. A demanda é altíssima e as 10 vagas dia não comportam. “O que precisaríamos é o dobro vagas e as ONGs castrando por fora, aí terminariam estes ciclos horrorosos em três anos, estaria controlada a situação, é claro, sem achar que está tudo resolvido”, afirmou Virginia. A ONG hoje se mantém através do brechó, parcerias e muita organização para custeio das despesas.
Cães comunitários
Em casa ou apartamento, a maioria das famílias de Erechim tem o seu animal de estimação, mas não as impede de dar comida, água, brincar e ficar de olho nos cães que moram na vizinhança. Quem nunca cuidou de um animal de rua mesmo que não pudesse levá-lo para casa? Observando a tendência dos moradores a cuidarem deles e conhecendo o projeto de Garopaba (SC), a Bicho Vadio criou o projeto Cães Comunitários. Em cada local, uma pessoa é a intermediária, aquela que informa às condições que o cão se encontra e se há chance de garantir uma adoção responsável.
No Bairro Liberdade, Raquel é quem fica de olho na Preta e conta com o auxilio dos vizinhos. No Progresso o cão comunitário chama-se Chorão, no Copas Verdes uma “turma” anda de casa em casa garantindo as refeições e, quem não conhece a cadelinha na frente do Master? Os taxistas, moradores e pet shop, tratam a vira-lata com zelo e muito amor. Na estrada férrea que corta a Rua Passo Fundo e Av. Germano Hofmann, os chapas foram embora, deixando para trás os cães que tão logo ganharam casinha, roupas e comida dos moradores das proximidades. Tamanho cuidado rendeu até mesmo a adoção dos cães.
Na região central, não é preciso andar muito para encontrar potes de água fresca e ração à vontade para os cachorros que vivem nas avenidas e vias transversais. Estabelecimentos dos mais diferentes segmentos sensibilizados com a quantidade de cães em situação de abandono na região central da cidade, fazem o que podem e oferecem muito carinho. Que essas iniciativas contagiem mais pessoas.
Quem são as voluntárias da Bicho Vadio
Conhecendo a história de duas voluntárias é possível entender que as demais são movidas por amor e vivências que carregam desde a infância.
Virginia Wagner Costa conta “meu pai quando descobriu que a mãe estava grávida, trouxe para casa o Book. Eu nasci e ele já estava me aguardando. De lá pra cá, não teve um dia da minha vida que eu não tivesse contato com um animal. Eu morava em Porto Alegre, no centro, do lado do colégio Rosário. Meu pai tinha o costume de recolher os veados que eram atropelados, tatu, cobras, sapo boi, caranguejeiras, macaquinhos e gambás. Cuidávamos deles até se recuperarem. Meu futuro não podia ser diferente, amo os animais, assim como minha mãe e irmã que gostam de gatos e meu irmão, cachorros”.
Carol Liotto acredita que nasceu para amar e cuidar dos animais. “Desde que eu me entendo por gente dizia que queria ser médica de bicho”, contou. Carol é formada em Ciências Contábeis, mas nunca escondeu o sonho de cursar Medicina Veterinária e nesta semana, iniciou a tão sonhada graduação. Não podia ser diferente, ela cresceu indo visitar os avós no interior e interagindo com os animais soltos pelo pátio da residência, mas foi aos sete anos que ganhou o primeiro cachorro. “Quando ganhei, a alegria não cabia em mim. Ele morreu aos 21 anos, quando me formei em Contábeis, no ano de 2006. Quando criança ia para a escola e sempre voltava acompanhada de cães ou gatos, meu pai por vezes brigava, mas meu amor nunca diminuiu. Hoje, minha casa é repleta de gatos e também lar temporário”, finalizou.
Por Carla Emanuele