Setembro
Eis que vivemos a segunda quinzena do mês de setembro. O inverno, se despede e as flores da primavera já começam a desabrochar. O colorido das cidades interioranas é altamente interessante neste momento e contrasta com o atual momento político vivido no nosso país.
Num 20 de setembro, no ano de 1935, alguns generais da recém-criada Guarda Nacional do Império do Brasil, insurrectos contra a centralização política imposta pela Regência, tomaram Porto Alegre, capital da então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. A tomada de Porto Alegre não durou 6 meses. A capital da Província jamais voltara a ser comandada pelos Farroupilhas. Aliás, farroupilhas era como eram chamados os Liberais Exaltados, partido político que propunha mudanças radicais no modelo político brasileiro, através da luta armada. Existiam Farroupilhas em todas as províncias brasileiras. A insurreição se transforma em separatista no decorrer do período e sem jamais conquistar apoio das demais províncias. Nem sequer de todos os rio-grandenses, muitos lutaram ao lado do Império. No decorrer do conflito os Farroupilhas foram sendo derrotados até aceitarem uma imposição de paz. Diga-se de passagem, foi uma imposição bastante generosa, aja vista as concessões do Império aos revoltosos. Antes disso foi necessário resolver um grande problema: o que fazer com os negros escravos que lutaram ao lado do movimento pela promessa de libertação? Negros livres poderiam representar um grande perigo. Então numa estratégia asquerosa e traiçoeira os negros foram desarmados e, acampados no Cerro dos Porongos, atacados por uma tropa imperial. Poucos se salvaram. Os que saíram vivos foram aprisionados e vendidos no centro do país. Ainda assim, todos os anos, a partir de meados do século XX comemoramos. Sim, bastante tempo depois começaram as comemorações, por uma guerra que, segundo o jornalista e historiador Eduardo Bueno “nós perdemos, fingimos que empatamos, e comemoramos como tivéssemos ganho”.
Num 19 de setembro, em 1846, Maria, mãe de Jesus, teria aparecido a dois jovens pastores Maximino e Melânia nos Alpes franceses, na montanha de La Salette. O século XIX, é o século das revoluções na Europa. A Reforma Protestante, a Revolução Francesa e a série de ondas revolucionárias liberais apavorava a Igreja Católica. O iluminismo distanciando o Estado da religião. A razão se sobrepondo a fé. As palavras dos dois pastorzinhos, do que Maria os teria dito, se espalharam pelo mundo. A nossa região contempla um dos maiores centros de peregrinação ao culto de Nossa Senhora da Salette. Todos os anos, em setembro, a minha pacata Marcelino Ramos se transforma esperando pelos romeiros de todos os lugares. Milhares de pessoas caminham ao encontro daquilo que lhes conforta, a fé. O momento é também proveitoso para os camelôs, que se espalham pelo centro da cidade vendendo quinquilharias advindas da China. Há uma confluência complexa de interesses que se encontram em Marcelino neste momento e há opções para todos os gostos.
Setembro é também o mês amarelo de prevenção ao suicídio. Espetacular! Precisamos falar sobre o suicídio. E colocar este assunto no centro dos debates de setembro, junto com o processo eleitoral. Precisamos também debater política. Acredito que muitas pessoas encontrem fuga encontram conforto para os seus problemas em Deus. Outros dançando um bom fandango na Semana Farroupilha. Alguns precisam apenas conversar, sentirem-se acolhidos por alguém. Eu, como não aprecio muito a semana farroupilha. Não tenho muita fé. E estou apreensivo com o cenário eleitoral. Recorro ao futebol. Ainda bem que nos últimos tempos o meu time tem ajudado.
Por Ricardo da Conceição