Lidar com o saber popular e o saber científico é uma constante no trabalho do engenheiro agrônomo. Especialmente quando o assunto é extensão rural, a questão vira um desafio para todo profissional, que tenta levar – seja ao pequeno ou grande produtor –, as melhores técnicas para que a produção seja economicamente viável sem perder o foco na sustentabilidade. Na universidade, as verdades adquiridas cotidianamente e passadas de geração em geração também são vistas sob aspectos diversos.
Na semana em que se comemora o Dia do Engenheiro Agrônomo (12 de outubro), conversamos sobre o assunto com três docentes do curso de Agronomia da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim. Confira abaixo a opinião de cada um.
Gismael Francisco Perin
“O saber popular é um conhecimento prático, produzido em nosso cotidiano, e é por meio dele que orientamos as nossas ações e assumimos nossas verdades. O saber popular representa a realidade em que estamos inseridos e, portanto, apresenta limitações. Já o conhecimento científico observa a realidade, levanta hipóteses e comprova (ou não), através do método científico. As verdades, quando ocorrem, são provisórias. Portanto, o conhecimento científico rompe com o saber popular, porque o considera superficial, muitas vezes ilusório e falso. Acredito que a articulação entre estes conhecimentos deva se dar pelo reconhecimento, por parte da universidade, dos saberes populares dos agricultores
da nossa região, servindo de norteador para nossas pesquisas, fato que já vem ocorrendo. Os saberes populares devem ser submetidos ao método científico para serem validados ou não. A universidade deve propagar o método científico. Esta é a razão de ser de uma universidade. Produzir e difundir o conhecimento científico”.
Leandro Galon
“Temos muito isso ainda na nossa região, ou seja, o saber popular está na frente do saber científico. Isso ocorre, talvez, pela nossa região ter ficado desassistida de informações científicas por muito tempo. Com a vinda da UFFS ou mesmo com a criação de novos cursos em outras instituições, a geração de informação científica vem crescendo e, desse modo, aos poucos o produtor vai tendo acesso. O que falta – e bastante – ainda é a divulgação de tudo o que se gera dentro das instituições de pesquisa, ou seja, levar até o produtor as informações, coisa que a extensão rural deveria fazer e que não vem fazendo há anos. A extensão rural está falida. Também está aí um gargalo, uma extensão rural que não disponibiliza os conhecimentos aos produtores. Porque não se pode fazer tudo, gerar informações científicas e, ao mesmo tempo, levar isso ao produtor. Precisamos aliar o que o produtor sabe com as informações científicas geradas, e o elo disso é uma extensão rural forte.”
Valdecir José Zonin
“Acredito que o principal desafio do engenheiro agrônomo é unir seu conhecimento, transformando-o em habilidades de comunicação no meio rural. Nossa missão não é vender conhecimento ou difundi-lo de cima para baixo, mas, sim, estabelecer relações dialógicas por meio de uma prática de extensão inovadora, cujos saberes regionais e empíricos possam ser respeitados, porém, aprimorados pelo conhecimento científico. Já não vivemos mais os períodos da extensão do conhecimento difusionista, onde alguém faz o papel do mensageiro e o outro o papel de receptor. Na atualidade, considera-se relevante a troca de experiência a partir dos êxitos vividos e compartilhados pela ação de assistência técnica e extensão rural.”