RABISCOS URBANOS

“É da coragem que brota a liberdade”, escreveu um poeta urbano na parada de ônibus que fica na EMEF Othelo Rosa, no Bairro Presidente Vargas. Muitas vezes nos sentimos deslocados da nossa rotina, passando os dias rastejando, só esperando que eles passem como a água de um rio, tudo parece desprazeroso e sem significado, mas, ao perceber e ler essa mensagem, ela instiga a termos coragem de enfrentar o mundo, ela grita: descubra a si mesmo, descubra como é o mundo, torne-se mais forte, não importa quantos anos levem!

Além da rotina dos muros altos, prédios cinzas e de trabalho, você percebe as escritas e desenhos nas paredes? Alguns podem pensar nesse tipo de grafismo como algo desrespeitoso, mas eu penso como um ato de rebeldia contra esse mundo cruel (no espaço público).

Você consegue ouvir o que essas pinturas, rabiscos, grafites e mensagens querem dizer? “Os constantes deslocamentos da arte para outros territórios provocam novas implicações,  principalmente  em  relação  à  legitimação  da  arte.  Nesse  sentido,  as  intervenções  dos  artistas  grafiteiros  em  espaços  urbanos”[1], assim, essa arte é marginalizada por não ser considerada aceitável, digna, clássica, que tal pensarmos mais avante?

Aqui estamos discutindo o espaço que a arte tem no nosso espaço público urbano, esta que propõe refletir, sentir ou perceber alguma coisa. Blauth e Possa (2012) vão problematizar essa questão da relação, afirmam que a arte serve para “tudo”, e que pode ser usada para perturbar  e  questionar  a sociedade.

A mesma pesquisa indica que, no mundo, o grafite já vem ganhando espaço e legitimidade como uma arte de rua, o que não deveria ser surpresa, visto que nossos ancestrais pré-históricos já deixavam suas marcas nas paredes (pintura rupestre), por que na nossa cidade os rabiscos urbanos ainda são motivos de olhares desengraçados? O que está escrito e grafitado é só um sintoma da sociedade de hoje, que quer falar.

Existe uma grande diferença entre grafismo e pichação, os pichadores competem pelos locais a serem utilizados, já os grafiteiros respeitam os espaços, tendo o objetivo de serem reconhecidos artisticamente[2], a intenção da arte também difere, visto que a pichação vem de um grupo de pessoas que pode buscar tanto uma polêmica quanto um reconhecimento, já o grafismo é um movimento artístico que se iniciou na  década  de  1970  nos  EUA em forma de “vandalismo”, que hoje (pelo contrário) é um jeito de expressar-se no espaço urbano.

Indo e voltando do Terminal de Ônibus, quando viro minha cabeça para o lado e deixo centralizado meus olhos, me deparo com a seguinte pergunta escrita na parede (feita por um grafite preto): Você sabe o que faz?

Uma boa pergunta, queria saber respondê-la. Você teria uma resposta?

Entre aspas

O que você pensa quando digo ARTE? Pois é, é muito comum as pessoas responderem orquestras, violinos, peças teatrais, pinturas belíssimas dignas do museu do Louvre… Mas esse pensamento é bastante equivocado.

Situados numa história da arte contemporânea, os dias de hoje surgem com diversas formas de arte:  A Arte Contemporânea reúne expressões e técnicas inovadoras (muito diferentes do padrão que pensamos), que geram reflexões em torno da obra: pinturas mais abstratas, sem estereótipos do que pode ser “bonito” ou “feio”.

No Brasil, temos a importante Semana da Arte Moderna que aconteceu em São Paulo em 1922, e acredite, a maioria dos juízes da arte não gostou do que viu, pois fugia muito do modelo acadêmico de que a arte precisava representar a realidade em si só e sem modificações, e lá estava Tarsila do Amaral (uma das principais artistas do movimento), representando por meio de formas geométricas e cores saturadas a diversidade do Brasil.

Kaylani Dal Medico.

Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFFS Erechim.

Bolsista do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação

kaylanidalmedico@hotmail.com

[1] BLAUTH, Lurdi; POSSA, Andrea Christine Kauer. Arte, grafite e o espaço urbano. Palíndromo, v. 4, n. 8, 2012. p. 147.

[2] idem

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