Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. Aproxima-se o final do Ano Litúrgico. A Liturgia da Palavra dos últimos domingos do Ano Litúrgico nos convida a refletir sobre o que devemos esperar depois dessa vida, uma vida de trabalhos, de alegrias, de preocupações, de crises e de muitas dificuldades. O que esperar depois de uma vida cheia de esforços, lutas e atividades? O ser humano necessita de uma esperança para viver. Toda a pessoa humana precisa, em seu coração, de uma esperança que se mantenha permanentemente viva, apesar das crises e das desesperanças de cada época da história ou de cada dia. Onde, nós, cristãos, encontramos esta esperança?
Prezados irmãos e irmãs. A Sagrada Escritura nos convida a olhar a vida com os olhos da fé. A fé faz a gente se dar conta que a vida humana é um projeto aberto ao infinito de Deus. Deus é a fonte da vida. A Escritura inicia dizendo que Deus criou o ser humano. Criatura divina, a pessoa humana está aberta a três grandes dimensões: está aberta à natureza, pois dependemos dela para viver; está aberta às demais pessoas, pois sempre precisamos uns dos outros; e está aberta a Deus, pois em seu ato criador, Deus soprou-lhe seu “hálito de vida” (Gn 2,7), elevando-a a dignidade de “imagem e semelhança” de Deus (Gn 1,27). Cada dimensão da vida representa uma profunda responsabilidade, pois cada uma implica num cuidado específico: o cuidado com a natureza, o cuidado com as pessoas e o cuidado com a fé. Os três aspectos são inseparáveis. Por sermos pessoas humanas, vivemos as três dimensões ao mesmo tempo todos os dias de nossa vida. Por sua vez, por sermos portadores do “sopro vital” de Deus e por termos sido feitos “à sua imagem e semelhança”, nossa vida tem em Deus a esperança maior, a sua plenitude.
Por isso Deus enviou seu Filho Jesus. O Evangelho de João diz: “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único, para que todos os que nele creem não pereça, mas tenha a vida eterna […] e para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,16-17). Juntamente com a superação de tantas dificuldades neste ano, uma das grandes preocupações é a “crise ecológica”, que atinge a todos. O objetivo da vinda de Jesus é “para que o mundo seja salvo”. Por isso, salvar o mundo significa, ao mesmo tempo, salvar as pessoas.
Caros irmãos e irmãs. Fundamentados no Evangelho, nós, cristãos, encontramos nossa esperança maior em Jesus Cristo e em suas palavras, que diz: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13,31). Sua proposta é o Reino de Deus: vida plena neste mundo e depois a vida eterna. O projeto do Reino implica no empenho de todos em vista de um mundo melhor e isto é possível, se todos entenderem e acolherem o que Jesus disse.
Não esperamos algo ilusório. Nossa esperança se apoia no fato da ressurreição de Jesus. Já o AT, sobretudo o livro de Daniel, primeira leitura deste fim de semana (Dn 12,1-3), anuncia a ressurreição, dizendo: no fim dos tempos “teu povo será salvo, todos os que se acharem inscritos no livro. Muitos dos que dormem no pó da terra despertarão, uns para a vida eterna, outros para o opróbrio eterno” (Dn 12,2). A partir da ressurreição de Jesus, vemos a vida presente como a “gestação” para a vida plena em Deus.
O Evangelho deste domingo (Mc 13,24-32) fala da vinda do Filho do Homem, precedida por sinais grandiosos. Trata-se do poder e do amor salvífico de Deus agindo na história por meio de Jesus. Jesus foi enviado pelo Pai para fazer acontecer o projeto do Reino. Convidou Doze pessoas, número que representa a totalidade do povo, para segui-lo. Neste número Doze todos nós estamos incluídos. Quem acolhe sua proposta e o segue, vivendo seu Evangelho, coloca-se no caminho da esperança cristã.
Caríssimos irmãos e irmãs. Enquanto estamos neste mundo, nossa missão é seguir os passos de Jesus, trabalhando pela causa do Reino de Deus. O próprio da esperança cristã é a nova criação, iniciada em Cristo e plenificada na eternidade. No final está Deus, o Deus revelado em Jesus Cristo. Um Deus que quer a vida, a dignidade e a felicidade plena do ser humano. Tudo está em suas mãos. Ele tem a última palavra, pois é o Deus da vida para além da morte. Assim somos chamados a “crer na vida eterna e na feliz ressurreição”.
Deus abençoe a todos e bom domingo.
Dom Adimir Antonio Mazali – Bispo Diocesano de Erechim – RS