‘A Creral começou a mudar quando as decisões passaram a ser apoiadas e aprovadas pelos associados’
Hoje, a Creral leva luz e internet para o campo e cidades na grande região Norte do RS. Em entrevista para o Projeto DIS, o presidente da cooperativa, Alderi do Prado, apresenta os números da instituição, fala dos projetos em andamento, faz projeções, reconhece o momento da ‘virada’ – que passou pela participação dos associados e defende o sistema cooperativo. A seguir, os principais trechos do bate-papo.
A Creral nasceu com o propósito de levar luz ao campo. Hoje, faz muito mais do que isso – ingressando, também, no setor de telecomunicações com tecnologia de ponta. Qual foi o momento da ‘virada’ da cooperativa e por que ela decidiu expandir as atividades?
Quando a Creral foi fundada em 1969, o objetivo era de fato levar luz às casas dos agricultores. Mas, a energia elétrica levou mais do que isso. Levou desenvolvimento, prosperidade, conforto e a possibilidade de realizar sonhos. Nas décadas de 1970 e 1980, nossas redes se espalharam pelas áreas rurais e também por pequenas comunidades urbanas transformando o jeito de trabalhar, produzir e viver. Temos a percepção de que ao longo dos anos tivemos uma contribuição muito grande para isso acontecer, pois hoje estamos em 37 municípios. No começo da década de 1990 a Creral passou por uma grave crise que não foi somente financeira, mas também estrutural, de gestão e de credibilidade. Em 1992 foi necessário mobilização e esforço muito grande de entidades como sindicatos de trabalhadores rurais, lideranças regionais e dos próprios agricultores associados para mudar a situação existente. Chamamos isso de retomada da cooperativa pelos próprios donos, assumindo o protagonismo na condução das atividades. Entendemos que a Creral começou a mudar quando as grandes decisões passaram a ser apoiadas e aprovadas pelos associados. Na medida em que se cuidava da questão financeira, também se resolviam os problemas de infraestrutura, melhorando as redes e entregando energia de qualidade. Isso também possibilitou que pudéssemos olhar para o futuro com a geração de energia através de usinas próprias, uma garantia de termos energia para entregar aos nossos associados.
E a internet, como entrou neste processo?
É mais recente, quando descobrimos que através de nossa estrutura de redes podíamos levar internet por meio de fibra ótica aos agricultores e aos moradores das cidades onde estamos inseridos. Há quatro anos criamos a Creral Telecom e, grata surpresa, fomos muito bem aceitos, pois passamos a entregar um serviço com alta tecnologia que além de suprir uma necessidade nos dias atuais é mais um benefício que oferecemos aos associados. Hoje temos 7.400 associados, 2 CGHs próprias, 2 PCHs em sociedade, 1 termelétrica a casca de arroz quase pronta para operar, 1 PCH em construção em sociedade, e 13 mil clientes de internet. É importante ressaltar que se hoje estamos num patamar diferente, foi porque nossos associados fizeram a escolha de permanecer com a cooperativa e fortalece-la.
Na comemoração dos 49 anos, a Creral inaugurou uma nova loja da Telecom em Erechim. No cinquentenário da cooperativa, em 2019, o que a comunidade regional pode esperar?
Nos últimos anos temos procurado marcar as nossas comemorações de aniversário entregando algo para associados e comunidades. Foi assim nos 45, com o lançamento dos serviços de Telecom em Sananduva; nos 46, comemoramos 15 anos de geração de energia com a Usina Abaúna em Floriano Peixoto; nos 47, inauguramos a PCH Santa Carolina e anunciamos a troca do último poste de madeira; os 48 anos foram marcados com a inauguração da internet a todos os associados de Entre Rios do Sul; e agora já abrimos o ano 50 da Creral. Queremos no decorrer desse ano entregar uma nova usina, São Sepé, nossa primeira termelétrica, começar a construção de nossa 5ª PCH e expandir nos serviços de internet para mais de 20 municípios.
O quadro social da Creral indica um total de 7,4 mil associados, sendo 80% deles agricultores. É possível ampliar a participação junto à população urbana? De que forma?
Temos registrado o crescimento do número de associados nas áreas urbanas ano após ano. Grande parte de nossas redes elétricas estão próximas das cidades e com a expansão das áreas urbanas para dentro da nossa área de atuação a tendência é aumentarmos o número de associados residenciais. Hoje já são 18% de associados residenciais, percentual que tende a crescer com a instalação de novos loteamentos em nossas redes, esta é forma de ampliar nossa presença nas áreas urbanas. Atualmente atendemos integralmente três sedes municipais (Santo Expedito do Sul, Floriano Peixoto e Gramado dos Loureiros) e estamos presentes parcialmente em mais nove cidades (Sananduva, São João da Urtiga, Machadinho, Getúlio Vargas, Estação, Erval Grande, Nonoai, Trindade do Sul e Cruzaltense).
