Pesquisa da UFFS investiga qualidade da água em Erechim e alerta para presença de mercúrio

Estudo identificou altos níveis de mercúrio nas águas dos rios Ligeirinho, Leãozinho e da barragem responsável pelo abastecimento público do município

Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) revelou dados sobre a qualidade da água em Erechim. O trabalho, conduzido pela engenheira ambiental e sanitarista Inete Cleide Baú, sob orientação da professora Marília Teresinha Hartmann (UFFS) e coorientação da professora Saionara Eliane Salomoni (Uergs), identificou altos níveis de mercúrio nas águas dos rios Ligeirinho, Leãozinho e da barragem responsável pelo abastecimento público do município.

O estudo foi motivado pelo interesse pessoal da pesquisadora em avaliar a segurança da água consumida pelas famílias da região. “Desde a infância, sempre me questionei sobre a qualidade da água que utilizávamos na propriedade da minha família. Durante a graduação, iniciei esse estudo e, no mestrado, pude aprofundá-lo, investigando a água dos rios e da barragem de Erechim”, explica Inete.

As coletas de amostras foram realizadas mensalmente em três pontos de cada rio e em dois pontos da barragem, abrangendo desde a nascente até o ponto de mistura das águas. Além da presença de mercúrio, a análise revelou altos níveis de coliformes termotolerantes e nitrogênio amoniacal, indicando contaminação por matéria orgânica e possível interferência de atividades agrícolas e despejos de efluentes.

(Registro de uma das coletas realizadas (Créditos: Acervo pessoal)

A presença do mercúrio nos três corpos hídricos analisados surpreendeu a pesquisadora, uma vez que o entorno da região estudada não apresenta indústrias ou fontes evidentes de contaminação. “A hipótese mais provável é que essa contaminação seja resultado do uso de agrotóxicos contendo mercúrio, o que é preocupante devido ao seu potencial de bioacumulação na cadeia alimentar”, alerta Inete. O mercúrio pode afetar não apenas o ecossistema, mas também a saúde humana, causando danos neurológicos e outros problemas de saúde a longo prazo.

A realização da pesquisa enfrentou desafios logísticos, como o acesso aos pontos de coleta e a variação climática. “Tivemos dificuldades com trilhas de difícil acesso e a necessidade de planejamento rigoroso, pois a chuva poderia inviabilizar algumas análises”, relata a pesquisadora. Acadêmicos dos cursos de Ciências Biológicas e Engenharia Ambiental e Sanitária auxiliaram na coleta e análise dos dados. Outro desafio destacado por Inete foi o de garantir a integridade das amostras, evitando contaminação cruzada durante o transporte e a análise laboratorial.

Os resultados do estudo fornecem subsídios importantes para a gestão e o tratamento da água em Erechim. “Compreender como os fatores ambientais influenciam a qualidade da água permite que sejam tomadas medidas preventivas, como a proteção das matas ciliares e a adoção de práticas sustentáveis na agricultura”, afirma Inete.

A pesquisadora destaca a relevância de iniciativas como o Programa Municipal de Conservação de Recursos Hídricos e o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), criado pela Lei Nº 7.086/2022, que incentiva a preservação das fontes de água.

Atualmente, o tratamento da água em Erechim segue o modelo convencional. No entanto, a pesquisadora aponta que tecnologias avançadas poderiam aprimorar a qualidade da água distribuída à população. “O uso de carvão ativado, membranas de ultrafiltração, osmose reversa e ozonização poderia melhorar a remoção de contaminantes, embora essas soluções tenham custos elevados”, explica.

A pesquisa reforça a importância de ações conjuntas entre poder público, instituições acadêmicas e setor privado para garantir a segurança hídrica e a preservação dos recursos naturais. “A melhor estratégia para melhorar a qualidade da água é investir na conservação ambiental, com proteção de matas ciliares e redução do uso de químicos na agricultura”, conclui Inete.

A dissertação está disponível no Repositório Digital da UFFS: https://rd.uffs.edu.br/handle/prefix/8157.

 

Por: Wagner Lenhardt Jornalista Assessoria de Comunicação (Ascom)

Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim

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