Pesquisa da UFFS destaca efeitos do cercamento na restauração de matas ciliares

Estudo desenvolvido no Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental foi publicado em revista internacional e faz ressalvas sobre a plantação de árvores nativas

Para restaurar florestas no Sul do Brasil, faz diferença plantar mudas de árvores nativas? Não necessariamente. Esta foi uma das conclusões de um estudo publicado na revista Restoration Ecology (https://doi.org/10.1111/rec.13356), desenvolvido por Marília C. Inhamus no Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) Campus Erechim. Sob orientação do professor Geraldo Ceni Coelho, a pesquisa tem a colaboração do professor Renan S. Rezende (Unochapecó), e sugere que o plantio árvores não é o fator mais importante para a recuperação das matas, e pode até gerar uma floresta menos diversificada.

O estudo foi conduzido em matas ciliares do município de Erechim-RS, restauradas por meio de iniciativas como o projeto Recuperando e Preservando as Fontes de Vida e o projeto CALELI (a sigla se refere aos rios do município: Campo, Leãozinho e Ligeirinho). Para melhorar a proteção das nascentes e das matas destes rios, que são os principais abastecedores de água do município, foram feitas ações de cercamento para a proteção das margens, além de plantio de mudas e atividades de educação ambiental.

Os pesquisadores compararam matas ciliares recuperadas há oito anos a partir do cercamento, para evitar a entrada de animais. Essas áreas foram divididas em dois grupos: um grupo com plantio de mudas e um grupo apenas com a instalação de cercas de proteção. Mesmo com o cercamento, em metade das áreas de ambos os grupos foi observada a presença de gado – o que não deveria ocorrer. Este cenário permitiu aos pesquisadores avaliarem, ao mesmo tempo, a influência do gado e do plantio de mudas.

O que se percebeu é que nas áreas onde as mudas não foram plantadas, a diversidade de plantas foi maior: quase o dobro considerando as plantas jovens, ou seja, nas mudas que se estabeleceram no local por conta da natureza após o cercamento. Outro dado da pesquisa é que as plantas mais frágeis, típicas de florestas maduras (também chamadas espécies climácicas), se encontravam bastante reduzidas em decorrência da presença do gado.

Os resultados do estudo demonstram a importância do cercamento das matas e sua manutenção, além do apoio que deve ser oferecido aos produtores rurais para que as restaurações sejam mais efetivas. Assim, o custo aplicado em insumos para o plantio de mudas pode ser redirecionado para atividades de apoio aos produtores, e também para o cercamento.

As descobertas da pesquisa, porém, não podem ser generalizadas, conforme aponta um dos pesquisadores.

– O resultado deve ser interpretado com cautela, visto que a diversidade nas áreas restauradas foi proporcional à cobertura de mata nativa remanescente no entorno. Observamos uma cobertura de vegetação nativa remanescente de quase 11% nos arredores das áreas restauradas, em média. Para obter essa medida, foi considerado um raio de 500 metros ao redor das matas ciliares restauradas. Isto indica a importância dos pequenos capões de mato como fonte de sementes para a recuperação de áreas próximas. É possível que áreas com cobertura de mata nativa menores em seu entorno possam necessitar ações complementares, até mesmo o plantio de mudas – alerta o professor Geraldo Ceni Coelho.

Os pesquisadores destacam que as matas ciliares são florestas que acompanham a borda dos rios e córregos. Ecologicamente, exercem funções muito importantes: além, de proteger as águas de poluentes, elas são corredores ecológicos, ou seja, interligam remanescentes de vegetação silvestre, sendo vias de deslocamento de animais, permitindo, assim, que populações se mantenham viáveis, e não isoladas.

A região Sul do Brasil tem a predominância da Mata Atlântica, que foi bastante reduzida em função das atividades humanas. Com isto, boa parte das matas ciliares foram perdidas. O custo de recuperar as matas ciliares pode ser bastante alto, incluindo as mudas de árvores nativas, procedimento que é bastante comum.

Assessoria de Comunicação

Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Erechim
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