Já são 4 PCHs em operação, uma termelétrica movida a casca de arroz em fase final de construção e nos próximos dias começa a construção de mais uma PCH no rio Forquilha entre Maximiliano de Almeida e Machadinho. O que isso representa para a região?
A PCH Forquilha IV é um empreendimento que vai absorver investimento de R$ 74 milhões. Considerando o momento da economia nacional, é sem dúvida um investimento que poucos tem a coragem de fazer. Mas, isso vai trazer muitos benefícios de imediato em especial para os municípios de Maximiliano de Almeida e Machadinho, com a criação de cerca de 200 empregos no período de construção e a oportunidades de negócios nessas cidades. Além, é claro, depois que a usina entrar em operação, haverá reforço no sistema elétrico disponibilizando mais energia importante para o desenvolvimento da região.
Já a Creral Telecom atende a 13 mil clientes em uma dezena de municípios do Norte do RS. Qual é o plano para este segmento?
A Creral Telecom foi criada com o propósito de levar internet aos nossos associados rurais. Por questões técnicas abrimos o sinal primeiramente na cidade de Sananduva para começar a construir a rede de fibra ótica, já que passávamos pela área urbana decidimos oferecer o serviço ali. A aceitação foi tão grande que nos expandimos por diversos municípios. Mas, não nos descuidamos da área rural. Criamos um projeto internet rural para acelerar a instalação da fibra no interior. Até o final deste ano vamos atender 1000 famílias rurais. Nossa meta é chegar nos 37 municípios que tem associados da Creral e atender a todos que quiserem o serviço, e no caminho vamos atendendo aqueles que não são associados.
Entre 2016 e 2017, a Creral registrou crescimento de 28,4% no faturamento, 20% no patrimônio líquido e quase 40% no resultado financeiro. 2018 manterá este ritmo?
Apesar da situação econômica do país, tivemos um crescimento extraordinário. Cabe ressaltar que não foi fácil atingir este patamar. E também não será fácil nesse ano manter o resultado alcançado em 2017, mas mesmo assim, estamos trabalhando para atingir as metas estipuladas. O nosso horizonte aponta que teremos um ano positivo, talvez não na mesma proporção do ano anterior.
Como o Sr. percebe o momento do cooperativismo na região Alto Uruguai? Qual a importância deste ‘modelo’ socioeconômico para a comunidade?
As cooperativas sempre foram as responsáveis por introduzir desenvolvimento econômico e social em nossa região. Não podemos esquecer que o Alto Uruguai é pujante hoje graças ao cooperativismo de produção, crédito, infraestrutura e demais ramos. As cooperativas geram milhares de empregos, realizam investimentos vultosos e criam uma enorme cadeia de valor. O crescimento e a expansão das cooperativas para outras regiões e também a chegada de novas cooperativas reflete o momento do cooperativismo, nos dando a certeza de que este modelo socioeconômico além de consolidado, já criou raízes profundas em todos os setores da comunidade regional. O pensamento também mudou e conseguimos evoluir a partir da criação do Núcleo de Cooperativismo do Alto Uruguai com ações conjuntas e intercooperação.
Fale um pouco de sua história, por favor.
Tenho 52 anos. Nasci em São Valentim, cresci na Comunidade do Alto Alegre (hoje Entre Rios do Sul). Estudei na Escola Municipal Carlos Gomes. Sou casado com Rosa Matilde do Prado. Fui diretor do sindicato dos trabalhadores rurais de Entre Rios do Sul. Moro em Erechim desde 1992, quando fui indicado para assumir o comando da Creral numa época em que a cooperativa passava por uma grave crise de gestão, financeira e estrutural. Formado em administração/gestão de cooperativas. De janeiro de 2003 a junho de 2007 fui diretor no ministério de minas e energia do programa Luz para Todos, o maior programa de eletrificação rural do mundo, projeto que desenvolvemos do zero e chegamos a 2 milhões de famílias no Brasil.
Quem são os membros da direção da Creral?
A Creral, desde 1992, implementa um sistema de governança com transparência e participação. Para estarmos mais próximos dos nossos associados nos organizamos em 120 comunidades nos 37 municípios onde atuamos com distribuição de energia. Em cada uma destas comunidades temos um líder. Em 2018 fizemos alterações nesta estrutura de organização para ampliar a participação da liderança nas decisões da Creral com a criação de núcleos. Desta forma, o nosso conselho de líderes passou de 50 para 91 membros. Nas questões deliberativas temos o conselho de administração formado por 15 pessoas. No dia a dia da Creral, o comando está com a direção executiva, onde cada diretor se encarrega de cada unidade de negócio. O presidente conduz os assuntos ligados à geração de energia, o vice-presidente Umberto Toazza toca a área de distribuição de energia e o secretário Edilson Guzzo se dedica a telecom.
Por Salus Loch