UFFS desenvolve estudo para contenção de enchentes em Barra do Rio Azul

O município de Barra do Rio Azul, de pouco mais de 1600 habitantes, no noroeste do Rio Grande do Sul, historicamente sofre com as cheias do Rio Paloma e do Rio Azul, que cortam a cidade. Os dois últimos eventos climáticos, de novembro de 2023 e de maio de 2024, impactaram profundamente a cidade.

O governo municipal encontrou na UFFS o apoio técnico e operacional que precisa para o desenvolvimento de um plano de enfrentamento de futuras tragédias. O acordo foi costurado por pesquisadores do Campus Erechim, que já atuam em pesquisas na área do planejamento ambiental de bacias hidrográficas. “O prefeito nos contatou solicitando um apoio técnico para um diagnóstico e um estudo do que é possível fazer para evitar novas tragédias no município”, afirma a coordenadora acadêmica do campus, Cherlei Marcia Coan. “A ideia é que o grupo de trabalho da UFFS e da URI apresentem alternativas, através de estudos técnicos, para que o município possa captar recursos para implementar as ações de prevenção de problemas futuros em termos de enchentes. A primeira etapa, de curto prazo, levará em torno de 30 dias para entrega dos produtos e diagnóstico”, complementa.

O professor João Paulo Peres Bezerra, do curso de Geografia, aponta que um conjuntos de sugestões, no âmbito do planejamento ambiental de bacias hidrográficas, poderá contribuir  para mitigação de catástrofes e seus danos e prejuízos correlatos. “O que acontece no fundo do vale, no rio, é resultado de tudo que está acontecendo na bacia hidrográfica como um todo. São, aproximadamente 222 nascentes na bacia hidrográfica, mas em torno de  90 estão no interior do município de Barra do Rio Azul. Assim, para termos um planejamento assertivo das  águas, que vise a convivência com eventos extremos, é preciso entender a necessidade de pensar na escala das bacias hidrográficas, e não  planejar apenas um local, será preciso  dialogar com os outros municípios do alto curso da bacia hidrográfica dos rios Azul e Paloma”, afirma.

Ele comenta que serão produzidos uma gama de produtos cartográficos para embasar um diagnóstico sócio-ambiental para o município, Vamos trabalhar com um inventário físico-territorial, produção de mapas e estudos  para melhor compreender a relação entre uso e ocupação das terras e as dinâmicas das águas, pautados na utilização de imagens de satélites e radar. Tudo na escala da  da bacia hidrográfica”, diz o professor João Paulo.

URI também integra grupo de trabalho

A Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI – Erechim) também é parceira no projeto e, entre outras coisas, será responsável por um projeto de melhoria de duas pontes que cruzam os rios. O professor Pedro Boehl, que também integra o grupo de trabalho da UFFS, explica que durante um dos trabalhos de campo que a equipe realizou, eles observaram um afunilamento da seção de vazão do rio em duas pontes, uma no Rio Palomas e outra no Rio Azul. “Acreditamos que esse afunilamento, junto com o desassoreamento da margem dos rios, é que causa obstrução no momento das chuvas, pois todos esses detritos acumulam embaixo das pontes, numa espécie de pórtico que as apoiam. São projetos antigos, talvez da época do exército. Esses galhos e detritos se acumulam e ocasionam o transbordar do rio para as laterais e depois a pressão da água acaba por quebrar esses galhos e ocorre um transborde, dessa vez com formação  de ondas, que invadem a cidade”, explica.

A equipe da UFFS realizará a modelagem hidrológica da bacia e também hidrodinâmica do perímetro urbano do município, que servirá de base para a solução de engenharia necessária. A  modelagem hidrológica objetiva reconstituir as vazões dos eventos de inundação dentro da bacia e mais precisamente dentro da área urbana. São utilizados dados de chuvas de satélite, meteorológicos e dados de vazão da estação fluviométrica junto ao Rio Paloma. Já a modelagem hidrodinâmica vai apontar de que forma os cursos d’água naturais e as infraestruturas construídas se comportam diante de eventos de precipitação elevada, como foi o caso nas duas enchentes que atingiram o município nos últimos meses. O professor José Mario Vicensi Grzybowski esclarece que o estudo busca encontrar pontos críticos, fazer diagnósticos, e determinar requisitos de projetos de engenharia. “Um exemplo é a vazão que o rio e o sistema de drenagem terá que “acomodar” durante um evento de precipitação elevada, para que a situação de normalidade possa ser mantida. E, mais importante, poderemos testar soluções de engenharia antes que sejam implementadas na prática, aumentando sua eficácia e evitando o desperdício de recursos. De uma forma geral, o objetivo do estudo é identificar pontos críticos na rede de drenagem urbana de Barra do Rio Azul e elaborar soluções eficazes para minimizar o risco de enchentes, protegendo assim a comunidade e a infraestrutura urbana”, diz. Os estudos são realizados através de simulações computacionais.

Visita técnica e cronograma de trabalho

Boehl, que é professor no curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, explica que algumas ações do grupo de trabalho já estão em curso. A equipe da UFFS finalizou o trabalho de campo, que consistiu em visitas técnicas para observação in loco da situação. Durante as visitas, realizaram um reconhecimento preliminar de campo, onde foi possível verificar os estragos pela enchente, tanto urbanos quanto rurais, possíveis áreas de risco, regiões críticas, bordas e leito dos rios. “Observamos o assoreamento dos rios de maneira generalizada, com detritos orgânicos que acabam por diminuir a altura da seção do canal, ou seja, o rio transborda com menos quantidade de água quando está assoreado. Houve uma substituição da vegetação rasteira e gramíneas nativas, por árvores de manejo, de grande porte, como eucaliptos e outros, causando uma facilidade para erosão hídrica e outras patologias, facilitando a instabilidade por deslizamentos nas encostas e nas margens dos rios”, aponta.

A ocupação urbana em áreas de risco é o que mais preocupa no cenário de Barra do Rio Azul. O realocamento de parte da cidade para outro local pode ser uma possibilidade. Boehl acredita ser uma medida importante, tendo em vista que parte do centro do município está em área de risco. “Mas além do centro tem outros loteamentos que estão muito próximos do rio, a menos de 25m da margem. Uma das medidas é o realocamento e um planejamento para construção futura levando em conta as áreas de risco, de transbordo e deslizamentos em encostas, de acúmulo de terra. A destinação dessas terras para um alagamento controlado, com pisos drenantes, e espaços públicos seria uma alternativa para contenção das enchentes”, avalia Boehl.

Neste momento, o grupo inicia a fase de elaboração dos estudos hidrológicos e hidrodinâmicos.

As atividades estão sendo coordenadas pelos professores José Mário Grzybowski, Roberto da Silva, Pedro Boehl e João Paulo Bezerra e realizadas juntamente com a EngTech Jr. Soluções Ambientais, empresa júnior do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFFS – Campus Erechim e empresa Renova Consultoria Agrícola e Topografia.

Abaixo você pode conferir uma reportagem produzida pela TV Câmara, de Erechim, sobre esse trabalho que será feito em Barra do Rio Azul.

Por Assessoria de Comunicação 

 

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