Saques em fundos de super-ricos: governo corre risco de não ter mais o que tributar
Fundos exclusivos perderam R$ 71,4 bilhões desde que começou debate sobre taxação
É uma advertência que economistas realistas costumam fazer sobre tentativas de tributar grandes fortunas: esse é um público que tem grandes incentivos para driblar o Fisco, além de poderosas ferramentas para fazê-lo.
Um levantamento do jornal Valor Econômico mostrou que os fundos exclusivos – aqueles em que, para entrar, é preciso investir no mínimo R$ 10 milhões – tiveram saques de R$ 71,4 bilhões entre janeiro e julho, período em que se debateu a tributação sobre esses instrumentos.
Para comparar, no ano passado, quando o tema não estava em pauta, o volume de retiradas em 12 meses foi de R$ 21,9 bilhões. Portanto, a demandada em sete meses fica 326% acima de todo o acumulado em 2022. Os dados originais são da Associação Nacional das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
No universo geral de investimentos em fundos – os taxados e os não – a saída foi de R$ 113,2 bilhões no ano passado e de R$ 125 bilhões nos primeiros sete meses deste ano. Isso significa que, no ano passado, os saques dos fundos exclusivos corresponderam a 19% do total, enquanto neste ano já alcançam 57%.
É verdade que ainda está alocada nesse tipo de “veículo” – como os fundos são chamados no segmento financeiro – R$ 966,2 bilhões. O valor corresponde a 12% de todos os recursos (R$ 8 trilhões) que circulam nos milhares de fundos existentes no Brasil. Mas como o ritmo de retiradas tende a se acelerar caso a taxação se confirme, existe o risco de o governo já não encontrar nada para tributar quando – e se – a medida for confirmada. É outro desafio para o projeto “déficit zero” do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Por GZH