Por que o Telegram tem perdido espaço no Brasil?
Após 5 anos de crescimento consecutivo, o número de usuários do Telegram no Brasil caiu 3%. Essa medição foi feita entre agosto de 2023 e janeiro de 2024 pela pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box – Mensageria no Brasil. Paralelamente, o WhatsApp apresentou um decréscimo de popularidade de 1% e o Signal um acréscimo de 1%, instalados em respectivamente 98% e 13% dos smartphones do país, de acordo com o levantamento.
O Telegram é um aplicativo russo criado em 2013 e, apesar de muito menor do que o WhatsApp, que teve o crescimento impulsionado ao ser comprado pela gigante de tecnologia Meta (ex-Facebook), ganhou espaço com o passar dos anos por diferenciais de eficiência e segurança. Funções como criptografia de ponta a ponta, chats secretos, troca de mensagens temporárias e canais de transmissão apareceram primeiro no Telegram, embora algumas delas tenham sido também implementadas posteriormente pelo WhatsApp.
Ainda assim, das pessoas entrevistadas pela pesquisa, 18% acessam o Telegram nunca ou quase nunca, o que representa uma chance relativamente alta de desinstalar ou excluir o Telegram. Embora nenhuma brecha de segurança significativa tenha aparecido para repelir usuários, o aplicativo russo parece sofrer um revés no Brasil. Os recentes desafios à sua estabilidade podem fornecer uma interpretação para essa contração no número de usuários.
Ascensão do Telegram no Brasil
A insegurança jurídica foi um incentivo inicial para o uso do Telegram como alternativa ao WhatsApp no Brasil. Por pelo menos quatro ocasiões, decisões em juízo paralisaram os serviços do WhatsApp temporariamente. Por fazerem cessar nacionalmente e de maneira abrupta a transferência de mensagens em todo o território nacional para milhões de cidadãos, essas decisões judiciais geraram prejuízo às comunicações pessoais e comerciais, motivando a busca por serviços alternativos.
Nesse contexto, Telegram e Signal surgiram com diferenciais de segurança e privacidade, ganhando alguma penetração entre o público nacional. Outras funcionalidades, como a sincronização em múltiplos dispositivos e os canais de transmissão, deram ao Telegram uma projeção maior.
Embora jamais tenha chegado perto de desafiar a hegemonia do WhatsApp, o aplicativo russo passou de estar presente em 13% dos celulares brasileiros em janeiro de 2019 para 27% deles em 2020. No entanto, a porcentagem de consultas diárias ao aplicativo decaiu de 61% a 52% no mesmo período, reforçando a ideia de funcionar como uma alternativa de comunicação, e não um canal principal de conversas cotidianas.
Desafios à operação do Telegram
Após alguns anos de estabilidade, o Telegram teve suas operações bloqueadas temporariamente no país por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2022 e 2023. Em ambas ocasiões, a controladora do Telegram descumpriu ordens judiciais, primeiro por não suspender perfis disseminadores de informações falsas e, posteriormente, por não conceder dados pessoais de administradores de grupos de mensagens criminosos.
Atingido pela mesma fragilidade judicial que o WhatsApp e com uma interface e funcionalidades cada vez mais similares às de seu rival, o Telegram perde em competitividade na participação de mercado dos aplicativos de mensagens no Brasil.
Apesar disso, a população brasileira tem se adaptado à frequência crescente de intervenção nas operações de serviços digitais, cada vez mais fundamentais na vida comum. O uso de VPN para burlar danos colaterais do segundo bloqueio do Telegram no país é um exemplo que sinaliza a adaptação de cidadãos, partidos políticos e mídia para ultrapassar obstáculos à comunicação privada e comercial. Por outro lado, também sugere a ineficiência na aplicação das medidas judiciais.