Quem vai criar os porcos e as galinhas?
I
Todos saudamos com euforia a notícia de que a Cooperativa Central Aurora irá duplicar sua produção nos dois frigoríficos de nossa cidade, o que por consequência, deverá gerar aproximadamente mil novos empregos diretos e talvez, outros tantos indiretos, na região Alto Uruguai.
Conseguir gente para trabalhar nas duas agroindústrias é muito fácil, o problema é quase dobrar a produção de suínos e aves no meio rural, e a pergunta que fica é: quem vai criar todas essas galinhas e porcos para serem abatidos nos dois frigoríficos em Erechim, já que será preciso dobrar a produção destes animais e não temos mais tantos jovens no interior? A maioria dos produtores de aves e suínos são agricultores familiares e os jovens quando completam 18 anos deixam o interior para trabalhar na cidade.
Outro fator: para produzir aves e suínos é preciso muita dedicação, onde os criadores não têm fim de semana e nem noite, principalmente enquanto os animais ainda são pequenos e requerem cuidados especiais. Será que os poucos jovens que ainda residem no interior aceitariam trabalhar praticamente dia e noite para cuidar de suínos e aves ou vão preferir continuar plantando soja e milho, onde após o plantio só é necessário esperar pela chuva e ainda sobram os sábados e domingos livres?
II
Mudar essa cultura de “boa vida” para se dedicar a criação de suínos e aves será muito difícil. Será que estes jovens que já estão trabalhando na cidade aceitariam retornar para o interior? Imagino que prefiram, por exemplo, trabalhar em uma empresa rural, proprietária de aviários e chiqueiros no interior, por um salário “X” e comissão, do que ser dono do seu próprio negócio. Tudo para que tenham um pouco mais de liberdade nos finais de semana.
Este meu questionamento é também a preocupação da maioria dos prefeitos da região, agora que surge uma grande oportunidade para estes municípios se desenvolverem, mas por falta de mão de obra, tal oportunidade pode acabar indo embora. Como os municípios do interior podem viabilizar toda essa produção se a população está cada vez mais envelhecida, e os jovens preferem ir trabalhar nos frigoríficos, para ganhar salários de pouco mais de R$ 1.200,00 a ter um ganho quatro ou cinco vezes maior no interior? Tudo isso para ter liberdade nos finais de semana.
Está na hora de mudar essa cultura, tentar fixar os jovens no campo. Esse é um trabalho a ser desenvolvido por cada município, Emater, sindicatos, e pelas próprias cooperativas, partes mais interessadas em viabilizar a produção.
A possibilidade de ampliação na produção de suíno e aves é um bom momento para fazer com que muitos jovens permaneçam ou retornem ao campo, onde terão uma boa oportunidade para melhorar suas vidas econômicas.
Por Egidio Lazzarotto