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Mães inteligentes vivem melhor

“Toda mulher que seduzir um homem para que ele se case com ela, utilizando-se de sapatos de salto alto, sofrerá as penas de bruxaria.” Esta Lei inglesa do século XV demonstra bem o que alguns chamam de sinais dos tempos. E assim, no andar da carruagem a humanidade tem evoluído. E no seio da humanidade evoluiu ainda mais o gênero feminino.
Entre versos e reversos, nessa infindável jornada que é a existência, talvez um dos maiores solavancos, dos mais abruptos e recentes, com conseqüências até agora palpáveis, tenha acontecido em meados do século passado. Foi protagonizado, entre outras, por Betty Friedan, a feminista que estremeceu a América, e Simone Beauvoir, com a obra – por muito tempo o livro sagrado do sexo frágil –, “O segundo sexo”.
Ao tempo em que muitos sessentões (como este que vos escreve) e cinqüentonas da atualidade estavam na universidade, no final dos anos 1970 e início dos 1980, predominava a ideia que homens e mulheres fossem idênticos. Tal assertiva consolidava a referida doutrina. Por princípios inabaláveis deveriam os – homens e mulheres – fazer as mesmas coisas, galgar os mesmos postos, disputar as mesmas oportunidades – inclusive a tapas, se necessário – e trabalhar com semelhante afinco, dedicação e quantidade de horas.
Tal conjugação de fatos e fatores levaram por um período de quase meio século as mulheres a procura dos melhores empregos, com salários melhores ainda, mas que, de modo indefectível, por óbvio, as afastavam dos filhos, contribuindo a incontestável infelicidade.
Hoje, na prática, o movimento feminista, graças aos bons deuses e deusas, encontra-se completamente ultrapassado. Porém, na sua essência talvez tenha deixado algo de bom, ao oferecer liberdade de escolha às damas. Mas por certo errou feio e longe ao afirmar que todas as distinções entre machos e fêmeas se resumem as diferenças socialmente estabelecidas.
Assim, o maior mérito do feminismo limita-se a conta de um novo olhar lançado sobre as distinções entre os gêneros e nada mais do que isso. Restringe-se, portanto, tão somente a uma rápida digressão de rota sem maiores conseqüências ou acasos.
Por outra, se torna notório que a maioria das mulheres gosta (e sempre gostou) de trabalhos como assistência social, pedagogia e profissões ligadas a saúde. Também é igualmente notório que os salários nessas áreas são quase sempre menores, quando não acintosos ou vexatórios.
Certamente razões culturais e fisiológicas contribuem para essa imensa diferença, calcada principalmente na dificuldade da reivindicação por parte das senhoras; elas – invariavelmente – preferem o reconhecimento espontâneo às suas virtudes e feitos, ao invés de se exibirem e cobrarem, como fazem os inconvenientes pavões masculinos.
Para piorar as coisas, persiste em pleno século vinte um, entre certos setores e empresas, a expectativa que mulheres devam voltar a trabalhar normalmente quando seus rebentos estiverem ainda na mais tenra infância. E mais: sem que se sintam mal por isso.
Certamente, se elas tivessem liberdade de escolha, optariam por trabalhar menos enquanto suas crias fossem pequenas.
As graves angustias que as mães passam por atender tais exigências do mercado tem razões biológicas facilmente explicáveis e são dignas do mais profundo respeito, admiração e apoio.
Antes que alguém conteste, é bom que se frise: não se trata apenas de cuidar da criança ou de mera questão de proteção, mas primordialmente de desfrutar de uma vida mais prudente, e adequada à plenitude da maternidade e inerente a saudável preservação da espécie.
Hoje, no entanto, com os avanços da ciência que envolve desde o conhecimento das ações hormonais ao genoma, as mulheres mais bem informadas passaram a aceitar perfeitamente as diferenças biológicas naturais entre elas e os homens. As que assim entendem, praticam a experiência plena da feminilidade e se sentem muito menos isoladas com seus sentimentos. Vivem muito melhor, de forma mais harmônica e aceitável.
Arrisco ainda a dizer que em tese, todos concordam que uma das soluções para esse indigesto problema social e existencial passa pela melhor remuneração das mulheres pelos trabalhos que efetivamente preferem executar. Alívio na carga de serviços e redução no turno de trabalho, como já acontece na Holanda e em outros países desenvolvidos. Certamente com estas medidas ajudariam na superação do impasse. Vamos a um exemplo em bem simples: remunerar melhor as professoras.
E, como já dito, tudo na vida passa e evolui. Por bem ou mal, mesmo com solavancos e bruxarias, a carruagem nunca para.
Eu, particularmente, sou grato aos novos tempos. Tempos estes de mulheres inteligentes, bem resolvidas e equilibradas. Destas que usam salto alto, seduzem seus maridos e são mães maravilhosas; que fazem da – até pouco tempo amaldiçoada – cozinha um local de encontro, alegria e confraternização. Essas musas modernas, despidas de preconceitos e ranços passados, são mães lindas, alegres, criativas e sabem encontrar na família a sua bíblica missão de vida, sem qualquer frustração ou pejo. Viva as mulheres inteligentes. Viva este mundo mais livre e melhor para todos.

 

Dr. Alcides Mandelli Stumpf – Médico

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