
Psiquiatra alertou para piora do quadro mental de agressor na véspera do ataque à escola de Estação, diz delegado
Agressor “não tinha motivação expressa” e entrou em colégio de maneira aleatória, conforme apurado em depoimentos
O adolescente de 16 anos que atacou a Escola Municipal Maria Nascimento Giacomazzi, em Estação, no Norte do Estado, não demonstrou arrependimento após ser apreendido e tentou tirar a própria vida após cometer o ataque, segundo o delegado da 11ª Região Policial, sediada em Erechim, José Roberto Lukaszewigz, delegacia que apoia a investigação, liderada pela DP de Getúlio Vargas, município vizinho, cujo delegado responsável é Jorge Fracaro Pierezan.
Ele confirma ter havido 10 vítimas: três crianças feridas na sala do 5º ano, outras três pessoas, sendo duas crianças e a professora no 3º ano, além de Vitor André Kungel Gambirazi, 9 anos, que acabou falecendo após ser golpeado. Mais três pessoas receberam atendimento psicológico: um aluno e sua avó, além de um rapaz que trabalha com serviços gerais no colégio.
Três celulares, do jovem, da mãe e do pai, foram apreendidos, e encaminhados ao Setor de Inteligência da Polícia Civil, em Porto Alegre, onde são periciados com prioridade máxima. “Queremos saber o que ele andou pesquisando, jogos que jogou, estas coisas, e pode ter utilizado outros aparelhos para isto”, disse o delegado, reforçando que pode haver novidades sobre o caso ainda nesta semana. Ele descartou que o jovem teria vínculos com grupos neonazistas, algo que havia sido especulado, e disse que o agressor estudava, mas não neste colégio.
“Ele entrou a esmo na escola, de maneira aleatória. Passou na frente da escola e resolveu entrar. Não tinha alvo específico, motivação prevista, não sofreu bullying e não tinha inimigos ali. Nos parece ser um fato isolado, mas estamos investigando para saber a motivação. Em princípio, estamos quase descartando a interferência de outras pessoas”, disse Lukaszewigz.
“Ele lembrava de detalhes do que fez, mas não parecia ter consciência da gravidade delas. Descrevia os atos de forma natural”. O agressor fazia tratamento psiquiátrico prolongado, tinha crises de ansiedade desde a infância e tomava medicação há um ano e meio, sendo a consulta mais recente na véspera do ataque. De acordo com os depoimentos, nesta sessão, o profissional que o acompanha teria manifestado à família que seu quadro de saúde estava a caminho de uma piora.
“Calmo e amoroso”
Descrito em depoimento como “calmo e amoroso”, o jovem não tinha antecedentes criminais. Ouvida, a mãe do agressor disse que “nunca imaginou que ele faria o que fez”, prosseguiu o delegado. O infrator ingressou na escola às 9h41min, próximo do horário do recreio, informando a uma auxiliar de serviços gerais no portão que entregaria um currículo de trabalho. Foi orientado por ela a ir à secretaria, onde foi informado que os documentos não eram recebidos ali, por se tratar de contratações via Prefeitura.
Em seguida, disse que queria usar o banheiro, descendo uma rampa. Depois, entregou na sala do 5º ano e começou o ataque. Uma das crianças teria reclamado de dor somente na madrugada seguinte. Outra menina teve uma lesão na mão e outro menino, um corte superficial. Depois, voltou à mochila para pegar uma faca, e um rapaz o atacou com uma pá. Ele entrou em seguida na sala do 3º ano, lesionando as demais pessoas, entre eles Vitor, que ficou nos fundos da sala. Neste momento, começou a soltar rojões pela escola, simulando que estivesse com uma arma de fogo.
O agressor ainda teria permanecido circulando pela escola, mas todos os demais alunos, professores e funcionários haviam fugido do local, se abrigando em casas próximas, ou se trancado em outras salas. O adolescente, então, foi contido por populares, entre eles o zelador do colégio, Luís Carlos dos Santos, que neste meio tempo havia ido aos fundos da escola gritar por socorro em uma oficina próxima, ao que um empresário ouviu e alertou os demais trabalhadores.
Detido, o agressor foi internado provisoriamente por até 45 dias, conforme determina a legislação, e durante este período, a Polícia Civil, Ministério Público e Judiciário devem concluir a instrução do caso, decidindo ou não pela continuidade da internação por até três anos na esfera criminal.
Fonte Correio do Povo