Por Enori Chiaparini
Cada época histórica carrega seus tabus, preconceitos e mistérios.
Há pouco mais de 50 anos nossa região cultivava ritos que aos poucos foram abandonados e substituídos por outras práticas. Como eram saudáveis os filós, as surpresas, as cantorias, as serenata, os brodos…
Minha avó paterna, enfrentava a noite escura e andava cerca de dois quilômetros com uma lanterna para nos fazer uma visita (surpresa). Não deixava transparecer medo. Carregava cuidadosamente um pote, com rapadurinhas para os netos. Minha irmã e eu esperávamos por esse momento mágico com intenso contentamento e ansiedade incontida.
Na semana seguinte, repetia a dose na casa de meus primos. Experimentávamos a felicidade de maneira simples, marcante, profunda e inesquecível.
Nos momentos ‘menos bons’, quando morria um coleguinha, a professora nos levava em fila indiana, com grande respeito e compaixão para o rito das exéquias, num silêncio comovente.
Em 196l, na localidade de Balisa, nasceu um menino (meu primo), de nome Carlos. Nasceu e logo se despediu desse mundo, alguns minutos depois… Minha mãe e eu (com 6 aninhos), participamos dos ritos costumeiros do velório. No momento do sepultamento, lembro-me que à beira do pequeno túmulo uma freira vestida de branco colocou sobre o corpo do pequeno Carlos uma dezena de santinhos, um mais lindo do que o outro… no mais profundo e condoído silêncio…
Nunca mais esqueci daquele anjinho e do enigmático momento…