Transplante de coração: “Há seis anos meu filho voltou a viver”

Durante as comemorações dos 16 anos de trajetória da Cultura FM, na semana passada, as páginas do Jornal Boa Vista nos ajudaram a contar sobre as campanhas e iniciativas já realizadas pela emissora. A Cultura FM, bem como o jornal, são apoiadores das mais variadas ações, assim como a Doação de Órgãos. E quando falasse sobre o tema, com frescor vem à memória a emocionante história de Tiago Pereira dos Santos, o menino que nasceu com cardiopatia congênita – doença na qual há anormalidade da estrutura ou função do coração, que está presente no nascimento, mesmo que descoberta muito mais tarde. Conhecemos a família de Tiago em 2013 e a mãe Patricia, contou que com apenas 12hs de vida ele realizou seu primeiro processo cirúrgico de cateterismo, com seis meses teve pneumonia dupla e aos nove meses, realizou a segunda cirurgia.Uma infância marcada por idas ao hospital.

Às 12 horas mais difíceis para a mãe, pai e irmãos de Tiago

Ainda, quando tinha quatro anos, detectou-se que o pequeno menino também tinha miocardiopatia (doença do músculo do coração). Com isso, Tiago passou a fazer parte da fila de espera para o transplante. Os meses, anos passaram e a família já havia perdido a esperança. Mas, na madrugada do dia 11 de maio de 2011, as 3h30, Patrícia recebeu uma ligação de Porto Alegre e perdeu a fala por conta do nervosismo. Naquele dia a chuva insistia em cair e o avião não podia decolar. Entre tantos contratempos foi possível realizar o transplante que durou 12 horas, foram às horas mais difíceis para a mãe, pai e irmãos de Tiago.

Ele sonha em ser um ‘grande jogador’ de futebol

Relembrar essa história nos remete a conscientização e doação. Mas, como está o Tiago e a sua família em 2017, na semana que comemora-se o Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos? Hoje, com 13 anos, Tiago freqüenta o oitavo ano na escola, realiza acompanhamento a cada três meses em Porto Alegre e esbanja saúde. Patricia, não esconde a emoção ao relembrar a trajetória do filho. “Vivemos anos de aflição, desespero, mas há seis anos meu filho voltou a viver. Hoje está super bem, saudável, realizando os acompanhamentos e sendo elogiado pelos médicos”, contou.  Tiago pôde comemorar a vida que se perpetua com um ato de amor, a doação de órgãos. Por isso, diverte-se brincando com os cinco irmãos, andando de bicicleta e principalmente, jogando bola.  Ele sonha em ser um ‘grande jogador’ de futebol e toda vez que o encontramos lembra disso e é claro, fala também do seu time do coração, o Grêmio. “Hoje meu filho consegue fazer o que mais ama, jogar bola. Por isso fica aqui o pedido da mãe de uma criança transplantada, seja um doador de órgãos, informe sua família e ajude conscientizar o maior número de pessoas”, finalizou Patrícia.

2017 – um marco em captações de órgãos

Durante a 12ª Semana de Doação de Órgãos da Fundação Hospitalar Santa Terezinha (FHSTE) que iniciou na segunda-feira (25), com apresentação da equipe da Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CHDOTT), conversei com a psicóloga da FHSTE e integrante da Comissão, Luana Gasparetto Fontanella. Tão logo, ela enalteceu que 2017 tem sido um marco para equipe da Comissão Intra-hospitalar em função das cinco captações de órgãos já realizadas no município e por  quatro, terem sido feitas no Santa Terezinha. “Todos os pacientes que podiam doar as famílias autorizaram, isso significa 100% de autorização familiar. No Brasil esse índice é de 57% e ainda, o impedimento da doação é a negativa das famílias. Acreditamos que os erechinenses estão falando mais sobre o assunto em casa e, nossas campanhas de conscientização estão dando resultado”, destacou. Também relatou que no Brasil a lista de espera é de cerca de 32 mil pessoas, enquanto no Rio Grande do Sul é de 1100.

30 mil pessoas aguardam na fila

“De janeiro a julho deste ano foram realizados 1666 transplantes no Brasil, um número ainda baixo perto das 30 mil pessoas que estão na fila. No Rio Grande do Sul, foram notificados neste período 385 casos em que se poderia fazer a doação de órgãos, mas as que se efetivaram chegaram a 144. Em Erechim, geralmente eram realizadas duas captações por ano, mas ficamos quase três anos sem doações. Neste ano, foram realizadas quatro notificações e quatro doações. Alguns pacientes haviam falado em vida que queriam ser doadores, isso é importante para ajudar a família a decidir. Informar a família o seu desejo é o melhor caminho. Não existe outra forma de ser doador, só com a autorização da família”, enalteceu Luana.

‘É tempo de recomeçar’

A programação da Semana de Doação de Órgãos, também contou com a participação de pacientes transplantados e famílias que doaram órgãos e, foi lançado o curta-metragem ‘É tempo de recomeçar’, em alusão ao Dia Nacional da Doação de Órgãos. O projeto é idealizado pelos profissionais do hospital e tem a direção do cineasta Osnei de Lima, e participação da atriz Narjara Turetta, que atuou em diversas novelas, entre elas, ‘Malu Mulher (1980), ‘Selva de Pedra’ (1986), ‘O salvador da Pátria’ (1989), ‘Salve Jorge (2012), entre outros trabalhos. O filme contou com a participação dos profissionais do próprio hospital no elenco principal.

# Ainda, de acordo com o Ministério da Saúde o Brasil tem o maior sistema público de transplantes no mundo, em 2016, 87% dos transplantes foram financiados pelo SUS, e nesta semana, fez um ano que o Governo Federal publicou o Decreto nº 8.783, que garante um avião da FAB à disposição para qualquer chamado de transporte de órgãos ou equipes. Em caso de necessidade, o Ministério da Saúde ainda pode requisitar aviões adicionais à Força Aérea Brasileira. Com isso, o Brasil bateu recorde nos transplantes de coração no ano de 2016.

Por Carla Emanuele/JBV Online

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