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Ortopedistas gaúchos realizam cirurgia robótica de coluna vertebral inovadora em Porto Alegre

Médicos José Maria Alves Neto e Lucas Sangoi Alves realizaram um procedimento com o robô Mazor na terça-feira (23) e outro nesta quarta (24), no Hospital Mãe de Deus. Foi a estreia da tecnologia que oferece maior precisão para a colocação de pinos e uma recuperação mais rápida para os pacientes no sul do Brasil.

Um procedimento minimamente invasivo, que oferece mais precisão na colocação de pinos, rápida recuperação e uma vida sem dor aos pacientes. Assim pode ser definida a cirurgia robótica de coluna vertebral realizada na terça-feira (23) pelos ortopedistas José Maria Alves Neto e Lucas Sangoi Alves, no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre. A operação marcou a estreia do robô Mazor no sul do Brasil — a tecnologia começou a ser utilizada no país há cerca de três meses.

Desenvolvida pela empresa Medtronic, a plataforma foi usada no Brasil pela primeira vez em uma cirurgia de coluna realizada no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, em abril deste ano. Em junho, também foi utilizada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (HCFMRP-USP). Nos Estados Unidos, contudo, o equipamento faz parte dos procedimentos há mais de cinco anos.

Médico ortopedista do Hospital Mãe de Deus, José Maria explica que ele e o filho, Lucas, começaram a fazer a certificação para cirurgia robótica de coluna nos Estados Unidos há dois anos. Nessa época, o robô ainda não existia no Brasil — a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) só saiu recentemente, conforme o especialista.

— Hoje, esse robô existe no Einstein, na USP e aqui. No Rio Grande do Sul, é o único. Ele é específico para artrodese, que é uma cirurgia para a estabilização da coluna lombo-sacra. Antes do robô, era feito com neuronavegador, que é uma aparelhagem usada para o cérebro e tem um instrumento para usar na coluna também — comenta José Maria Alves Neto.

Lucas acrescenta que as artrodeses são indicadas quando o paciente tem uma instabilidade, um desgaste no disco que fica entre as vértebras e, por isso, sente dores na lombar. Esses procedimentos costumavam ser feitos com cirurgia aberta, com um corte no meio das costas do paciente e abertura da musculatura para chegar na coluna e conseguir colocar os parafusos para estabilizar:

— Com o robô, vamos fazer essa cirurgia sem precisar abrir. Existe um software dentro do robô, que faz todo o planejamento da cirurgia antes. Conseguimos ver o lugar do parafuso, o tamanho, a grossura, tudo certinho antes. Na hora da cirurgia, o robô vai nos dizer a localização dos parafusos.

Diferentemente de outros procedimentos que utilizam robôs, em que o médico apenas comanda a máquina que faz a cirurgia, nas artrodeses são os especialistas que realizam os cortes e colocação de pinos, enquanto o equipamento apenas indica a localização exata dos parafusos. A programação da plataforma é feita a partir de uma tomografia computadorizada da coluna lombar.

— Nós fazemos um furinho na pele, colocamos o parafuso, tiramos o robô e costuramos a pele — sintetiza o filho.

 

Recuperação

Entre as principais vantagens do uso do robô, os ortopedistas citam a precisão, que oferece redução do risco neurológico, a rapidez da recuperação e a ausência de corte na musculatura — apenas a pele terá de ser costurada.

— Com o navegador, o paciente fica quatro dias internado. Com o robô, faz a cirurgia de manhã e vai embora de tarde ou no outro dia. Porque nós vamos fazer o que chamamos de percutâneo. A chance de erro do robô é 0,01%. Ele nos dá a certeza de que não vai haver lesão e de que estamos no lugar certo — destaca José Maria.

Diagnosticado com uma discopatia avançada, Felipe Simoni, 43 anos, foi operado pelos médicos na manhã desta quarta-feira (24). De acordo com Lucas, foram escolhidos casos considerados mais simples para realizar as primeiras cirurgias. Simoni, que é policial civil, tem apenas um disco gasto, então, é um procedimento simples e rápido.

O especialista explica que a discopatia é multifatorial e provoca muita dor. Felipe já passou por outros tratamentos conservadores e por um procedimento de bloqueio da dor, que não tiveram resultado positivo. Praticante de esportes como surfe e jiu-jitsu, o paciente vinha perdendo qualidade de vida, em função das frequentes crises de dor.

— Tenho um amigo que fez a mesma cirurgia, mas a comum, e eu achei um pouco invasiva. Mas como tive essa oportunidade de fazer a robótica, eu aceitei, porque estava perdendo muita qualidade de vida. Sempre fui um cara que praticou esportes, mas fui perdendo isso aos poucos. Sinto incômodo todos os dias e, quando dá crise de dor, não consigo nem amarrar os tênis — relata o policial.

A expectativa é de que, após a cirurgia, Felipe tenha uma vida 100% normal. José Maria ressalta que o policial poderá voltar a praticar os esportes que tanto gosta.

 

Futuro

Até o final deste mês, os ortopedistas têm marcadas mais sete desta cirurgia. José Maria comenta que todos os pacientes e funcionários estão empolgados.

— É uma inovação que vamos trazer, não só para agora, mas para o futuro. Nos Estados Unidos, não se faz mais cirurgia aberta. É isso que queremos trazer para cá e a nossa ideia é abrir, não vai ser um robô nosso. Queremos fazer um centro de cirurgia robótica para que todos os cirurgiões venham para cá e consigam operar com essa plataforma — enfatiza Lucas.

 

Marco no setor de saúde em Porto Alegre

Leonardo Morelli, diretor executivo do Hospital Mãe de Deus, considera que as cirurgias desta terça-feira são um marco para a instituição e para o setor da saúde em Porto Alegre, já que muitas pessoas poderão ser beneficiadas com esse procedimento. O representante da instituição aponta ainda que já há um mapeamento de 300 médicos que podem se beneficiar do treinamento com o robô, o que é muito importante para a expansão do conhecimento.

— Já temos cirurgias robóticas muito bem estabelecidas e, agora, temos o robô para cirurgias de coluna, que melhoram a questão da recuperação do paciente. Então, isso vem para beneficiar o paciente de uma forma bastante importante. O robô é um marco superimportante para o hospital do ponto de vista de podermos oferecer isso para a população gaúcha — afirma.

Por GZH

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